Pode sonhar, filosofar, teorizar, analisar, desenvolver estratégias, criar roteiros cinematográficos detalhados, dignos de premiação.
Pode reunir um arsenal de regras e certezas, para repetir a si mesmo à exaustão, pregar aos quatro ventos no meio do deserto, fazer julgamentos.
Pode pedir proteção, rezar, se benzer, se blindar com toda sorte de amuletos, patuás e rituais a todos os panteões.
O destino não está nem aí para o que você planejou, calculou, preparou com tanto esmero, tanto cuidado e energia. Tudo aquilo em que confiou, que pareceu sempre seguro, sólido e imutável não é, nunca foi, nunca será.
A campainha vai tocar justamente quando você estiver no banho, o leite vai derramar no fogão exatamente quando você virar as costas, alguém vai tirar sua atenção bem na cena mais importante do filme.
A vida gosta é de surpresas, do inesperado, do improvável. Põe e dispõe, senhora de todos os frios na barriga, das “coincidências” e sincronicidades.
E ainda, com paciência materna, tenta mostrar um jeito melhor de segui-la. Mostra que o que espera por você simplesmente não vai acontecer se você ficar esperando. O tempo do universo quase nunca corresponde à sua ideia de tempo, não adianta tentar antecipar ou adiar o que está por vir, principalmente quando não se sabe o que está por vir.
Por isso, não espere por aquela ligação ou uma nova mensagem. Não existe o momento certo, as condições ideais, o cenário perfeito.
Não perca seu tempo se arrumando antes de sair de casa, você vai encontrar quem deseja ou precisa justamente quando menos imaginar, quando estiver com o cabelo sujo ou a mancha na blusa.
Não marque nada com muita antecedência, não ensaie, simplesmente não esteja preparado. Improvise. Crie.
Aprenda a confiar. A deixar fluir, relaxar diante da incerteza constante. A entregar seus dias à felicidade dos acasos. As respostas simplesmente vêm.
E aproveite mais. Prefira sentir a pensar, seja mais espontâneo, mais de verdade. Cometa mais sincericídios, diga aquelas coisas aparentemente idiotas e genuínas (muitas vezes, geniais). Não tenha medo de parecer ridículo ou inadequado, não se economize ao outro.
Seja um irresponsável incorrigível aos olhos do seu juiz interior. E não se prive de você mesmo.
A oportunidade pode ser exatamente aquela, e só aquela. Você nunca vai saber, nunca vai ter certeza, a menos que tente, faça, ouse, experimente. Arrisque.
E se der errado? E o que é “dar errado” quando se está aberto às possibilidades? Mesmo as piores experiências, tudo, absolutamente tudo, é válido. A alma simplesmente não é pequena.
O universo abre todas as portas àquele que nada (e tudo) deseja, que desbrava os caminhos de acordo com sua absoluta vontade. A quem já viveu para quebrar a cara o suficiente e entender que cada jornada, por mais incerta e perigosa que aparente ser, é um genuíno presente.
Abra-se à inocência de quem sabe que nada sabe. Abençoadas as transgressões, as deliciosas loucuras a que nos permitimos, amém.