NOTICIÁRIO Sábado, 08 de Agosto de 2020, 13:01 - A | A

Sábado, 08 de Agosto de 2020, 13h:01 - A | A

MEA CULPA

Missa da Terra Sem Males, um canto em defesa da Ameríndia

Michely Figueiredo
Da Editoria

Dom Pedro Casaldáliga, juntamente com o militante tocantinense Pedro Tierra escreveram um espectáculo chamado Missa da Terra Sem Males. A musicalização da peça ficou a cargo do músico argentino, erradicado no Brasil desde a década de 70, Martín Coplas. A encenação expressa um mea culpa da Igreja Católica diante do massacre indígena ocorrido pela resistência ao cristianismo.

"Eu, missionário, espanhol -no caso, ser catalão não fez diferença-, diria minha parte de contrição, em nome da Espanha colonizadora e em nome da Igreja missionária. Pedro Tierra -entranhável pseudônimo de Hamilton Pereira da Silva-, brasileiro telúrico e vítima heróica da Repressão neo-colonizadora, diria sua parte, em nome do Brasil, com a força irada de seus homens novos. E Martín Coplas, argentino, descendente de quechua e aymara -pseudônimo com sabor de alma musical popular e que carrega o respaldo prócero de Martín Fierro- diria, em solfa, em várias músicas aborígenes do Continente, a parte mais profunda. Por Martín falariam outra vez as flautas dos Andes emudecidas e o amedrontado tambor do coração de seu Povo", escreveu Casaldáliga, ao explicar a escolha dos participantes na elaboração da peça.

A Missa da Terra sem Males foi elaborada no ano de 1978, considerado o Ano dos Mártires da Causa Indígena. Neste período, celebravam-se 350 anos dos três mártires jesuítas riograndenses Roque Gonzáles, Afonso Rodrigues e João Castilho.

No entanto, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) achou que era injusto celebrar a morte apenas dos três missionários jesuítas, uma vez que os mortos eram muitos. Diante disso, decidiu-se celebrar a morte de milhares de indígenas, sacrificados pelos Impérios Cristãos da Espanha e de Portugal.

Leia mais: Dom Pedro Casaldáliga parte, mas deixa caminho a ser seguido

"As Ruínas de São Miguel, no Rio Grande do Sul, 'monumento-ferida em desafio', são o testemunho central do intento missionário das 'Reduções Indias' dos Jesuítas, nos séculos XVII e XVIII. A famosa República dos Guarani, que mereceu os elogios insuspeitos de Voltaire e de Montesquieu. Essas Ruinas são também o testemunho constrangedor da barbárie dos cristianíssimos colonizadores ocidentais, nossos avós espanhois e portugueses. Sepe Tiaraju, luzeiro na testa, "São Sepé" para a fé do Povo, corregedor da Missão de São Miguel e o mais ilustre chefe guerreiro guarani, foi assassinado, juntamente com outros mil e quinhentos companheiros, pelos Exércitos de Espanha e de Portugal, irmanados na hora da barbárie. Nos campos de Caiboaté, dia 7 de fevereiro de 1756. Nessas Ruínas históricas e nesse Ano dos Mártires da Causa Indígena, nasceu a idéia da Missa da Terra- sem- males", escreveu Dom Pedro, ao apresentar a ideia da Missa da Terra sem Males.

Missa da Terra Sem Males foi inspirada pela busca incansável dos Guarani por uma terra sem males. "Através da Missa toda, a Morte do Cristo e sua Ressurreição, sua Páscoa pessoal já completa, contrasta-se com a Páscoa Amerindia, carregada de mortes, mas 'ainda sem Ressurreição'. Toda a Missa, entretanto, vem traspassada de uma incontida Esperança, contrariamente ao que alguém quis entender. Traspassada também de um inevitável compromisso político, que torne acreditável e eficaz, agora e aqui, essa Esperança, escatológica em última instância", explicou Casaldáliga.

