O tabuleiro de xadrez para a sucessão governamental de 2026 em Mato Grosso, que parecia se consolidar em torno de um projeto de continuidade, sofreu um abalo sísmico. De um lado, a força do Palácio Paiaguás, com o governador Mauro Mendes (União Brasil) ungindo seu vice, Otaviano Pivetta (Republicanos), como sucessor e pavimentando sua própria candidatura ao Senado com a bênção do ex-presidente Jair Bolsonaro. Do outro, uma articulação de gigantes políticos que, ao serem isolados, encontraram um no outro a única via para a sobrevivência e a retomada do protagonismo.
A política, em sua essência, é a arte de somar. Mas, em Mato Grosso, ela parece ter se tornado a ciência de reconfigurar os polos a partir da exclusão. O que se desenha no horizonte é uma batalha épica entre a máquina governista, bem azeitada e com apoio nacional, e uma aliança pragmática de lideranças preteridas, unindo forças que, até ontem, pareciam antagônicas.
A estratégia de Mauro Mendes foi traçada com precisão cirúrgica. Com alta aprovação e controle da máquina pública, ele definiu o roteiro: eleger seu leal vice-governador, Otaviano Pivetta, e garantir para si uma das duas vagas no Senado Federal em 2026. Para solidificar esse projeto, faltava a peça mais cobiçada no campo da direita: o apoio de Jair Bolsonaro.
Conforme apurado, essa chancela foi oficializada. Bolsonaro, através do presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, comunicaria ao senador Wellington Fagundes (PL) a decisão de apoiar o grupo de Mendes. A justificativa, segundo fontes próximas, reside na percepção de lealdade do governador às pautas da direita e no entendimento de que o capital político de Bolsonaro já havia sido crucial para a difícil reeleição de Wellington em 2022. Com essa movimentação, o ex-presidente não apenas escolheu um lado, mas efetivamente isolou um dos principais senadores de seu próprio partido, pressionando-o a abandonar suas pretensões ao governo.
Para completar a chapa de Mendes ao Senado, o nome natural que se firma é o do deputado federal José Medeiros, também do PL, fechando um arco de apoio que une o poder estadual e a força do bolsonarismo.
É nesse cenário de exclusão que a nova aliança começa a ser forjada. De um lado, Wellington Fagundes, que mesmo com mais quatro anos de mandato e a presidência regional do PL, vê seu sonho de governar o estado ser minado por uma decisão vinda de Brasília. Apesar de publicamente negar se sentir traído e manter sua pré-candidatura, nos bastidores, a realidade impôs a busca por um novo caminho.
Do outro lado, o senador Jayme Campos (União Brasil), uma das maiores lideranças históricas de Mato Grosso. Em seu último ano de mandato, ele também almeja o Palácio Paiaguás, mas encontra a porta de seu próprio partido fechada pelo correligionário e governador Mauro Mendes. Rejeitado pelo União Brasil, que ele ajudou a construir, Jayme se vê na mesma posição de Wellington: um líder com imenso capital político, mas sem uma legenda para chamar de sua no projeto majoritário.
A máxima de que "o inimigo do meu inimigo é meu amigo" nunca pareceu tão apropriada. A traição, ou o pragmatismo excludente de seus partidos, empurrou os dois senadores para uma mesa de negociações. Juntos, eles representam uma força formidável, somando décadas de experiência, bases eleitorais consolidadas em todo o estado e um profundo conhecimento da máquina pública.
A engenharia de uma chapa improvável
O que torna esta aliança um verdadeiro terremoto político é a sua composição, que transcende as fronteiras ideológicas tradicionais. Para enfrentar a candidatura de Pivetta, a chapa em construção sinaliza uma surpreendente junção de lulistas com a centro-direita mato-grossense.
As especulações, cada vez mais fortes nos corredores de Cuiabá e Brasília, apontam para a entrada de dois nomes de peso para as vagas do Senado: a deputada estadual Janaína Riva (MDB), recordista de votos e com base política própria, e o prestigiadíssimo ministro da Agricultura do governo Lula, Carlos Fávaro (PSD), figura central para o agronegócio e com trânsito livre no governo federal.
Duas composições principais são debatidas: no primeiro cenário, Wellington Fagundes para Governador, tendo Lucimar Campos, ex-prefeita e esposa de Jayme, como vice. A chapa ao Senado seria composta por Janaína Riva e Carlos Fávaro, criando um palanque plural e poderoso. No segundo cenário, Jayme Campos para Governador. Neste arranjo, Wellington poderia permanecer no Senado, atuando como o principal fiador do projeto e Jayme teria a vice para negociação, com a improvável indicação de um nome da centro esquerda, seja Natasha Slhessarenko (PSD) ou até um nome do PT. A composição para o Senado se manteria a mesma.
Essa engenharia política, se consolidada, criaria uma frente ampla com apelo a diferentes setores do eleitorado. Jayme e Wellington trariam o voto tradicional e a capilaridade no interior. Janaína Riva agregaria o voto de opinião, a força feminina e o MDB. Carlos Fávaro, por sua vez, representaria uma ponte vital com o agronegócio e, principalmente, com o governo federal, podendo atrair recursos e investimentos e agregar o lulismo a uma chapa de centro-direita.
Uma batalha em aberto
O cenário para 2026 em Mato Grosso está longe de estar definido. A tentativa de Mauro Mendes de construir uma sucessão controlada e hegemônica gerou, como contraponto, a mais inesperada das alianças. A união de Wellington Fagundes e Jayme Campos, somada à possível entrada de figuras como Janaína Riva e Carlos Fávaro, não é apenas um movimento de sobrevivência, mas uma ofensiva que tem potencial para equilibrar o jogo e levar a disputa a um nível de imprevisibilidade raramente visto.
A grande questão que paira no ar é se essa aliança, forjada na adversidade, terá a coesão necessária para enfrentar a máquina governista e a coesão ideológica do grupo apoiado por Bolsonaro. Os próximos meses serão decisivos para observar se as feridas da traição política são capazes de cimentar uma aliança vitoriosa ou se as diferenças ideológicas e os egos falarão mais alto. Uma coisa é certa: a eleição para o governo de Mato Grosso em 2026 promete ser uma das mais disputadas e fascinantes do país.






