Os adiantamentos de cronograma de vacinação são cada vez mais recorrentes, por parte de Estados, municípios e, agora, do Ministério da Saúde. Na segunda-feira, 21, o número de pessoas vacinadas com ao menos uma dose contra a covid-19 no Brasil chegou a 64.436.634, o equivalente a 30,43% da população total. Em 24 horas, 1.249.278 receberam a primeira dose, de acordo com dados reunidos pelo consórcio de veículos de imprensa. Mas o que mudou? Conforme especialistas ouvidos pelo Estadão, uma série de fatores permitiu melhorar as expectativas quanto à imunização, incluindo previsão maior de produtos, de tipos diferentes, e a capacidade já instalada de aplicação.
Oferta de vacinas
A população brasileira apta a receber a vacina é estimada em 160 9 milhões de pessoas. O País tem pela frente, portanto, a meta de atender cerca de 97,8 milhões e ainda garantir que não falte a segunda dose nos casos necessários. A principal diferença está nos cenários do início da campanha e de agora. Entre janeiro e março, o Brasil recebeu um total de 44,1 milhões de doses - número insuficiente para a vacinação deslanchar. Já a previsão entre julho e setembro, considerando apenas os lotes contratados soma 172,5 milhões. Esse quantitativo supera, por si só, o público total.
Tipos diferentes
O cardápio de imunizantes aumentou e passou a incluir mais vacinas com intervalos longos ou até mesmo de dose única, como a Janssen. Nos três primeiros meses da campanha contra o novo coronavírus, o Brasil só tinha dois imunizantes à disposição: Coronavac, da farmacêutica chinesa Sinovac e fabricada pelo Instituto Butantan, e AstraZeneca/Universidade de Oxford, produzida pela Fiocruz. A primeira vacina chegou a corresponder a quase 90% das doses aplicadas no País. O intervalo recomendado para a dose de reforço da Coronavac, no entanto, é curto: três a quatro semanas. Em um cenário com poucas entregas, isso obriga o gestor de saúde a manter estoque para não comprometer a imunização completa de quem já foi atendido. Já o intervalo da AstraZeneca e da Pfizer, vacina que começou a chegar ao País a partir de abril, é de três meses. Em julho, a projeção do ministério é de que esses dois imunizantes representem cerca de 75% dos novos lotes disponíveis no Brasil, o que jogaria mais para frente a preocupação em garantir a segunda dose. Na prática dados das Secretarias de Saúde mostram que a prevalência da primeira dose já vem aumentando. Na semana passada, por exemplo, 91,4% dos imunizantes aplicados foram para pessoas novas, enquanto a segunda dose representou 8,6% do total. Esse cenário é oposto ao do mês de abril, que chegou a registrar dias com 53% das doses reservadas para o reforço.
Capacidade instalada
Um dos desafios do Brasil é manter o alto ritmo de imunização diária. Considerando os vacinados desde o início da campanha, a média da primeira dose tem de subir de 402,4 mil para 957 mil pessoas a cada 24 horas até o fim de setembro. Para pesquisadores, a projeção é factível. “O problema é ter a vacina. Não é a logística”, afirma Walter Cintra, Professor de Administração Hospitalar e Sistemas de Saúde da FGV. Segundo o Ministério da Saúde, o País é capaz de vacinar até 2,4 milhões por dia, mais do que o dobro do necessário para cumprir a meta dada por Queiroga. Na semana passada, a média foi de 1,2 milhão de doses iniciais por dia.
Receios e riscos
Segundo os pesquisadores, existem dois principais riscos de o planejamento de vacinar mais cedo dar errado: haver atrasos importantes na entrega de lotes e falta de adesão da população. Até o momento, a campanha tem sido marcada pela chegada de lotes menores do que o previsto - situação, inclusive, usada por parte dos Estados para evitar divulgar calendários a longo prazo ou estabelecer uma data-limite. “A verdade é que nós dependemos de coisas que vêm de fora do País e a capacidade efetiva de ter controle sobre isso é limitada. As doses da Janssen, por exemplo eram inicialmente 3 milhões e passaram a ser um 1,5 milhão”, avalia Walter Cintra. “A outra questão é que precisa ser muita cautela para não faltar a segunda dose dentro do prazo. Ou a gente corre o risco de perder toda a primeira rodada também.” O Ministério da Saúde pretende aplicar a segunda dose até dezembro.