O dia 26 de agosto, Dia Internacional da Igualdade Feminina, é um marco da luta das mulheres por empoderamento e paridade entre gêneros. A data surgiu nos Estados Unidos em 1973 em referência à 19ª Emenda, adotada na década de 1920 no país que determinava que o governo americano não podia impedir as mulheres de votar. No Brasil as mulheres tiveram direito ao voto apenas em 1932 quando foi aprovado um novo Código Eleitoral.
Apesar de estar relacionada ao voto, a data representa a luta das mulheres em outras áreas como a representatividade política e a igualdade de gênero.
“Todas as oportunidades de dar espaço para visibilizar a condição da mulher na nossa sociedade são sempre muito bem-vindas, mas não podem ficar hermeticamente fechadas nessas datas alusivas. Precisamos falar e denunciar a condição da mulher, em especial da mulher brasileira nos dias atuais”, observa Vera Lúcia Bertolini, assistente social e professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Relatório divulgado em janeiro pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) aponta as desigualdades em números. De acordo com o documento, as mulheres passam três vezes mais tempo dedicadas ao trabalho doméstico e aos cuidados não remunerados do que os homens. O número de mulheres sem renda própria é de 27,5% enquanto 13,1% dos homens estão na mesma situação.
Quando se analisa a renda, a disparidade também aparece. Estudo feito pelo IBGE mostra que as mulheres ganham menos que os homens em todas as ocupações selecionadas na pesquisa e, mesmo com uma queda na desigualdade salarial entre 2012 e 2018, as trabalhadoras ganham, em média, 20,5% menos que os homens no país.
Para a professora Vera Bertoline, a condição da mulher tem que ser denunciada à medida que surgem fatos desagregadores que as deixam em condições de subalternidade no cotidiano.
“Todos os dias temos fatos concretos que nos dão conta da nossa condição de subalternidade como, por exemplo, a nossa condição política. A visibilidade da mulher na política no Brasil tem sido um desgaste tremendo”, observa.
“Houve avanços significativos, em especial os políticos obtidos após a aprovação da Constituição com a Bancada do Batom, momento único da vida política das mulheres e seu protagonismo”. Nessa época elevou-se de 1,9 % para 5,3% a representação feminina no Parlamento.
Na opinião de Vera Bertoline, essa foi apenas uma onda com as mulheres desaparecendo do cenário político aos poucos, sendo usadas como laranjas por conta dos sistemas de cotas e, posteriormente, sendo descartadas politicamente pelos dirigentes partidários.
“A visibilidade para a desigualdade se manteve, mas não vejo avanços no ponto de vista de igualdade de gênero, nem no trabalho, nem na política e, de forma muito pesada, a gente vê a questão das violências”, enfatiza.
A professora aponta um recente retrocesso nas políticas públicas, não apenas para as mulheres como para as minorias em geral, capitaneada pelo presidente Jair Bolsonaro.
“Houve um retrocesso enorme do ponto de vista do lugar para as mulheres e vai demorar ainda muito tempo para que a gente retome o enfrentamento, o lugar a que nós mulheres merecemos para que consigamos avançar de forma efetiva”, ressalta. “Espero que a gente consiga reintegrar, no nosso cotidiano, o respeito que as mulheres merecem nos diversos espaços que foram conquistados ao longo da nossa vida como democracia”.