#PAPO COM ELA Quinta-feira, 09 de Julho de 2020, 06:00 - A | A

Quinta-feira, 09 de Julho de 2020, 06h:00 - A | A

FUGA

Comer de forma exagerada pode ser escape para sofrimento emocional

Michely Figueiredo
Da Editoria

Neste período em que se vive o isolamento social de forma mais intensa, um dos comportamentos que pode ser desenvolvido é a busca do prazer por meio da alimentação. De acordo com a psicóloga Isolde Coimbra, o ser humano tem uma tendência de querer fugir de tudo aquilo que traz desconforto. Desta maneira, se há um problema emocional e ele é muito profundo, reviver e lidar com a situação pode ser muito doloroso. Ao invés de enfrentar o problema, busca-se uma fuga prazerosa e o refúgio pode ser a alimentação.

"Na quarentena, como a gente parou para refletir, vem à tona tudo o que está dentro. A ansiedade é o burbulhar do que está por dentro e somos forçados a pensar o que está acontecendo. Já vinha acontecendo algo que a gente cega emocionalmente e desconta em outra coisa. Comer excessivamente é a busca por prazer. Se estou desconfortável comigo, busco um prazer. E em casa esse comer é o prazer", explica a psicóloga, diante da queixa de que o período de isolamento tem favorecido o ganho de peso.

Conforme Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) do Ministério da Saúde, em Cuiabá 25,4% da população masculina é obesa, o que garante à cidade matogrossense a segunda colocação no ranking entre as capitais. Já quando são observadas as mulheres, essa porcentagem fica em 20,7%. Os resultados são baseados em dados colhidos em 2018.

Quando observa-se a quantidade de pessoas com sobrepeso, o cenário é preocupante. Segundo a pesquisa, 56,6% das mulheres estão acima do peso, enquanto entre os homens esse número chega a 65,1%. De maneira geral, 23% dos moradores de Cuiabá apresentam obesidade e 60,7% estão com excesso de peso.

A psicóloga frisa que para entender o comportamento alimentar de uma pessoa é preciso antes de mais nada compreender a sua história de vida. Conforme a profissional, muitos momentos felizes foram celebrados com a presença de comida, assim como memórias agradáveis de infância fazem a relação do afeto com o alimento. Um exemplo são as avós que costumam "mimar" os netos com doce.

"A pessoa associa a comida com prazer. Lembra-se de momentos em que a família estava junta. Afeto e comida estão ligados. Quando estou triste ou estressado, a comida traz uma memória afetiva que conforta. É preciso fazer com que a pessoa pense: por que busco na comida conforto neste momento?"

Para lidar com a compulsão alimentar, Isolde pontua que é preciso um árduo trabalho de autoconhecimento. "Trabalhando o interno, trabalho o externo. O autoconhecimento facilita o processo do ser humano em todas as áreas da vida dele".

No entanto, nem sempre esse é o caminho adotado. Ao encontrar dificuldades de fazer as "pazes com a comida", uma das trilhas adotadas por parte da população obesa é a cirurgia bariátrica, até mesmo por terem desenvolvido comorbidades que colocam a vida em risco, como hipertensão, diabetes e doenças cardíacas. Em Mato Grosso pelo menos 244 pessoas aguardam na fila para realizar o procedimento pela rede pública de saúde, que suspendeu todas as cirurgias eletivas em função da pandemia do novo coronavírus.

Isolde alerta que o acompanhamento psicológico é fundamental antes de ser submetido ao procedimento. "Por muitos anos essa pessoa teve um hábito, um costume, uma crença em relação a comida, em como ela lida com o estresse. O movimento precisa ser trabalhado ao longo do processo. Não sou contra a bariátrica, mas que se submeta ao tratamento psicológico. Muda a parte física, mas e o emocional? O comportamento a que a pessoa está acostumada a associar com outras coisas, os fatores estressores não vão mudar. O que ela tem que mudar é a forma como lida com o estresse e como ela corria para a comida para compensar isso".

