O passo final da elefanta Bambi, de 58 anos, para um lar digno foi dado nesta quinta-feira (24), quando o animal embarcou para a sua jornada rumo ao Santuário de Elefantes Brasil, localizado em Chapada dos Guimarães. Bambi será a quinta moradora da área. Além dela, estão abrigadas Lady, Rana, Mara e Maia. Para chegar ao seu lar, a elefanta venceu a distância de 1.285 quilômetros. A elefanta desembarcou em seu destino no final da tarde desta sexta-feira (25).
O Santuário também contava com a presença de Guida. Mas ela não resistiu e faleceu alguns meses depois da sua chegada.
Bambi estava em um zoológico em Ribeirão Preto (SP). A viagem começou na quinta-feira. A Polícia Rodoviária Federal e uma empresa parceira auxiliaram no translado da elefanta. Para a viagem, o Santuário de Elefantes Brasil realizou uma ação na qual arrecadou pouco mais de R$ 50 mil.
Assim como as demais moradoras, Bambi foi vítima de maus tratos enquanto era atração de circo. Foi resgatada em 2009. Na ocasião, foi encontrada amarrada pela pata e rodeada por uma cerca elétrica.
"Até o momento, tudo está indo muito bem: Bambi comeu e descansou durante a noite passada. Seu comportamento é exatamente o que esperávamos de um elefante em seu primeiro dia de viagem. Estamos lhe dando todo o apoio e suporte necessários. Ela responde muito bem quando estamos junto a ela", diz trecho do post na página do Santuário no Instagram.
A logística consistiu em fazer paradas a cada 2 ou 3 horas para avaliar o bem estar do animal. Além disso, em todo o trajeto Bambi é monitorada por sistema de câmeras.
Antes da viagem, Bambi sentiu dificuldades de adaptação à caixa transportadora. Foram sete dias de preparação junto à equipe do Santuário até que o animal se sentisse seguro para a jornada.
"Assim que ela chegar ao Santuário, ela mudará imediatamente. Ela terá espaço quando precisar dar um passo para trás. Poderá entrar no mato, fazer uma longa caminhada ou simplesmente fazer o que quiser. Este elefante cheio de medos que vemos aqui não é quem ela é. Nosso foco é ajudá-la a se sentir segura. Observaremos algumas mudanças acontecerem em breve, enquanto outras levarão mais tempo. Tudo vai acontecer no ritmo dela", diz outro trecho da publicação.
O respeito ao tempo da elefanta no processo foi fundamental. Conforme explica a equipe do Santuário, o elefante é uma espécie complexa emocionalmente e psicologicamente e uma vida inteira em cativeiro gera traumas e inseguranças. Por isso a importância de respeitar o tempo dela para que pudesse haver o transporte seguro e sem mais implicações ao animal que foi exposto por tempo demasiado a práticas crueis.
Segunda chance
Há sete anos Bambi perdeu a chance de encontrar um Santuário de Elefantes. Mas a vida se encarregou de lhe proporcionar uma segunda chance.
"A primeira vez que encontramos Bambi, ela estava em um recinto temporário depois de ter sido apreendida. Eles perguntaram se poderíamos levá-la, mas na época, um santuário no Brasil ainda era um sonho. Imposssibilitados de esperar (levaria 3 anos para o SEB começar a dar frutos), Bambi foi enviada para outro zoológico, e é onde vivia desde então", informou o Santuário.
A vida de Bambi antes de receber essa nova chance de viver com autonomia e contato pleno com a natureza era complexa. Por mais de seis anos ela precisou dividir espaço com uma outra fêmea, a Mayson, no zoológico onde vivia. Ocorre que elas não se davam bem e com isso não podiam compartilhar o mesmo espaço. Como consequência, cada uma delas precisava passar quase 20 horas diárias dentro de um recinto de concreto.
"Durante esse tempo, a condição corporal de Bambi diminuiu, ela teve uma perda de peso e massa muscular significativa, perdeu a visão de um dos olhos e começou a parecer que tinha desistido".
Presenciando essa condição, um grupo de proteção animal ingressou com um pedido judicial para que Bambi pudesse ser transferida para o Santuário de Elefentes Brasil. O pedido foi julgado procedente e então teve início a mobilização para que Bambi ganhasse um novo lar.
Enquanto aguardava a decisão judicial, o zoológico dividiu ao meio o recinto externo onde estavam as duas elefantas, com a ajuda de uma cerca elétrica, para permitir que ambas pudessem permanecer no mesmo espaço.
Santuário de Elefantes
O Santuário de Elefantes Brasil é uma organização sem fins lucrativos que ajuda a transformar as vidas e o futuro dos elefantes cativos.
O terreno onde está instalado desde 2016 fica localizado em uma fazenda a 40 km do Parque Nacional de Chapada dos Guimarães, perto do Rio da Casca. A área tem 1.100 hectares e foi comprada pela ONG Santuário de Elefantes Brasil para abrigar elefantes que estejam em condição de risco em zoológicos e circos. O projeto é mantido por doações e não conta com financiamento público ou participação do Estado para manutenção.
Sobre Mato Grosso, a representante da ONG, Junia Machado, explica que a escolha se deu em razão das condições climáticas adequadas para os animais e também em razão de custos menores que em países de clima frio. O projeto conta com o apoio de voluntários, da ONG internacional Global Sanctuary for Elephants (GSF) e da Elephant Voices.
De acordo com a ONG, há cinco mil elefantes em situação de risco no mundo, 50 deles estão na América do Sul. O Santuário tem capacidade para abrigar todos eles.
Estes animais não têm condições de serem soltos na natureza, nem retornar para o País de origem, por isso a necessidade da criação de um santuário.
Os primeiros hóspedes do santuário foram as elefantas Maia e Guida, que estavam a mais de 40 anos vivendo em cativeiro. As duas estavam acorrentadas em uma casa rural de um advogado de um circo em Minas Gerais. Depois de serem transportadas para o novo lar, os animais começaram todo o processo de readaptação e conhecimento do santuário.
Atualizada às 19:16