CULTURA Segunda-feira, 31 de Maio de 2021, 16:14 - A | A

Segunda-feira, 31 de Maio de 2021, 16h:14 - A | A

QUIZOMBA

Rota da Ancestralidade quer resgatar influência africana na cultura e história cuiabana

Da Assessoria

A programação cultural do Beco do Candeeiro, a primeira rua de Cuiabá, movimentou a última sexta-feira (28), no centro histórico. O grupo Raízes do Samba foi o responsável pela apresentação musical e, uma roda de conversa, sobre ancestralidade afro-brasileira reuniu pesquisadores, moradores e convidados. O Beco do Candeeiro foi completamente revitalizado e entregue à população há 15 dias.

O criador do projeto Quizomba na Rota da Ancestralidade e coordenador do Museu da Imagem e do Som (MISC), Cristovão Luiz, falou sobre a iniciativa que integra um conjunto de ações que visam a ocupação do local. “Em 2012 começamos a desenvolver um trabalho, no mês de novembro, o cortejo afro por essas ruas. Esse trabalho foi ampliado e passou a ser realizado durante todo o ano com o grupo Quizomba na Rota da Ancestralidade”, contou Cristóvão.

Agora o projeto ganha uma nova dimensão a partir da entrega do Beco do Candeeiro para a população, de resgatar e manter a cultura de Cuiabá viva, a partir da valorização das raízes e tradições cuiabanas. Fisicamente, a rota da ancestralidade inclui a Praça da Mandioca – antigo pelourinho, a Rua Ricardo Franco/Rua do Governador, chamada de rua das Pretas, onde as anciãs passavam para lavar e cozinhar, o buracão grande que é a Alvanca de Ouro e a praça da Mãe Preta. “Esses locais, até então, se constituíam num território que estava invisível. O que estamos fazendo é resgatar as personalidades que transitaram e transitam por esse território, e com sua influência africana, contribuíram com a nossa história. Com essa roda de conversa queremos dar vida e visibilidade para essas histórias e para as pessoas que viveram e aqui vivem”, salientou ele.

Uma dessas personalidades é Alair Fernando das Neves, 78 anos, nascido no Beco do Candeeiro onde morou por muitos anos e vivenciou inúmeras histórias. “A minha mãe negra, descendente direta de escravos, foi acolhida nesta casa. Quando a minha avó foi abandonada pelo marido, ficou com vários filhos e a minha mãe foi entregue, com seus 9 ou 10 anos, para uma família importante. Ela se tornou uma ‘escrava’, criada pela família, mas na verdade, criada no sentido de servir aos patrões”, contou.

Alair disse que após ficar grávida, sua mãe foi expulsa da casa dos patrões e acolhida no Beco do Candeeiro, por uma família que morava ali e assim sua história começou. Avner Augusto da Silva Albino, coordenador de Projetos Culturais da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer lembrou que a iniciativa visa ocupar o espaço do Beco do Candeeiro, tão importante para a memória da cultura ancestral cuiabanas, principalmente pela influência africana, e a valorização do artista local. “Através dessa roda, que fala da rota ancestral da nossa cidade, que compreende o centro histórico, reunindo pessoas empoderadas desses saberes, vão compartilhar um pouco desses conhecimentos para abrilhantar esse momento”, disse o coordenador.

O secretário adjunto de Cultura, Justino Astrevo destacou os objetivos da iniciativa da gestão, que visa dar uma atenção humanizada ao local. “A revitalização deste local está pronta, precisamos agora nos preocupar com as pessoas, para que tenham essa noção de pertencimento e valorização nos ajudando a cuidar desse espaço”, disse o secretário adjunto de Cultura, Justino Astrevo.

A Rota da Ancestralidade Afro-brasileira foi mediada por Gabriela Rangel, e contou com a participação do Prof. Ms. Suelme Fernandes, historiador do IHGMT: África e Cuiabá, conexões atlânticas, o coordenador do MISC e criador do projeto Cuiabá Rota da Ancestralidade, Cristóvão Luiz, o idealizador da Lavagem da Escadaria do Rosário: Memórias e histórias negras de Cuiabá, Alair Fernandes das Neves e o historiador Francisco C. da Rocha. 



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