NOTICIÁRIO Quinta-feira, 24 de Julho de 2025, 06:46 - A | A

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TERRA INDÍGENA

STF vai realizar escuta inédita de povo indígena sobre mineração

Da Redação com Assessoria

Representantes do Supremo Tribunal Federal (STF) realizaram em Porto Velho, Rondônia, reuniões técnicas preparatórias para uma escuta inédita junto ao povo Cinta Larga. Conforme informações divulgadas pelo site do STF, a iniciativa visa colher a posição da comunidade indígena sobre a atividade de mineração no entorno de seu território, marcando a primeira vez que um povo originário será ouvido em seu próprio ambiente no curso de um processo judicial da mais alta corte do país.

Os encontros, ocorridos na terça e quarta-feira (22 e 23), contaram com a participação de líderes de aldeias Cinta Larga de Rondônia e Mato Grosso, além de órgãos públicos federais e estaduais. As lideranças indígenas manifestaram concordância unânime com a realização da escuta, que ocorrerá em suas aldeias em data ainda a ser definida. O ministro Flávio Dino, relator do processo, determinou as reuniões com o objetivo de "democratizar a construção da metodologia e a forma de implementação da escuta", conforme relatado pela assessora-chefe de seu gabinete, Larissa Abdalla.

A escuta tem como foco principal a posição da comunidade em relação à mineração em uma faixa de 10 km no entorno da Terra Indígena Roosevelt. Há também uma demanda para estender esse procedimento às Terras Indígenas Aripuanã, Serra Morena e Parque Aripuanã, que também abrigam o povo Cinta Larga. As terras estão localizadas a leste de Rondônia e a noroeste de Mato Grosso, abrangendo cerca de dois mil indígenas distribuídos em aproximadamente 60 aldeias. O avanço do garimpo ilegal na região tem intensificado a degradação ambiental e impactado o modo de vida tradicional.

O processo judicial em questão é o Recurso Extraordinário com Agravo (ARE) 1425370, cuja disputa se arrasta desde 2005. Nele, a Agência Nacional de Mineração (ANM) contesta uma decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) que cancelou permissões de lavras de recursos minerais e impediu novas concessões no entorno das terras indígenas afetadas. Em 2023, o então relator do caso, ministro Luís Roberto Barroso, negou seguimento ao ARE, reconhecendo os danos e efeitos negativos do garimpo na população indígena da área.

Durante as reuniões preparatórias, as lideranças indígenas defenderam a manutenção da suspensão da mineração no entorno do território. Eles expressaram preocupação com o impacto que a presença de grandes multinacionais poderia causar na vida dentro da terra indígena, argumentando que seria inconsistente liberar tal atividade enquanto a exploração mineral dentro dos próprios territórios ainda carece de regulamentação.

Representantes de órgãos públicos e entidades que atuam como "amigos da corte" também contribuíram com informações e posicionamentos. A consultora jurídica do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), Alessandra Vanessa, ressaltou a posição institucional da pasta, "contrária a qualquer tipo de mineração dentro dos territórios indígenas". O procurador Reginaldo Trindade, do Ministério Público Federal (MPF), descreveu as violências históricas contra o povo Cinta Larga, afirmando que "tudo que não presta e que é terrível tem acontecido ali, e a única instituição que lucra com isso é o crime organizado".

O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), por meio de Lucas Santos, informou que 93 processos minerários foram impactados pela suspensão da atividade na região dos Cinta Larga. Já a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), representada por Ingrid Gomes, destacou a preocupação da entidade com a forma de desenvolvimento da mineração no entorno de territórios, enfatizando a necessidade de que as consultas respeitem protocolos estabelecidos e sejam "livre, prévia e informada".



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