Não bastassem os graves efeitos da pandemia que prometem colocar o País numa situação de profunda depressão econômica, segundo avaliam economistas e especialistas em mercado, o Brasil ainda precisa enfrentar uma outra situação que se traduz em risco para as exportações de commodities – soja, milho, algodão, carnes – e no cancelamento de investimentos estrangeiros por parte de fundos internacionais, governos ou empresas privadas: a questão do desmatamento ilegal na Amazônia
Nesta quinta, 9, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, que coordena a Verde Brasil 2, uma operação militar de combate às queimadas e ao desmatamento ilegal nos estados que abrigam a floresta amazônica, caso de Mato Grosso, reuniu-se com investidores internacionais, representantes de fundos estrangeiros que costumam financiar projetos de preservação no Brasil e que suspenderam recursos em razão do aumento da destruição da floresta durante o governo Jair Bolsonaro.
"Eles querem ver resultados e os resultados que podemos apresentar é que haja redução do desmatamento", afirmou Mourão, segundo informa o Estadão Conteúdo. "A ideia é que até 2022, dentro do governo do presidente Jair Bolsonaro, vamos pouco a pouco arrinconando esses que cometem ilegalidades para chegar a um número de desmatamento aceitável", completou.
Para ambientalistas, investidores e para o mercado internacional não existe “um número aceitável” de desmatamento ilegal. O Brasil e Mato Grosso vem se comprometendo há anos com o desmatamento ilegal zero sem atingir tal objetivo. Daí a desconfiança internacional e a conclusão de Mourão de que é preciso “resultados”.
De acordo com o Estadão Conteúdo, Mourão ressaltou que o Brasil tem 84% da Floresta Amazônica preservada e não precisa derrubar "nem uma árvore a mais".
De acordo com o vice-presidente, foram retomadas conversas com dois grandes doadores do Fundo Amazônia, Noruega e Alemanha, e o Brasil aguarda uma resposta em relação às ações apresentadas para combate ao desmatamento.
"Uma vez que consigamos apresentar dados consistentes, os recursos serão novamente abertos a projetos para a Amazônia. Não há prazo, mas nossa visão é que, conseguindo apresentar no segundo semestre um resultado positivo em relação às queimadas, podemos dizer que estamos cumprindo nossa parte, agora podem cumprir a de vocês", acrescentou.
A reunião com investidores estrangeiros, informa o Estadão Conteúdo, foi para tentar convencê-los de o governo tem atuado para reduzir o desmatamento na região da Amazônia Legal. Como mostrou o Broadcast/Estadão, a ideia é propor que a iniciativa privada invista financeiramente na preservação ambiental no Brasil.
Em nota sobre a reunião, distribuída à imprensa, a Vice-Presidência da República disse que os investidores foram informados que o governo "está negociando acordos comerciais de última geração com vários parceiros - entre eles UE, EFTA e Canadá - que reafirmam os compromissos internacionais do Brasil em termos de desenvolvimento sustentável e respeito aos direitos humanos, incluindo os das populações indígenas".
O governo também disse aos investidores que o ingresso do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), "uma vez efetivado, implicará a adesão do Brasil aos padrões ambientais daquela Organização".
O problema é que entre o discurso do governo e as ações do presidente Jair Bolsonaro existem conflitos e contradições que fomentam a desconfiança internacional. Por exemplo, na última quarta, 8, um dia antes da reunião com os representantes dos fundos estrangeiros, Bolsonaro vetou obrigatoriedade de fornecer água potável, alimentação, material de higiene e desinfecção, além de leitos emergenciais para povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais, conforme aprovado pelo Congresso Nacional.
Com Estadão Conteúdo.