O primeiro dia de agosto é o Dia Mundial da Amamentação. A data foi criada em 1992 pela Aliança Mundial de Ação pró-amamentação (World Alliance for Breasfeeding Acion) com o objetivo de promover o aleitamento materno e a criação de bancos de leite. A data é comemorada dentro da Semana Mundial de Aleitamento Materno, que acontece simultaneamente em 120 países entre os dias 1 e 07 de agosto.
Apesar de ser um ato extremo de amor e ligação entre mãe e filho, amamentar pode ser algo complicado, difícil e até mesmo doloroso para muitas mães. Soma-se a isso as cobranças da sociedade pelo aleitamento exclusivo até, pelo menos, seis meses de idade do bebê.
Para a psicóloga perinatal Fabiane Espindola de Assis existe uma cobrança social que começa antes mesmo do nascimento da criança, ainda na gestação. “Isso acaba gerando medo, insegurança e muitas dúvidas na mulher e, no aleitamento, a tranquilidade e a serenidade são fundamentais. Quando o processo inicia já tem muito medo instalado, acaba dificultando um pouco inclusive a descida do leite. O relaxamento é importante nesse processo”.
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A amamentação é o ato mais forte da mulher com o bebê, o reconhecimento daquela criança como sendo sua e faz parte de um momento extremamente delicado na vida da mulher posterior a outros dois momentos importantes que são a gestação e o parto.
O puerpério, período do qual o aleitamento materno faz parte, é um momento extremamente delicado na vida da mulher e também um período potencial de crises. As duas primeiras semanas, chamadas de baby blues, são geralmente marcadas por crises de choro, tristeza repentina e oscilações de humor causadas pelas alterações hormonais. Esses sintomas costumam durar cerca de 45 dias. O puerpério tem duração média de dois anos e engloba as fases iniciais de crescimento da criança.
“Há outras questões como a organização da casa e outras tarefas que podem ser desgastantes e frustrantes para a mulher, especialmente por conta do cansaço comum à chegada de um bebê”, observa Fabiane.
Entre os diversos suportes para mães no puerpério estão as consultoras de amamentação que podem ser consultadas antes mesmo do nascimento do bebê. Para psicóloga, a partir do momento em que a mulher se informa de maneira correta, ela se sente mais tranquila.
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“Se a mulher espera muitos dias para buscar ajuda para um determinado problema ou dificuldade, isso pode trazer consequências ruins como dor e sofrimento. Quanto antes a mulher buscar um profissional, melhor”.
Fabiane cita ainda o acompanhamento psicológico, um suporte do qual a mulher também pode lançar mão antes do nascimento do bebê. Há o acompanhamento em grupos de gestantes, com o compartilhar de informações e experiências, ou de forma individual no consultório.
“Essa é uma preparação para todas essas mudanças que vão acontecer na vida da mulher e de todos ao seu redor. Ela pode estar mais preparada emocional e psiquicamente para o que está por vir. É ainda uma maneira de conhecer seus próprios limites e possibilidades e quais as formas de lidar com as questões conforme elas forem surgindo”, frisa a psicóloga. “Quando ela consegue identificar essas questões e encontra alternativas para lidar com elas, tudo fica mais fácil. Não existe maternidade perfeita, a sociedade é quem prega uma imagem cultural. A maternidade precisa ser construída dentro de uma realidade. Existe expectativa, mas é preciso ter bom senso e equilíbrio”.
Uma rede de apoio formada por familiares, amigos e todos os que estiverem mais próximos da mulher também é citada pela psicóloga como positiva no puerpério. O objetivo é ajudar no acolhimento dessa mãe no momento em que ela está bastante vulnerável.
“A rede de apoio é quando todas as pessoas em torno da mulher estão informadas e atentas para poder ajudar quando necessário. Devem estar cientes das possibilidades e também dos limites para que respeitem a opinião e os desejos da mulher e possam agir na hora certa”, diz Fabiane. “Há mães que não querem amamentar, por exemplo, e é preciso respeitar essa posição também. Assim como há mães que desejam fazer o aleitamento exclusivo”, complementa.
O importante, segundo a psicóloga, é que a mulher se sinta apoiada e acolhida ao longo de todo o puerpério. Segundo a psicóloga, readaptar nunca é fácil, exige cuidado e paciência e a espera é fundamental porque faz parte de um processo de transformação com outros reconhecimentos.
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“As prioridades mudam, os hábitos mudam mas deve-se olhar essas mudanças com acolhimento. A mulher já está em um processo onde há muito acontecendo”, pontua a especialista.
A romantização da maternidade, muito comum na mídia e, hoje em dia, também nas redes sociais, traz impactos negativos na vida de mulheres que passam pelo puerpério. Soma-se a isso a falta de suporte por parte de muitas empresas e empregadores.
“Falta o reconhecimento de que a mulher precisa de espaço para amamentação, precisa sair da empresa para acompanhar o filho caso seja necessário”, enfatiza Fabiane. “Isso não contribui em nada quando a mulher já tem a sensação de que dá conta de tudo. Nessa hora, autoconhecimento e respeito aos próprios limites é importante. A mãe leoa também pode pedir ajuda quando precisar”.
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