"A Missa da Terra-sem-males é uma missa de memória, remorso, denúncia e compromisso. Ela nos atira no rosto esta realidade fatal: de todos os continentes escravizados -Asia, Africa e América- a América e o único que não retornará a seus filhos. Não se trata de sonhar o impossível sonho de uma América puramente índia. Trata-se de constatar a inenarrável violência com que os conquistadores saquearam este Continente.
A Asia se levanta e seus filhos a terão um dia. Os povos negros da Africa reconquistam palmo a palmo o Continente devastado pelo colonialismo. A América, contudo, jamais retornará as mãos dos povos indígenas, sepultados pelos massacres de Cortez, Pizzarro, Valdívia, Raposo Tavares. Devorados pelas minas de Potosí, escravizados pelas bandeiras, exterminados em todo o Continente pela peste que o branco trouxe no sangue", escreveu Pedro Tierra, em outubro de 1979.

"Poderia ter sido um poema, uma cantata, mas nasceu missa. Porque é impossível separar a historia dos Povos Indígenas da América da presença da Igreja entre eles. A mesma Igreja que abencoou a espada dos conquistadores e sacramentou o massacre e o extermínio de povos inteiros, nesta missa se cobre de cinza e faz sua própria e profunda penitência. A penitência por si só não conduz a nada, nem sequer alivia a responsabilidade histórica que a Igreja assumiu ao lado do branco colonizador. Contudo, a História marcha e a Igreja mantém um laço profundo com os oprimidos da América. Que esta penitência contribua para que este laço se converta em compromisso com a marcha do Povo a caminho de sua libertação", complementou Pedro Tierra.

Leia a Missa Sem Males completa:

Abertura

Todos (Canto)

Em nome do Pai de todos os Povos,
Maíra de tudo,
excelso Tupã.

Em nome do Filho,
que a todos os homens nos faz ser irmãos.
No sangue mesclado com todos os sangues.
Em nome da Aliança da Libertação.

Em nome da Luz de toda Cultura.
Em nome do Amor que está em todo amor.

Em nome da Terra-sem-males,
perdida no lucro,
ganhada na dor,
em nome da Morte vencida,
em nome da Vida,
cantamos, Senhor! 

Memória Penitencial

Todos (Canto)

Herdeiros de um Império de extermínio,
filhos da secular dominação,
queremos reparar nosso pecado,
viemos celebrar a nova opção: Ressurreição.

Na Ceia da Morte e da Vida,
a antiga memória perdida;

a morte dos Povos do passado
na Festa do Povo esperado: Ressurreição;

a História da América inteira,
nesta Memória de Libertação;

na Páscoa do Ressuscitado,
a Páscoa Ameríndia
ainda sem ressurreição... ressurreição,
sem ressurreição...

Solo indígena, ou recitado (R) ou cantado (C). Todos (Canto)

Eu sou América,
sou o Povo da Terra,
da Terra-sem-males,
o Povo dos Andes,
o Povo das Selvas,
o Povo dos Pampas,
o Povo do Mar...

(R)

Do Colorado,
de Tenochtitlan,
do Machu-Pichu,
da Patagônia,
do Amazonas,
dos Sete Povos do Rio Grande...

(Vozes individuais)

Eu sou Apache.
Eu sou Azteca.
Eu sou Aymara.
Eu sou Araucano.
Eu sou Maia.
Eu sou Inca.
Eu sou Tupi.
Eu sou Tucano.
Eu sou Yanomani.
Eu sou Aymore.
Eu sou Irantxe.
Eu sou Karaja.
Eu sou Terena.
Eu sou Xavante.
Eu sou Kaingang.

Solo (R)

Eu, Guarani.
E é com canto Guarani
que todo o resto do Continente,
todos os povos do meu Povo,
cantam agora seu lamento.

(C)

Irmãos, vindos de fora,
se quereis ser irmãos,
escutai o meu canto!

Todos

Queremos escutar,
de coração aberto,
com a mão do remorso
sobre a ara do peito.
Queremos reparar
a História desta Terra,
massacre secular.

Solo (R)

Eu tinha uma cultura de milênios,
antiga como o sol,
como os Montes e os Rios de gran de Lacta-Mama.
Eu plantava os filhos e as palavras.
Eu plantava o milho e a mandioca.
Eu cantava com a língua das flautas.
Eu dançava, vestido de luar,
enfeitado de passaros e palmas.
Eu era a Cultura em harmonia com a Mãe Natureza.

Todos

E nós a destruímos,
cheios de prepotência,
negando a identidade
dos Povos diferentes,
todos Família Humana.

Solo (R)

Eu era a Paz comigo e com a Terra...

Todos

E nós te violamos
ao fio das espadas,
no fogo do arcabuz
queimamos teu sossego.

