A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) sedia, até a próxima quarta-feira (30), a terceira edição do Acampamento Terra Livre Mato Grosso (ATL-MT), o maior encontro de mobilização indígena do estado. Com uma intensa programação de debates, oficinas, plenárias e manifestações culturais, o evento busca fortalecer a luta pelos direitos indígenas e ampliar a discussão sobre políticas públicas para os povos originários.
Durante a cerimônia de abertura, realizada nesta segunda-feira (28), a secretária de Direitos Humanos da UFMT, Onice Teresinha Dall'Oglio, ressaltou a importância da presença indígena no ambiente acadêmico.
“Para a Universidade, é fundamental que esse acampamento ocorra no nosso câmpus. Mato Grosso é lar de mais de 43 povos indígenas, que carregam saberes dos quais temos muito a aprender”, destacou Onice. Ela também enfatizou que o ATL-MT contribui para resgatar e dar visibilidade a culturas e histórias muitas vezes invisibilizadas.
O evento é promovido pela Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (FEPOIMT) e acontece tradicionalmente em abril, mês dedicado aos povos indígenas. Em 2025, a mobilização ganha destaque especial, considerando a preparação do Brasil para sediar a COP30, este ano, na cidade de Belém (PA).
Programação aborda economia sustentável e mudanças climáticas
A programação do ATL-MT é marcada por temas centrais para os povos indígenas. Entre eles, a economia indígena sustentável e os impactos das mudanças climáticas.
Segundo Eliane Xunakalo, presidente da FEPOIMT, esses debates são fundamentais para a defesa dos direitos indígenas. “Essas pautas atravessam a saúde, a educação e todas as políticas públicas. É essencial que sejamos ouvidos”, afirmou.
Eliane também convidou toda a comunidade a participar: “Venham conhecer o artesanato, dialogar e acompanhar as atividades. A programação é intensa e aberta ao público”.
Políticas públicas específicas para os povos indígenas
A líder indígena e pesquisadora Isabel Taukane, da etnia Kurâ-Bakairi e primeira indígena formada pela UFMT, também participou da abertura. Ela defendeu a necessidade urgente de políticas públicas que respeitem a diversidade dos povos indígenas de Mato Grosso.
“Hoje, temos oficialmente 43 etnias reconhecidas, mas já são 48 considerando as migrações. Precisamos de políticas específicas que preservem nossos modos de vida e biomas”, destacou.
Isabel também alertou para os impactos negativos do modelo de monocultura e do uso intensivo de agrotóxicos nos territórios indígenas. “Esse modelo destrói o solo, compromete a biodiversidade e a saúde. Defendemos uma economia que respeite a natureza e os saberes tradicionais”, afirmou.
Educação e fortalecimento dos saberes indígenas
Além da militância política, Isabel Taukane desenvolve pesquisas na área da Educação na UFMT, com foco na valorização dos saberes tradicionais. Ela integra o projeto "Ação Saberes Indígenas na Escola" e está envolvida na criação da primeira licenciatura indígena da Universidade, no polo do Capoto do Jarina.
A programação do ATL-MT ainda inclui danças tradicionais, rituais sagrados, exposições de artesanato, oficinas de pinturas corporais e rodas de conversa sobre temas como educação escolar indígena, saúde nas aldeias, bioeconomia e enfrentamento à violência contra mulheres indígenas.
O Acampamento Terra Livre Mato Grosso reforça o protagonismo indígena na defesa de seus direitos, saberes e territórios, e convida a sociedade a refletir e dialogar sobre um futuro mais justo e sustentável.