A democracia é invocada constantemente no discurso político. Todos querem mais democracia. Os políticos adoram qualificar suas ações como democráticas ou justificam medidas autoritárias como necessárias para defendê-la de algum inimigo. Este comportamento vem trazendo um enorme desgaste a democracia.
Podemos afirmar que a democracia na verdade não está em crise. O que realmente sofre no mundo hoje são os desejos absolutistas de se auto satisfazer através da vontade dos outros. Esta crise é do individuo que reflete no coletivo e não do coletivo que afeta o individuo.
Democracia não tem um conceito único. Talvez a frase mais comentada no mundo vem de Abraham Lincoln, que afirmou que “a democracia é o governo do povo, pelo povo, para o povo”. Esta é uma fala sobre gestão de poder do Estado, o que não se reflete como um todo também. Muito menos se reduz a ferramentas como o direito de votar. Então afinal, onde está o ponto chave da democracia?
O exercício de liberdade, ou liberdade de escolha, passa muito mais pelo conhecimento que pelo convencimento. E talvez esteja aí o ponto chave. Conhecer para escolher e não ser convencido para escolher. Já que democracia consiste em escolhas, como escolher algo que muitas vezes as pessoas não têm a menor noção do que seja?
Do cristianismo à política atual
Para aumentar a crise, os escolhidos (candidatos) e quem vai escolher (eleitor) se nivelam em desinformação. Logo a culpa não é da democracia e sim do sistema involutivo de conhecimento reinante em muitos países do mundo.
Exemplo: o que faz um vereador? Seria primordial tanto para quem quer ser vereador quanto para quem fará a escolha do vereador saber. Traçando um paralelo com a indústria automobilística, seria como alguém (candidato) convencer o comprador (eleitor) que um fusca fará o trabalho de um trator em sua lavoura. Pior ainda: o eleitor se convencer e comprar! Isso acontece frequentemente na política.
Estes fatores do desconhecimento dificultam o renovar da politica com a qualidade e competência desejada. Quem entende o que pode fazer não convence com suas falas. Já quem não sabe não estabelece limites em suas promessas e acaba ilusoriamente convencendo quem também pouco, ou nada, entende. O resultado deste desastre de conhecimento e informação recai sobre a palavra democracia.
Dois autores conseguiram com uma frase definir muito bem as necessidades da democracia. O primeiro, a meu ver, foi Albert Einstein, quando falou que “o meu ideal político é a democracia, para que todo o homem seja respeitado como indivíduo e nenhum venerado”. O segundo é Fernando Sabino: “Democracia é oportunizar a todos o mesmo ponto de partida. Quanto ao ponto de chegada, depende de cada um”. Entende?