Solo (R)

Eu conhecia o ouro, o diamante, a prata,
a nobre madeira das matas,
mas eram para mim os enfeites sagrados
do corpo da Terra Mãe.
Eu respeitava a Natureza
como se respeita a própria esposa.

Todos

Caravelas do Lucro,
viemos navegando,
para vender a Terra
para explorar lucrando.

Solo (R)

Eu vivia na pura nudez,
brincando, plantando, amando,
gerando, nascendo, crescendo,
na pura nudez da Vida.

Todos

E nós te revestimos
com roupas de malícia.
Violamos tuas filhas.
Te demos por Moral
a nossa Hipocrisia.

Solo (R)

Eu tinha meus pecados,
eu fiz as minhas guerras...
Mas eu não conhecia
a Lei feita Mentira,
o Lucro feito Deus.

Todos

E nos te revestimos
com roupas de malícia.

Solo (R)

Eu era a Liberdade
-não uma estatua apenas-,
Moara em came humana,
a Liberdade viva.
Eu era a Dignidade,
sem medo e sem orgulho,
a Dignidade Humana.

Todos

E nós te escravizamos.
E nós te sepultamos
na escurião das minas.
Dobramos o teu corpo
sob os canaviais.

E te jogamos contra
as árvores amadas,
para cortar madeira,
cortando o teu espírito,
o cerne do teu Povo.

Solo (R)

Meu tempo era o Dia e a Noite,
o Sol e a Lua,
as Chuvas e os Ventos gerais,
meu tempo era o Tempo, sem horas.

Todos

E nós te amarramos
ao tempo do relogio,
no nosso pouco tempo
de pressas e interesses,
ao tempo-concorrência.

Solo (C)

Eu adorava a Deus,
Maíra em toda coisa,
Tupã de todo gesto,
Razão de toda hora.

Eu conhecia a Ciência
do Bem e do Mal primeiros.
A Vida era meu culto,
a Dança era meu culto,
a Terra era meu culto,
a Morte era meu culto,
eu era um Culto vivo!

Todos

E nós te missionamos,
infiéis ao Evangelho,
cravando em tua vida
a espada de uma Cruz.
Sinos de Boa-nova,
num dobre de finados!

Infiéis ao Evangelho,
do Verbo Encarnado,
te demos por mensagem,
cultura forasteira.
Partimos em metades
a paz de tua vida,
adoradora sempre.

Solo (R)

O amor do Pai de todos
me batizou com água da Vida e da Consciência
e semeou em mim a Graça do seu Verbo,
Semente universal de Salvação.

Todos

Quando nós te ferramos
com um Batismo imposto,
marca de humano gado,
blasfêmia do Batismo,
violação da Graca
e negação do Cristo.

Solo (R )

Eu era um Povo de milhões de vivos,
de milhões e milhões de Gente Humana,
milhões de imagens vivas do Deus Vivo.

Todos

E nós te dizimamos,
portadores da Morte,
missionários do Nada.

Solo (R)

Eu vos dei a beleza do Mar e suas praias,
eu vos dei minha Terra e seus segredos,
os pássaros, os peixes, os animais amigos,
servidores.

O milho da espiga apertada e repartida,
o bulbo generoso da mandioca
o pão de cada dia,
o guaraná cheiroso da floresta,
o caldo assossegante do chimarrão do Sul.
O remédio da Terra enfermeira.
A canoa, voadora nas águas.
O Pau-brasil de fogo,
nome do coração do vosso País...

Todos

E nós te depredamos,
desnudando as florestas,
calcinando teus campos,
semeando veneno nos rios e no ar.
A Terra generosa
separando, por cercas,
os homens contra os homens:
para engordar o gado
da fome nacional
para plantar a soja
da exportacão escrava.

Solo (C)

Eu era a Terra livre,
eu era a Agua limpa,
eu era o Vento puro,
fecundos de abundância,
repletos de cantigas.

Todos

E nós te dividimos
em regras e em fronteiras.
A golpes de ganância
retalhamos a Terra.
Invadimos as roças,
invadimos as tabas,
invadimos o Homem.

Solo (R)

Eu fazia um caminho a cada vez que passava.
Era a Terra o caminho.
O caminho era o Homem.

