Michely Figueiredo/NR
A democracia não se mede apenas pelo direito ao voto, mas pela qualidade e pela diversidade da representação na arena pública. A trajetória da Professora Graciele, que recentemente assumiu uma cadeira na Assembleia Legislativa de Mato Grosso, é um poderoso lembrete do quanto ainda precisamos avançar para que os espaços de poder reflitam, de fato, a pluralidade da nossa sociedade.
Sua história é a de muitas: mulher, negra, mãe solo, professora, vinda da periferia. São marcadores que, em vez de serem vistos como a riqueza de uma nova perspectiva, são frequentemente transformados em alvos. A violência política que ela sofreu em Sinop não foi um ataque isolado a uma indivídua, mas a manifestação de um sistema que reage com fúria à presença de corpos e ideias que desafiam o status quo. O machismo, o racismo e a intolerância contra visões progressistas são as armas usadas para tentar silenciar vozes que o poder tradicional não quer ouvir.
Quando uma mulher precisa gritar para ser ouvida em uma sala de políticos, quando precisa calcular seus passos por medo de agressão, quando suas propostas são invalidadas por preconceito, não é apenas ela que perde. Perdemos todos. Perdemos a sensibilidade para as mazelas sociais que vozes como a dela trazem ao debate. Perdemos a chance de construir políticas públicas mais justas, que enxerguem as necessidades de quem vive a realidade longe dos gabinetes climatizados.
A defesa de pautas como o combate ao feminicídio, a criação de ferramentas como o Mapa da Violência e a luta por uma educação pública, democrática e humanizada não são "ideologia". São a base para a construção de uma sociedade mais segura e igualitária. A esperança, como bem aponta a professora, reside em educar para desconstruir essa cultura de ódio.
Portanto, defender o direito de Graciele e de tantas outras à plena participação política é mais do que um ato de solidariedade. É uma aposta estratégica no aprofundamento da nossa própria democracia. É lutar por um parlamento que não seja um clube exclusivo, mas um espelho vibrante e multifacetado do povo que ele representa. A política precisa, urgentemente, de todas as vozes.
