Sem acesso ao fundo eleitoral e com apenas R$ 700 do próprio bolso para gastar nas eleições deste ano, a funcionária pública Ana Cláudia Lima (MDB), de 40 anos, precisou estudar por conta para descobrir como colocar de pé sua primeira candidatura a vereadora em Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo. A opção mais viável foi investir em um curso rápido a distância. Na internet, não faltam opções a partir de R$ 39,30.
Com conteúdo focado no ambiente digital, os cursos geralmente são feitos a partir de videoaulas, liberadas após pagamento por boleto ou cartão de crédito. Tudo é online. Para o diretor-presidente da Escola do Parlamento da Câmara Municipal de São Paulo, Alexsandro Santos, a proliferação desses cursos é mais um sinal de que os partidos políticos não estão cumprindo seu papel de formar novos quadros.
"Aprendi a definir os temas de campanha e a não sair atirando para todos os lados", disse Ana Cláudia, que hoje tem propostas direcionadas a jovens, mulheres e desenvolvimento sustentável. Nas redes sociais, publica textos quase diariamente e já colhe os resultados: seu perfil no Instagram passou de 200 seguidores, no início da campanha, para quase 1 mil.
"Eu não tinha ideia de como se planejava uma campanha. Agora, sei produzir textos, vídeos, usar as ferramentas gratuitas da internet e me comunicar com o público", afirmou Ana Cláudia, que diz não ter recebido formação do partido.
Eleita em 2016 com 1.178 votos, Daniela Hall (PSD), de 43 anos, tem hoje mais de 14 mil curtidas no Facebook e quase 3 mil seguidores no Instagram. Vereadora em Dourados (MS), ela comemora o sucesso no WhatsApp. "Com as técnicas que aprendi, saímos de uma lista de 5 mil para 20 mil pessoas que salvaram o meu número."
Aproximação
Com o novo canal, consegue manter contato diário com a população informando sobre projetos de lei e propostas para o próximo mandato, caso se reeleja. "Foi uma oportunidade de aproximação e engajamento com eleitores."
Tanto Ana Cláudia como Daniela usaram os serviços do professor de marketing político digital Marcelo Vitorino, que trabalhou na campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência em 2018. Ele já vendeu mais de 10 mil acessos a seu curso Eu vereador, com duração de seis horas e valor de R$ 119,90.
"Neste ano, além do habitual, montei um pacote de cursos rápidos e baratos, com linguagem simples, focada nos candidatos sem recursos. Para complementar, ensino a usar WhatsApp, fazer lives, produzir fotos e vídeos com o próprio celular", afirmou o especialista que, antes da pandemia, também dava aulas presenciais na ESPM.
De acordo com dados atualizados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a concorrência é alta. São 517 mil postulantes a vereador este ano - cerca de nove candidatos, em média, para cada cadeira de vereador no Brasil. Nas capitais, a relação chega a ser de 36 concorrentes por vaga, como em São Paulo.
Em 2016, Suzana Duarte (Cidadania), de 48 anos, disputou o cargo de vereador mas ficou de fora. Neste ano, tenta novamente uma vaga na Câmara Municipal de Lages (SC) e com uma campanha focada na internet.
Suzana comprou o e-book de marketing político de Andréa Artigas, disponível na plataforma Hotmart por R$ 39,90 à vista ou em três vezes de R$ 13,30. Especialista em comunicação pública, a jornalista já vendeu o material para mais de 1,6 mil pessoas, a maioria homens (73%), com idade entre 35 e 44 anos (56%), de São Paulo e do Rio Grande do Sul.
A aposta do e-book é na "humanização das postagens" nas mídias sociais, segundo Andréa. "As pessoas nas redes sociais estão cansadas de panfletagem. A gente concorre com vídeo de gatinhos, viagens. Por isso, é preciso criar narrativas. Tocar na dor das pessoas para, depois, oferecer a cura."
O conteúdo inclui sugestões de postagens diárias, técnicas de engajamento e orientações de como impulsionar publicações no Facebook.
Também há cursos gratuitos oferecidos por centros de formação ligados aos próprios Legislativos, como a Escola do Parlamento, que oferece até pós-graduação (lato sensu). O diretor, Alexsandro Santos, diz que há 75 alunos hoje nesta modalidade, reconhecida pelo Ministério da Educação e com 420 horas de duração. Santos ressalta o fato de os partidos ficarem de fora desse processo. "São eles que têm de oferecer formação aos candidatos. Aliás, uma parcela do fundo partidário é dedicada a isso", disse. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.