Todos

Nós abrimos estradas,
estradas de mentira,
estradas de miséria,
estradas sem saída.
E fizemos do Lucro
o caminho fechado
para o Povo da Terra.

Solo (R)

Eu era a Terra inteira,
eu era o Homem Livre.

Todos

E nós te reduzimos
em Vitrina e Reserva,
em Parque zoológico,
em Arquivo-poeira.

Solo (R)

Eu era a Saúde dos olhos,
penetrantes como flechas,
dos ouvidos atentos,
dos músculos harmónicos,
da alma em sossego.

Todos

E nós te mergulhamos
nos vírus, nos bacilos,
nas pestes importadas.
Teu Povo reduzimos
a um Povo de doentes,
a um Povo de defuntos.

Solo (R)

Eu vivia embriagado na Alegria.
A aldeia era uma roda de amizade.

Meus Chefes comandavam,
servidores do Povo,
com a sabedoria e o respeito
de quem se reconhece igual ao outro.

Todos

E nós te embriagamos
de cachaça e desprezo.
Fizemos-te objeto
do Turismo impudente.
Tornamos os teus Povos
uma placa de rua,
e o teu Saber antigo,
Tutela de menores.
Pusemos as algemas
dos nossos Estatutos
na tua Liberdade.
Jogamos tua Língua
nas covas do silêncio,
e os teus Sobreviventes
à beira das estradas,
à beira dos viventes
mão de obra barata
nas fazendas e minas,
nos bordéis e nas fábricas;
mendigos dos suburbios
das cidades sem alma;
restos do Continente
da grande Lacta-Mama

(A música se torna diferente em tom de desafio e esperança) Solo (C)

Eu era toda América,
eu sou ainda América,
eu sou a nova América!

Todos

E nós somos agora,
ainda e para sempre,
a herança do teu Sangue,
os filhos dos teus Mortos,
a aliança em tua Causa.
Memória rediviva,
na Aliança desta Páscoa.

 

Aleluia

Todos (C)

Aleluia! aleluia! aleluia!
Todos os Povos da Terra,
da Terra-sem-males,
louvem ao Pai!

O Evangelho é a Palavra
de todas as Culturas.
Palavra de Deus na Língua dos Homens!

O Evangelho é a chegada
de todos os caminhos.
Presença de Deus na marcha dos Homens!

O Evangelho é o destino
de toda a História. História de Deus na História dos Homens!

Aleluia... etc...

 

Ofertório

 

Todos (R)

Erguemos em nossas mãos
a memória dos séculos,
reunimos na carne do pão
a história do Tempo
de Libertação.

Aqui vos entregamos,
a vida banhada de chuva,
o milho plantado na terra,
o amor em pão repartido.

Aqui vos entregamos
a esperança da Terra-sem-males,
a caça-alimento na boca de todos,
0 culto da dança de todas as noites.

Aqui vos entregamos
a paz da abundância,
a liberdade dos Homens,
a vida de Homens iguais.

Todos

Na herança do milho,
na massa do pão,
a Páscoa do Cristo
e a nossa união.

Na sorte do vinho,
na luta e na morte,
a Páscoa do Cristo
e a Libertação.

Todos

Erguemos em nossas mãos
a memória dos séculos,
recolhemos no sangue do vinho
a história de um tempo de escravidão.

Em nossas mãos vos entregamos
a cinza das aldeias saqueadas,
o sangue das cidades destruídas,
a vencida legião dos oprimidos.

Em nossas mãos vos entregamos
os seios exaustos das minas,
a água profanada dos rigs,
as madeiras-em-cruz deste martírio.

Em nossas mãos vos entregamos
as veias abertas de América,
a pedra calada dos templos,
o pranto da memória índia.

Todos (C)

Na herança do milho... etc.

 

Rito da Paz

Todos (Canto)

Shalom,
Sauidi,
a Paz!
A Paz de Deus,
na paz dos Homens.
O amor do Pai
entre os irmaos.

Todos os Povos num só Povo.
Porque o Senhor é nossa Paz.

Shalom,
a paz antiga.
Sauidi,
a paz perdida.
Em Cristo, a nova Paz!

Shalom, Sauidi, a Paz!