Sem o devido acompanhamento psicológico e impedida de comer pela restrição imposta pela cirurgia, a pessoa pode criar outras maneiras para liberar o estresse. "Se tinha a comida como fonte de prazer e não consegue comer, vai para jogos, para a bebida. Tem gente que vicia em exercício físico. Quando há exagero em algo está descarregando esse desprazer emocional e isso vai levar a prejuízos maiores. Quando há comportamentos desconectos com a realidade, não há uma relação saudável com a pessoa, com a vida, com a sua entrega como pessoa. Então, ela desvia para algo que não é a comida porque algo não vai bem. Quando as questões são muito doloridas, muito profundas, não se quer mexer com aquilo", reforçou.

A psicoterapia juntamente com a psicoeducação oferece ferramentas para que a pessoa tome consciência de sua condição e consiga repercutir essa conscientização no comportamento. Assim, poderá ressignificar sua relação com o alimento, se alimentando de forma saudável e fazendo atividade física.

Alimento que nutre

A nutricionista comportamental Michelle Reis aponta que não apenas a alimentação deve ser observada, mas todo o contexto no qual a pessoa está inserida. "Muitas vezes a pessoa tem noção do que precisa ser feito. Mas o gargalo está em conseguir fazer o que é preciso. Temos alguns alimentos que podem ajudar na liberação da serotonina, liberando esse prazer, como o amendoim, a banana, o chocolate 70%".

Reis ainda pontua que o ideal é que toda a família esteja engajada num projeto de alimentação saudável. "Nem sempre se tem isso como realidade. Então, é importante querer cuidar da alimentação por você mesmo. De certa forma isso contagia o restante da família. Importante frisar que o momento não é para dieta, mas para nutrir o corpo, os pensamentos e os sentimentos. É importante cuidar do melhor que você tem neste momento", disse referindo-se ao cenário de pandemia.

Conforme a nutricionista, dietas restritivas demais costumam não funcionar. "As pessoas fazem dieta da sopa, da lua, faz tanta dieta que não é para ela, não é do contexto dela. Quando é restrito demais, o corpo reclama, pede de volta tudo o que foi tirado dele e isso gera o efeito sanfona. A pessoa não atinge o objetivo e começa a buscar coisas externas, como medicamentos, que só prejudicam a saúde. É preciso olhar essa questão de forma harmonioza", ressaltou.

Isolde Coimbra ressalta que a proibição desperta na pessoa justamente a vontade de consumir aquilo. "Não fale não, porque isso traz o reverso para você mesmo. Se restringe demais, vem o efeito rebote".

Comida de verdade

O importante é consumir "comida de verdade", pondera Reis. Segundo ela, quanto menos industrializados forem incorporados à alimentação, melhor. "Basta comer o que os nossos avós comiam. Arroz, feijão, comida de verdade".

Uma dica é na hora de fazer as compras, não incluir no carrinho alimentos industrializados e embutidos para não cair em tentação. Substitua por frutas e as deixe sempre em evidência na geladeira. "Organize sua casa para este momento, para não cair em tentação. Coloque no seu campo de visão alimentos mais saudáveis. Deixe as frutas lavadas na sua visão ao abrir a geladeira. Pode preparar também uma salada de frita para não cair em tentação".

O corpo apresenta sinais quando a nutrição não está a contento. O cansaço é persistente, o nível de estresse é alto, há queda de cabelo, as unhas ficam quebradiças, pode ocorrer, mas mulheres, o ovário policístico e a diminuição da fertilidade. "Fora a questão estética. Incomoda, por exemplo, quando a roupa não serve mais", lembra Michelle Reis.

*O programa #PapocomEla vai ao ar todo domingo, às 22 horas, na TV Brasil Oeste, canal 8.1 em Cuiabá e 2.1 em Rondonópolis. As reprises acontecem às quintas-feiras, sempre às 13 horas.

Assista ao #PapocomEla em vídeo:

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