NOTICIÁRIO Quinta-feira, 26 de Junho de 2025, 13:22 - A | A

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MUDANÇA NO JOGO

PSDB avança em federação com Republicanos e aposta em Ciro Gomes, revela Nilson Leitão

Da Redação

Em um cenário de reconfiguração partidária e intensa polarização, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) busca reencontrar seu caminho e seu discurso. Após uma fusão frustrada com o Podemos e resultados eleitorais decepcionantes em 2022, o partido agora aposta em uma nova estratégia para sobreviver e crescer: uma federação com o Republicanos, partido do influente governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. A informação, que pode redesenhar o mapa da centro-direita no país, foi revelada com exclusividade pelo ex-deputado federal por Mato Grosso e presidente do Instituto Pensar Agro, Nilson Leitão (PSDB), em entrevista ao Jornal da Cultura na manhã desta segunda-feira (23).

Segundo Leitão, as conversas estão avançadas e uma decisão pode ser selada ainda esta semana. "A informação que posso dar a vocês, não sei se em primeira mão, é que esta semana o PSDB deve se acertar com os Republicanos em relação à federação", afirmou. Essa aliança, se concretizada, criaria um novo bloco de oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), potencialmente atraindo outras siglas como o Cidadania e o próprio Podemos.

Além da movimentação partidária, Leitão trouxe à tona outra cartada que a cúpula tucana considera para revitalizar a legenda: a filiação do ex-governador do Ceará e ex-ministro Ciro Gomes (PDT). O convite já foi feito e a eventual chegada de Ciro é vista como uma solução para a mais grave crise do PSDB: a perda de sua voz e de sua identidade.

"O Ciro Gomes, se for para o PSDB, pode tirar o partido desse perfil de linha auxiliar que está sendo apresentado hoje", avaliou Leitão, reconhecendo que o partido "perdeu o discurso com a sociedade" e falhou em se comunicar durante a polarização entre Lula e Jair Bolsonaro.

Nilson Leitão disseca as razões do fracasso da união com o Podemos, define o PSDB como um partido de "centro-direita com membros de centro-esquerda", projeta o tabuleiro para 2026 e fala sobre seu próprio futuro político, sem descartar uma candidatura ao Senado por Mato Grosso.

Fusão fracassada e a crise de identidade

O ponto de partida da análise de Nilson Leitão foi a tentativa de fusão com o Podemos, um movimento que gerou grandes expectativas, mas que naufragou antes de chegar ao porto. O motivo, segundo ele, foi uma divergência intransponível sobre o comando da nova sigla. 

"A condução do processo foi feita de forma constitucional por todos os dirigentes", iniciou Leitão, explicando que uma comissão foi formada para negociar os termos da união. O impasse, no entanto, surgiu de uma demanda específica.

"Houve uma divergência sobre a presidente (Renata Abreu) do Podemos, que gostaria de ficar permanentemente, por quatro anos, no comando da executiva desse novo partido. O que não houve foi um acordo", revelou. A contraproposta do PSDB era um modelo de alternância de poder, com revezamento no comando do partido e de suas secretarias internas nas duas primeiras eleições. Sem consenso, a fusão foi abortada. "Ele [o Podemos] não aceitou o modelo. Acabou tomando a decisão certa em não fazer a fusão. O que nos resta agora é somente a federação".

Esse episódio, para Leitão, é sintomático de um problema muito mais profundo: a crise existencial do PSDB. Ele não hesita em fazer um diagnóstico duro e autocrítico. "O PSDB realmente se apequenou. Ele perdeu o discurso com a sociedade, não conseguiu convencer a população nesse momento de polarização e não conseguiu se comunicar direito. Temos que assumir isso", declarou.

A principal falha, em sua visão, foi a incapacidade do partido de se posicionar claramente no embate entre Lula e Bolsonaro. "O eleitor não entendeu onde ficou o PSDB. Com a disputa entre Bolsonaro e Lula, ficou a impressão de que o PSDB é um partido totalmente de esquerda. Não é verdade", defende. 

Leitão argumenta que, historicamente, a esquerda sempre foi representada pelo PT e seus aliados. "O que acontece é que, dentro do PSDB, há sim pessoas com uma ideologia de centro-esquerda. Mas o partido, em sua essência, não é de esquerda. O próprio PL, hoje principal partido de oposição, já foi vice de Lula com José Alencar".

Essa ambiguidade, que em outros tempos era vista como uma virtude de moderação, tornou-se um "pecado enorme" no atual ambiente político. "Nesse momento, tem sido um pecado enorme. Exatamente porque querem que você seja pragmático. Se você gaguejar sobre de que lado está, não terá o voto nem de um, nem de outro", lamenta. Pressionado a definir o partido, Leitão é enfático: "O PSDB hoje é de centro-direita. E tem membros que se sentem de centro-esquerda. O que vai acontecer é o que sempre foi".