 

Comunhão

Todos (C)

Celebrando a Páscoa do Senhor
cantamos a Vitória
de toda a Humanidade.
Tribos de toda a Terra,
Povos de toda idade.
Na carne do Senhor
revive toda carne.
Por isso comungamos toda luta.
Por isso comungamos todo sangue.
Por isso comungamos toda busca
de uma Terra-sem-males.

Libertos do primeiro Cativeiro,
cantamos a Passagem.

Cantando atravessamos
o novo Mar Vermelho do teu Sangue.
Cantando comungamos
o Pão da Liberdade.

Cantando caminhamos à procura
de uma Terra-sem-males.

Celebrando a Páscoa do Senhor... etc.

 

Compromisso Final

Voz masculina (Voz masculina e voz feminina: recitado. Todos cantado)

Alimentados da Páscoa do Senhor
e na Esperança da Terra Prometida,
rejeitamos todas as cadeias e,
com os pés descalços sobre esta Terra nossa,
retomamos a marcha dos mortos redivivos.

Voz feminina

Com as claras estrelas dos Povos exterminados,
iluminamos a rota do ultimo Exodo,
buscando a Terra-sem-males.

Voz masculina

Como fogueiras ardendo no coração da noite,
a memória dos Povos perdidos
conduz o passo dos seus filhos.

Todos

Memória / Remorso / Compromisso!

Voz feminina

Pelos Templos sem defesa saqueados,
por todas as Cidades destruídas,
pelos 90 milhões de índios massacrados.

Todos

Memória / Remorso / Compromisso!

Voz masculina

Pelas ruínas do Império do Sol,
pelos Palacios Maias abolidos,
por todo o Povo Azteca escravizado,
pela desolação dos Sete Povos...

Todos

Memória / Remorso / Compromisso!

Voz feminina

Pelo silêncio das flautas e tambores na noite,
pela morte da alma destes Povos,
pela palavra "resignação" dita aos escravos...

Todos

Memória / Remorso / Compromisso!

Voz masculina

Pelo arcabuz dos bandeirantes e bugreiros,
pelos meninos escravizados,
pelas meninas defloradas,
pelas caravanas de moribundos rumo a São Paulo...

Todos

Memória / Remorso / Compromisso!

Voz feminina

Pela peste que trouxemos no sangue depurado,
pelas lanças quebradas na humilhacão,
pelas cabeças cortadas dos Aymoré...

Todos

Memória / Remorso / Compromisso!

Voz masculina

Pelas cercas farpadas dos novos bandeirantes,
pela cachaça integradora,
na boca dos guerreiros,
pelo açúcar servido com cianureto
no paralelo onze,
pela prepotência da Tutela e
o sarcasmo da Emancipação...

Todos

Memória / Remorso / Compromisso!

Voz feminina

Pela cruz inscrita na espada dos saqueadores,
pela devastadora Civilização
que se pretende cristã,
pelas catedrais assentadas no coração
dos templos índios
pelo Evangelho da Liberdade,
feito decreto de cativeiro.

Todos

Memória / Remorso / Compromisso!

Voz feminina (Música de suplica confiada)
Todos (Cantado)

Morena de Guadalupe,
Maria do Tepeyac:
Congrega todos os índios
na estrela do teu olhar;
convoca os Povos da América
que querem ressuscitar.

Vozes individuais (recitado)

Montezuma!
Atau Walpa!
Tupac Amaru!
Sepé Tiaraju!
Toríbio de Mogrovejo!
Rosa de Lima!
Bartolomé de las Casas!
José de Anchieta!
Roque!
João!
Afonso!
Rodolfo!
Simão Bororo!
João Bosco!

Voz masculina

E todos os Patriarcas, Profetas e Mártires
da Causa Indígena!

Todos (Recitado)

Prosseguiremos vossa caminhada!

Todos (Canto Final)

Unidos na Memória
da Páscoa do Senhor
voltamos para a História
com um dever major.
Unidos na memória
da Antiga Escravidão
juramos a Vitória
na nova servidão.

América Amerindia,
ainda na Paixão:
um dia tua Morte
terá Ressurreição!

A Páscoa que comemos
nos nutre de porvir.
Seremos nos teus Povos
o Povo que ha de vir.

Os Pobres desta Terra
queremos inventar
essa Terra-sem-males
que vem cada manhã.

Uirás sempre a procura
da Terra que vira...
Maíra, nas origens.
No fim, Marana-tha! 

Assista abaixo a Missa da Terra Sem Males:



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