A solução para enfrentar as mudanças climáticas pode estar debaixo de nossos pés. Rochas vulcânicas, formadas por antigas erupções há milhões de anos, têm se mostrado capazes de aprisionar gás carbônico e transformá-lo em mineral. Essa possibilidade é o foco de pesquisa do professor doutor Lucas Rossetti, da Faculdade de Geologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Rossetti coordena o projeto “Avaliação do potencial de reservatórios não-convencionais vulcânicos para o sequestro e armazenamento de CO₂ antropogênico a partir da mineralização de carbonatos”. A iniciativa busca entender se o subsolo brasileiro pode oferecer uma alternativa viável e sustentável para reduzir a concentração de dióxido de carbono na atmosfera.
Um laboratório natural no Brasil
O interesse não é apenas teórico. Desde 2024, parte da equipe realiza trabalhos de campo no Vale do Rio Antas (RS), uma região marcada por grandes derrames vulcânicos. Ali, as rochas basálticas guardam cavidades microscópicas, chamadas de poros, que podem funcionar como reservatórios naturais para o CO₂.
Estudos iniciais, publicados na Journal of South American Earth Sciences e apresentados em conferência internacional na Holanda, mostram cenários distintos: em alguns pontos, os poros permanecem abertos e oferecem grande potencial de armazenamento; em outros, já estão preenchidos por minerais, limitando a capacidade de aprisionamento.
“Entender como esses espaços se formam e se modificam é essencial para avaliar até onde podemos ir no uso dessas formações como aliadas contra o aquecimento global”, explica Rossetti.
Lições da Islândia
A inspiração para o projeto vem de longe. Em setembro, Rossetti visitou a Islândia, onde já existe tecnologia capaz de transformar CO₂ em rocha em escala real. Desenvolvida pela empresa suíça Climeworks e operada pela Carbfix, a instalação consegue capturar até 36 mil toneladas de gás por ano.
O processo é comparado a uma “máquina de refrigerante gigante”: o CO₂ é separado do ar, dissolvido em água e injetado no subsolo a cerca de 700 metros de profundidade. Ali, reage com minerais presentes nas rochas vulcânicas, como magnésio, cálcio e ferro, cristalizando-se em sólidos. “É como se o gás fosse petrificado”, resume o pesquisador.
Ciência, inovação e clima
Apesar dos números islandeses ainda parecerem pequenos diante das 37,4 gigatoneladas de CO₂ emitidas globalmente em 2023, a experiência aponta para soluções de longo prazo. Para Rossetti, adaptar essa tecnologia ao território brasileiro pode representar um avanço estratégico para a transição energética e para a construção de uma economia de baixo carbono.
O projeto, financiado pela Petrobras e desenvolvido em parceria com instituições como a Unipampa, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a Universidade Federal do Rio de Janeiro, também envolve estudantes de graduação da UFMT em programas de iniciação científica.
    





