AMBIENTE INTEIRO Quinta-feira, 16 de Julho de 2020, 12:41 - A | A

Quinta-feira, 16 de Julho de 2020, 12h:41 - A | A

ANA FLÁVIA TREVIZAN

Quanto racismo

Ana Flávia Trevizan

[email protected]

Advogada ambiental, especialista em Direito e Processo Civil, mestre de Direito Agroambiental e doutoranda em Alterações Climáticas e Políticas de Desenvolvimento Sustentável

Bandeiras antirracismo têm sido erguidas com o falecimento de George Floyd. É um tema de impacto internacional que há muito vem sendo discutido. Com a implementação de direitos humanos e políticas protecionistas, como a criminalização, por exemplo, tais condutas racistas são combatidas. No aspecto social estamos evoluindo, seja por meio de manifestações e conscientização coletiva, seja por meio da punição estatal (ainda que contestadas).

Vozes ecoam contra o racismo social, enquanto impera o silêncio no racismo ambiental. Se lembram do episódio onde casas eram construídas acima de aterros sanitários? Episódios como esse ocorrem em larga escala, onde a população mais vulnerável é exposta a problemas ambientais como poluição do solo, águas, lixos tóxicos. A ideia em migrar empresas poluentes para os países menos desenvolvidos ficou registrada no Memorando Summers do Banco Mundial, em 1991. Ou seja, o Banco que deveria incentivar a igualdade e promover ações de incentivo para as empresas mais limpas, fez exatamente o oposto, incentivando as empresas poluentes a migrarem para os países mais vulneráveis, acirrando a desigualdade e o racismo ambiental.

O racismo ambiental não ocorre só na esfera internacional. Mesmos os países que classificamos como desenvolvidos enfrentam sérios problemas com a poluição em comunidades afrodescendentes, latinas e indígenas, no qual 36 áreas indígenas foram alvo de aterros e incineradores.

No Brasil, os acidentes na indústria petrolífera e química, a contaminação de rios, doenças e óbitos promovidos pelo uso de agrotóxicos, a expulsão das comunidades tradicionais para construção de barragens e mineradoras, o crescimento de comunidades em morros de dejetos são elementos que, quando somados, configuram a injustiça ambiental neste país.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde 7 milhões de pessoas morrem pela poluição do ar e, em 2016, 600 mil crianças morreram, das quais 90% da África e da Índia, zonas marginalizadas em termos sociais e ambientais. O racismo ambiental faz vítimas todos os dias e os vulneráveis são os que mais sofrem, por serem, a maior parte do tempo, invisíveis à sociedade e não serem ouvidos em suas queixas.

Somando dois fatores de invisibilidade como a questão ambiental e os grupos vulneráveis, temos a injustiça ambiental. Com políticas públicas voltadas para esse segmento, podemos amenizar o problema. De igual modo a política de financiamento dos bancos pode ser aliada na resolução desse quadro, ao possibilitar programas de financiamento para empresas limpas e socialmente responsáveis. Ao cidadão cabe ter a consciência do racismo ambiental de modo a enfrentar as mazelas sociais por meio de manifestações, denúncias, ações judiciais e outros meios que possibilitem escutar as vozes caladas pela injustiça da desigualdade.



Comente esta notícia

Nossa República é editado pela Newspaper Reporter Comunicação Eireli Ltda, com sede fiscal
na Av. F, 344, Sala 301, Jardim Aclimação, Cuiabá. Distribuição de Conteúdo: Cuiabá, Chapada dos Guimarães, Campo Verde, Nova Brasilândia e Primavera do Leste, CEP 78050-242

Redação: Avenida Rio da Casca, 525, Bom Clima, Chapada dos Guimarães (MT) Comercial: Av. Historiador Rubens de Mendonça, nº 2000, 12º andar, sala 1206, Centro Empresarial Cuiabá

[email protected]/[email protected]

icon-facebook-red.png icon-youtube-red.png icon-instagram-red.png icon-twitter-white.png