Bandeiras antirracismo têm sido erguidas com o falecimento de George Floyd. É um tema de impacto internacional que há muito vem sendo discutido. Com a implementação de direitos humanos e políticas protecionistas, como a criminalização, por exemplo, tais condutas racistas são combatidas. No aspecto social estamos evoluindo, seja por meio de manifestações e conscientização coletiva, seja por meio da punição estatal (ainda que contestadas).
Vozes ecoam contra o racismo social, enquanto impera o silêncio no racismo ambiental. Se lembram do episódio onde casas eram construídas acima de aterros sanitários? Episódios como esse ocorrem em larga escala, onde a população mais vulnerável é exposta a problemas ambientais como poluição do solo, águas, lixos tóxicos. A ideia em migrar empresas poluentes para os países menos desenvolvidos ficou registrada no Memorando Summers do Banco Mundial, em 1991. Ou seja, o Banco que deveria incentivar a igualdade e promover ações de incentivo para as empresas mais limpas, fez exatamente o oposto, incentivando as empresas poluentes a migrarem para os países mais vulneráveis, acirrando a desigualdade e o racismo ambiental.
O racismo ambiental não ocorre só na esfera internacional. Mesmos os países que classificamos como desenvolvidos enfrentam sérios problemas com a poluição em comunidades afrodescendentes, latinas e indígenas, no qual 36 áreas indígenas foram alvo de aterros e incineradores.
No Brasil, os acidentes na indústria petrolífera e química, a contaminação de rios, doenças e óbitos promovidos pelo uso de agrotóxicos, a expulsão das comunidades tradicionais para construção de barragens e mineradoras, o crescimento de comunidades em morros de dejetos são elementos que, quando somados, configuram a injustiça ambiental neste país.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde 7 milhões de pessoas morrem pela poluição do ar e, em 2016, 600 mil crianças morreram, das quais 90% da África e da Índia, zonas marginalizadas em termos sociais e ambientais. O racismo ambiental faz vítimas todos os dias e os vulneráveis são os que mais sofrem, por serem, a maior parte do tempo, invisíveis à sociedade e não serem ouvidos em suas queixas.
Somando dois fatores de invisibilidade como a questão ambiental e os grupos vulneráveis, temos a injustiça ambiental. Com políticas públicas voltadas para esse segmento, podemos amenizar o problema. De igual modo a política de financiamento dos bancos pode ser aliada na resolução desse quadro, ao possibilitar programas de financiamento para empresas limpas e socialmente responsáveis. Ao cidadão cabe ter a consciência do racismo ambiental de modo a enfrentar as mazelas sociais por meio de manifestações, denúncias, ações judiciais e outros meios que possibilitem escutar as vozes caladas pela injustiça da desigualdade.