O governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, afirmou nesta terça-feira (24) que o governo estuda a possibilidade de não executar o retaludamento da região do Portão do Inferno, na MT-251, entre Cuiabá e Chapada dos Guimarães. A decisão ainda não é definitiva, mas reflete os desdobramentos técnicos identificados durante a execução do projeto, que revelou inconsistências em estudos anteriores.
“Foi identificado, em um estudo mais geológico, mais profundo, algumas inconsistências nos estudos iniciais, o que demandou da Sinfra um aprofundamento na análise técnica da solução”, declarou o governador durante entrevista. Segundo ele, “uma coisa é você fazer um estudo preliminar, como foi feito, um estudo emergencial, tomar as decisões que naquele momento precisavam ser tomadas. Mas, quando iniciou-se o projeto, verificou-se algumas diferenças geológicas que não foram percebidas”.
Mendes destacou que sondagens adicionais foram realizadas no local, inclusive com o uso de maquinário especializado no topo da encosta para avaliar a real composição da rocha. “Foi uma mobilização de recurso e de complexidade gigante”, relatou. O esforço incluiu guindastes e limpeza de acesso para a instalação de equipamentos no alto do morro.
Embora o governador relate "surpresa" com a situação, o retaludamento já havia sido questionado por um estudo feito pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), encomendado pela Prefeitura de Chapada dos Guimarães. À época, o levantamento indicava que o solo da região apresentava fragilidades que poderiam comprometer a eficácia do retaludamento e sugeria a análise de soluções alternativas. A intervenção mais viável, segundo o estudo, seria o viaduto. O estudo é assinado pelos geólogos Caiubu Kuhn e Flávia Regina Pereira Santos, perlo engenheiro civil e de Segurança do Trabalho, Renan Rodrigues e pelo geógrafo Cleberson Ribeiro de Jesuz.
"A opção do viaduto sobre o Portão do Inferno, pode ser a melhor opção, por representar o menor impacto ambiental, e por permitir que o fluxo de veículos continue normalmente na via. Porém, pode ser que possua um custo mais elevado em comparação a previsão inicialmente para o retaludamento. As rochas do Grupo Cuiabá, compõem o fundo do vale do Portão do Inferno, e possiem capacidade de suporte para eventuais fundações que venham a suportar a estrutura do viaduto", diz trecho do estudo da UFMT.
Outro trecho do documento salienta que estudo feito pela Secretaria Estadual de Infraestrutura e Logística (Sinfra) para decidir pelo retaludamento trazia inconsistências.
"Estudos da Sinfra indicam que o volume escavado seria de 81.953,00 metros cúbicos de material de primeira categoria e 81.953,00 metros cúbicos de material de terceira categoria. As análises, contudo, foram realizadas com base nas sondagens realizadas nas rochas da Formação Furnas, e somente com o furo horizontal na base da Formaçãpo Botucatu. Observa-se que os volumes estimados no orçamento não guardam relação com a realidade, pois o material a ser escavado é composto de forma integral pelas rochas da Formação Botucatu, e desta forma os dados utilizados para estimativa das características do material não representam as características das rochas a serem escavadas".
Há cerca de um ano, o governo de Mato Grosso ponderou que não consideraria o estudo feito por especialistas da Universidade Federal de Mato Grosso. "Eu tive acesso e não será considerado estudo e opiniões. Todo mundo pode apresentar um. O governo também contratou seu estudo, também passou para seus técnicos, profissionais e tomou a decisão, licitou uma obra e contratou", disse o governador Mauro Mendes em 27 de junho de 2024.
Apesar de ainda não haver uma definição oficial, Mendes indicou que uma resposta técnica definitiva pode ser apresentada em breve. “Eu acredito que estamos chegando no finalmente disso aí. É uma decisão técnica, não é uma decisão do governador ou do secretário, é uma decisão técnica em função dessas novas sondagens que foram feitas”, disse. Ele informou que os técnicos responsáveis prometeram apresentar um veredito até o final deste mês.
“Quando a empresa chegou no local, que acessou tudo, percebeu as dificuldades e aí foi solicitado esse aprofundamento da sondagem”, completou Mendes.
A intervenção no Portão do Inferno teve início em agosto de 2024. O prazo inicial para conclusão da obra era dezembro do ano passado. Como não foi concluída, mais dois aditivos de prazo foram concedidos, o que estendeu o período de trabalho até agosto deste ano. Além disso, houve aditivo financeiro de quase R$ 9 milhões, elevando o custo da obra de R$ 29,5 milhões para 37,5 milhões.
O posicionamento do governador ocorre depois de um movimento feito pelos vereadores de Chapada dos Guimarães, que cobrou explicações sobre a falta de avanço da obra. Os impactos sociais e econômicos que o fechamento do Portão do Inferno tem ocasionado motivaram os parlamentares a protestarem contra a morosidade da obra.
Em entrevista concedida ao Jornal da Cultura, no último dia 12, o presidente da Federação Brasileira de Geólogos, Caiubi Kuhn, lembrou que a obra do retaludamento foi iniciada há mais de 240 dias, não houve nenhuma tipo de paralisação, mas não se observou avanços. Ele destacou que o governo de Mato Grosso já pagou à empresa Lotufo, responsável pela obra, quase R$ 10 milhões. O retaludamento consiste em cortar o morro de cima para baixo e nem mesmo a estrada de acesso ao topo foi viabilizada.
"O ponto é que não andou até hoje o retaludamento propriamente, não foi retirado nenhum bloco, tivemos aditivo de tempo e de recurso. Alertamos que o prazo não era real, o valor não era real, e o prazo e valor hoje também não são reais. Acho que ainda está em tempo (de corrigir o rumo). O mais complicado é a população de Chapada sofrendo com isso. Caiu o movimento de Chapada, custo de produtos aumentou por causa da questão do trajeto, não se tem perspectiva. Tem muitas coisas de impactos negativos recaindo na população de Chapada. Boa parte da população não tem renda elevada. Hoje não vê quando vai se solucionar esse problema. Quem convive direto em Chapada é triste".
Leia mais:
Vereadores de Chapada cobram informações sobre Portão do Inferno