 Ciro Gomes 

Diante desse quadro, a busca por soluções é urgente. A federação com o Republicanos surge como o caminho mais viável e estratégico. Leitão explica que a aproximação se deve à identidade de oposição ao governo petista. "A informação que tenho é que o Republicanos prefere essa federação com partidos que são de oposição ao PT. O Tarcísio [de Freitas] é do Republicanos, e ele já avisou que vai ser candidato [à reeleição ou presidência] e que ficará na oposição", contextualizou. Essa aliança, segundo ele, tem o potencial de atrair outros partidos órfãos no espectro político, como o Cidadania e até mesmo o Podemos, que ficaria isolado.

Contudo, a principal aposta para uma renovação de imagem e discurso parece repousar sobre os ombros de Ciro Gomes. A filiação do pedetista é tratada como um divisor de águas. "Ciro foi sim convidado. Está evidente que ele quer uma nova motivação, e sua chegada pode fazer com que o PSDB se reconstrua. Ainda há tempo até as eleições de 2024, mas é crucial ter alguém que traga uma liderança nacional nova para o partido", afirmou Leitão.

Tabuleiro de 2026 e MT

Olhando para a sucessão presidencial, Leitão enxerga um "novo tabuleiro" se formando para 2026, principalmente com a provável ausência de Jair Bolsonaro nas urnas devido à sua inelegibilidade. "Estamos em um momento em que se desenha um novo tabuleiro, com a praticamente garantida ausência de Bolsonaro. Isso levará a uma nova etapa da vida eleitoral brasileira. O PSDB não se encaixou na disputa de 2022 porque não se reconstruiu a tempo", pontuou.

A federação com o Republicanos seria o primeiro passo para o PSDB se posicionar nesse novo jogo. Questionado se essa aliança não interferiria na relação do Republicanos com o MDB, Leitão foi direto: "A informação que tenho é que o Republicanos recua de uma federação com o MDB e prefere se aliar a partidos de oposição ao PT".

Conforme o ex-deputado, houve uma divergência entre Republicanos e MDB em função do período de desembarque dos partidos do governo Lula. Enquanto Republicanos promete deixar cargos em agosto deste ano, o MDB estaria resistente ao processo. Esse choque é o que teria interrompido a federação, até bem pouco dada como certa.

Questionada sobre essa informação prestada por Leitão, a deputada estadual Janaina Riva, que deve assumir a presidência do MDB no estado em agosto, disse desconhecer o recuo. "Eu não recebi nenhuma informação neste sentido. Para mim não chegou absolutamente nada diferente do que eu já sabia: a federação mesmo do MDB com o Republicanos. Desconheço qualquer informação diferente dessa. Eu soube que havia uma conversa para o PSDB também estar nessa federação. Mas sobre a possibilidade de o MDB não estar, eu desconheço", disse a parlamentar ao Nossa República

Traduzindo o cenário nacional para seu estado de origem, Mato Grosso, Leitão descreve um PSDB que, apesar das dificuldades nacionais, mantém uma estrutura sólida sob a liderança do deputado estadual Carlos Avalone. Em contrapartida, o Podemos está "praticamente esvaziado". A grande movimentação esperada é a filiação do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Max Russi, ao Podemos. Hoje ele ainda está no PSB, mas já organiza a sigla de destino. 

"O Podemos em Mato Grosso ainda não tem ninguém de peso, mas tem a promessa da ida do presidente da Assembleia, que considero hoje entre os quatro ou cinco principais líderes políticos de Mato Grosso. Acho que ele lideraria esse novo momento automaticamente, por sua força e posicionamento", avaliou.

 Futuro político

Ao final da entrevista, Nilson Leitão foi questionado sobre seu próprio futuro político. Ele disputará as eleições de 2026? A resposta foi de um político experiente que deixa todas as portas abertas.

"Essa é uma grande pergunta", respondeu com uma pausa. "Depois que a gente vê a matéria, se anima ao perceber que há pessoas dispostas a discutir o estado. Não sei para qual cargo, qualquer situação está aberta. Se eu entender que for útil, colocarei meu nome para Deputado Federal, porque construí uma biografia sólida. Mas eu tenho amigos que cobram uma candidatura majoritária, e isso pode acontecer. Vamos analisar nos próximos meses".

A sua principal motivação, segundo ele, é a frustração com a pobreza do debate político atual, tanto em Mato Grosso quanto no Brasil. "Vejo muitos candidatos, mas poucos projetos, seja à direita ou ao centro. É essencial que se discuta o desenvolvimento do estado. Não vejo ninguém discutindo isso", criticou.



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