BLOG DO MAURO Terça-feira, 15 de Julho de 2025, 10:55 - A | A

Terça-feira, 15 de Julho de 2025, 10h:55 - A | A

DIPLOMACIA EM XEQUE

O abuso tarifário de Trump e a defesa da soberania brasileira

Mauro Camargo

A recente e unilateral ameaça do ex-presidente americano Donald Trump de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, a partir de 1º de agosto, revela um preocupante descompasso na condução das relações comerciais internacionais, que afeta praticamente todos os países e nações do Planeta. No caso do Brasil, essa medida, apelidada de "tarifaço", carece de fundamento econômico e suas justificativas políticas representam uma inaceitável ingerência na soberania do Brasil e na autonomia de suas instituições democráticas. É imperativo que o Brasil mantenha sua postura de diálogo, mas sem jamais ceder à pressão externa.

Dados do Indicador de Comércio Exterior (Icomex), estudo mensal do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), desmentem categoricamente a premissa de um desequilíbrio comercial favorável ao Brasil que justificaria tal taxação. Entre 2001 e 2024, a participação dos Estados Unidos nas exportações brasileiras caiu de 24,4% para 12,2% – uma redução de praticamente 50%. Em contraste, no mesmo período, a China consolidou-se como o principal parceiro comercial do Brasil, com sua fatia saltando de 3,3% para 28%. Mais revelador ainda, no primeiro semestre de 2025, a balança comercial bilateral Brasil-Estados Unidos registrou um superávit de US$ 1,7 bilhão para os americanos, o que significa que o Brasil compra mais dos Estados Unidos do que vende. A alegação de um déficit comercial americano que demande retaliação é, portanto, sem base na realidade dos fatos.

Politicamente, a justificativa de Trump para o "tarifaço" é ainda mais grave. A explícita menção a processos no Supremo Tribunal Federal (STF) e a decisões contra plataformas de mídias sociais americanas ("big techs") como base para a sanção comercial é uma afronta direta à independência do Judiciário brasileiro e um ataque à soberania nacional. A prerrogativa de um país soberano de atuar de forma independente, sem ser objeto de pressões ou retaliações comerciais de governos estrangeiros para influenciar suas decisões internas, é um pilar da ordem internacional. A postura do presidente do STF, Luís Roberto Barroso, ao rejeitar a ideia de perseguição política e atribuir a Trump uma "compreensão imprecisa dos fatos", é um lembrete inequívoco da inviolabilidade das instituições brasileiras.

Diante desse cenário, a conduta inicial do governo brasileiro de buscar o diálogo e a negociação é a via mais sensata. A diplomacia é a ferramenta essencial para gerenciar crises internacionais. Contudo, essa abordagem não significa subserviência. O Brasil não pode e não deve render-se às imposições de Trump ou a qualquer tentativa de interferência em sua política e em seu Judiciário. A firmeza se materializa na regulamentação da Lei de Reciprocidade Econômica, um mecanismo que, publicado hoje, 15 de julho de 2025, sinaliza a disposição do país de responder à altura a medidas unilaterais, encarecendo importações de origens que adotem práticas protecionistas injustificadas. É uma mensagem clara de que o Brasil não será chantageado e que defenderá seus interesses com as ferramentas à sua disposição, dentro das regras do comércio internacional.

Paralelamente, a busca por novos mercados para os produtos brasileiros é uma estratégia essencial para diversificar nossas parcerias comerciais e reduzir a dependência de qualquer mercado isolado. Embora as exportações para a China sejam concentradas em poucas commodities, a pauta de exportação para os EUA é mais diversificada, incluindo manufaturados e produtos de maior valor agregado. A diversificação de mercados não apenas mitiga os riscos de medidas protecionistas como a de Trump, mas também fortalece a resiliência econômica do país, como destacado pela pesquisadora Lia Valls, do Ibre/FGV, ao apontar a complexidade de realocar mercados para produtos manufaturados, em entrevista a Agência Brasil.

Fundamentalmente, essa crise ressalta a urgência da defesa do multilateralismo comercial. Em um mundo cada vez mais interconectado, o unilateralismo e o protecionismo são forças desestabilizadoras que minam a confiança mútua e prejudicam o crescimento global. O multilateralismo, com suas regras claras e instituições como a Organização Mundial do Comércio (OMC), oferece um arcabouço para a resolução pacífica de disputas e para a construção de um ambiente comercial mais justo e previsível. O Brasil, como uma das maiores economias emergentes, tem um papel crucial na defesa desses princípios, que beneficiam não apenas a si mesmo, mas todo o sistema de comércio global, protegendo economias menores de arbitrariedades e promovendo a competição leal.

Em suma, a ameaça de Donald Trump é um ataque à lógica econômica e à soberania brasileira. A resposta do Brasil, combinando diplomacia com a firmeza da regulamentação da Lei de Reciprocidade e a contínua busca por diversificação de mercados, é a rota estratégica correta. A defesa inabalável da autonomia de nossas instituições democráticas e a promoção do multilateralismo são pilares para garantir que o Brasil continue a ser um ator relevante e respeitado no cenário global, incapaz de ser intimidado por caprichos protecionistas ou interferências políticas. A resiliência e a dignidade nacional não são negociáveis.



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