Corredores barulhentos e salas de aula cheias deixaram de ser uma realidade em março deste ano quando a pandemia de Covid-19 chegou ao Brasil e foi decretada a quarentena, com o fechamento obrigatório das instituições de ensino de todos os níveis. Com as portas fechadas, as escolas particulares viram a renda cair drasticamente. Segundo a Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), cerca de 10% das escolas de educação infantil particulares já fecharam as portas no Brasil e unidades que atendem crianças de 0 a 5 anos já perderam 50% dos alunos. O país tem 32,8 mil escolas privadas de educação infantil, segundo dados do Censo Escolar de 2018. O cenário é mais grave nas instituições para crianças menores, de 0 a 3 anos, e naquelas de periferia, de acordo com a entidade.
Em Mato Grosso o cenário não é diferente e muitas escolas já encerraram as atividades de maneira definitiva por conta da falta de estudantes e, consequentemente, de receita. As estimativas apontam para uma evasão de alunos em cerca de 39,2% e inadimplência das mensalidades em 44%, de acordo com o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino de Mato Grosso (Sinepe). Com isso, 25 unidades escolares fecharam as portas definitivamente, sendo dez no interior e 15 na região metropolitana conforme o sindicato. Sem alunos e sem renda, a alternativa é cortar gastos, o que fez com que a taxa de demissão do setor chegasse a 8,6%.
As instituições mais afetadas são as de educação infantil. Pela legislação brasileira, até os 4 anos de idade não é obrigatório estar matriculado. Além disso, estas escolas são as que enfrentam mais dificuldades de manter aulas online, com crianças tão pequenas. É comum que os pais cancelem os contratos até que a escola possa voltar a funcionar no modelo presencial, segundo a Fenep.
É o caso da escola Jardim Quaraçá, em Cuiabá, que atende crianças até os 6 anos. Segundo a proprietária, Adriana Lopes Sampaio Santos, já no início da pandemia algumas famílias cancelaram as matrículas porque havia pessoas do grupo de risco em casa.
“Logo no início de maio, mesmo com o desconto concedido, houve cancelamento. Já no final de maio o cancelamento passou de 50% da nossa base de alunos”, conta. “Com o afastamento dos professores pelo governo e a incerteza de voltar as aulas, resolvemos que nosso desconto seria maior ainda para que assim as famílias pudessem contribuir para a manutenção de nossa escola”, acrescenta. A instituição existe há 10 anos e conta com 9 funcionários.
Por atender crianças da educação infantil, o ensino à distância não é uma opção. “Não acreditamos que, para elas, seja saudável usarmos sistema de aulas virtuais”, informa a proprietária. A alternativa para que os pequenos não ficassem sem o acolhimento da escola tem sido o envio semanal de kits pedagógicos no sistema drive thru.
“Temos feito brinquedos pedagógicos e camisetas para completar na manutenção da escola. Realizamos a venda de pães e bolos para complementar o salário das professoras e assim tentamos manter nossa equipe unida, que está junta há muito tempo”.
A motivação e a união da equipe, imprescindíveis nestes tempos de isolamento social, é possibilitada por meio de encontros virtuais de estudos com as professoras. “Estamos a cada dia revitalizando nossas forças para nos mantermos abertos e não adormecer, assim como já aconteceu com algumas escolas de educação infantil”.
Gelson Menegatti, presidente do Sinepe, reconhece o esforço das instituições de ensino para se manterem ativas com aulas não presenciais, descontos e outras alternativas, mas enfatiza que a única solução está na reabertura e retomada das atividades.
“A escola particular é um dos maiores empregadores do estado. A tendência é quanto mais tempo ficar fechado, mais escolas estarão fechadas e demitindo sem condições de pagar as rescisões”, disse.
Para manter os alunos da educação infantil o Colégio Salesiano São Gonçalo, em Cuiabá, suspendeu as prestações escolares do período em que as aulas ficaram suspensas, ou seja, de abril até o retorno das aulas presenciais.
As parcelas da anuidade de 2020 que ficarem em aberto durante o período da pandemia poderão ser quitadas até o término do calendário escolar de 2020, isentas de encargos e mantido o desconto constante no boleto.
Retomada
De olho na retomada das aulas, a Fenep elaborou e disponibilizou no portal virtual um plano estratégico com orientações de protocolos a serem observados nos âmbitos de saúde, pedagógico e jurídico para as instituições de ensino privado.
Entre as recomendações estão a organização da estrutura operacional para manter a distância entre os estudantes e professores, a higienização freqüente da unidade escolar, disponibilização de produtos como álcool gel 70% em todos os espaços físicos, uso obrigatório de máscara, aferição da temperatura, isolamento imediato de qualquer pessoa com sintomas da Covid-19 e a promoção de atividades remotas de alunos e trabalhadores que pertençam aos grupos de risco do novo coronavírus, entre outros.
Embora tenha havido flexibilização em Mato Grosso para funcionamento de atividades consideradas não essenciais, ainda não houve liberação para que os estabelecimentos escolares retomassem as aulas presenciais.