Apesar de atuarem para minimizar o clima de tensão institucional, auxiliares de Jair Bolsonaro avaliam que o mandatário deve recusar o pedido de encontro feito por governadores nesta semana para evitar colocá-los em evidência.
Na avaliação de ministros, uma reunião entre o presidente e os chefes de Executivos estaduais seria contraproducente e só serviria para dar palanque a adversários.
Desde o início do governo, Bolsonaro tem protagonizado embates com os gestores estaduais. Com a pandemia e a briga em torno do ICMS, a relação piorou. Em especial com governadores que são virtuais candidatos em 2022, João Doria (PSDB-SP) e Eduardo Leite (PSDB-RS).
O ofício, enviado pelo Fórum dos Governadores depois da reunião de segunda-feira (23), ainda não teve retorno do Palácio do Planalto, segundo o presidente do colegiado, Ibaneis Rocha (MDB-DF).
Embora haja resistências, uma ala de governadores diz acreditar ainda que o encontro será possível.
Eles depositam expectativa no ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, que tem atuado como "amortecedor" no Planalto. Ainda assim, a chance de isso ocorrer é considerada remota por auxiliares palacianos.
Além de dar palanque aos gestores estaduais, a avaliação de aliados de Bolsonaro é que não daria certo uma reunião do presidente com Doria. O que deveria ser um encontro para propagar a harmonia acabaria com um embate entre os dois potenciais candidatos em 2022.
Em maio do ano passado, o presidente chegou a realizar encontros com governadores de cada região. Quando foi com os do Sudeste, teve bate-boca com Doria.
O governador de São Paulo cobrou de Bolsonaro "dar exemplo ao país". O presidente, por sua vez, retrucou.
"Não aceitamos essa demagogia barata. Vossa Excelência não é exemplo para ninguém. Senhor governador João Doria, faça sua parte", finalizou, questionando se o tucano tinha permissão para atuar como "porta-voz dos governadores".
Aliados de Bolsonaro esperam que o clima entre as instituições melhore depois que passar o feriado de 7 de Setembro.
A adesão aos atos pró-governo está sendo tratada como "divisor de águas" por integrantes do governo e dirigentes partidários para mostrar a força que hoje tem o mandatário.
Na avaliação de um ministro palaciano, o protesto será grande nas capitais, em especial em São Paulo e em Brasília. Bolsonaro prometeu participar dos atos nas duas cidades.
Para o auxiliar, o fato de 229 deputados terem votado a favor do voto impresso na Câmara representou um "recado" de que o tema divide o Congresso e, da mesma forma, tem apoio na população, o que ficará claro nas manifestações de 7 de Setembro.
A PEC (proposta de emenda à Constituição) do voto impresso foi rejeitada. Foram contra o instrumento 218 deputados. Para aprovar uma emenda, são necessários 308 votos.
Segundo assessores palacianos, a expectativa é que os protestos sejam simbólicos e sirvam somente para mostrar que Bolsonaro é competitivo nas eleições de 2022 e que seu discurso tem apoio popular.
Os ministros dizem torcer para que os atos não sirvam para o presidente engrossar o discurso golpista ou gerar novos capítulos de crise.
A ala mais moderada do Palácio do Planalto está atenta para as falas de Bolsonaro, porque sabe do potencial explosivo que terá, e atua para que seja "dentro das quatro linhas da Constituição". O problema, admitem, é que ele é imprevisível.
Com o 7 de Setembro esvaziado para as Forças Armadas, sem desfiles, aumentaram as expectativas de fardados com a solenidade do Dia do Soldado, que ocorrerá nesta quarta -feira (25) no Quartel-General do Exército.
Segundo interlocutores do comandante da corporação, Paulo Sérgio Nogueira, seu discurso terá recados importantes, supostamente em tom conciliatório.
Em meio ao temor de que o 7 de Setembro sirva para piorar o clima entre as instituições, governadores discutiram o tema no encontro desta segunda.
A reunião do fórum já estava prevista, mas de última hora teve incluída na pauta a possibilidade de uma ruptura institucional.
O assunto veio à tona nos últimos dias após a série de ataques de Bolsonaro ao STF (Supremo Tribunal Federal) e do discurso de estímulo do presidente aos protestos de 7 de Setembro. Ele ainda apresentou um pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes.
Nesta segunda, por exemplo, o presidente voltou à velha pauta do voto impresso. Ele insistiu na suspeição do processo eleitoral eletrônico brasileiro.
"O que que é a alma da democracia? É o voto. O povo quer que você, ao votar, tenha a certeza de que o teu voto vai para o João ou para a Maria. Não quer que, num quartinho secreto, meia dúzia de pessoas conte os seus votos", disse o presidente.
Durante a reunião dos governadores, das quais participaram 24 chefes de Executivo, o comportamento reiterado de Bolsonaro, com ataques à democracia e ao Judiciário, foi criticado por governadores.
A decisão de pedir uma reunião com o presidente e chefes de outros Poderes foi tomada diante da resistência da parte de alguns governadores a adotarem uma postura de maior confronto com Bolsonaro, segundo alguns dos presentes no evento.
Mesmo tendo rompido com o presidente da República, Carlos Moisés (sem partido), de Santa Catarina, foi um dos que se posicionaram contra uma medida mais enfática.
"O que nós devemos fazer é defender a democracia, Moisés, e não silenciar diante das ameaças que estamos sofrendo constantemente", reagiu Doria.
O governador paulista havia sido o defensor de elaborarem uma carta em repúdio às ações recentes de Bolsonaro. Uma parte dos presentes, no entanto, argumentou que a medida apenas serviria para acirrar os ânimos.
Mesmo com o veto à carta, que era defendida pela maioria, os governadores adotaram um discurso unificado após a reunião em torno da solicitação de encontro entre os Poderes.