AMBIENTE INTEIRO Quinta-feira, 20 de Agosto de 2020, 09:58 - A | A

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É PRECISO PUNIR

No Pantanal, 90% dos focos de incêndio são causados pelo homem, diz biólogo

Os olhos do Brasil e do mundo se voltam para o Pantanal que ganhou as manchetes por conta dos incêndios florestais que destroem fauna e flora da maior planície alagada do planeta. Desde 01 de janeiro até 10 de agosto foram detectados 2.284 focos de calor somente na porção interna do bioma em Mato Grosso, segundo o Instituto Centro de Vida (ICV). Deste total, 76% dos focos ocorreram em julho e nos primeiros dez dias desse mês, já dentro do período proibitivo às queimadas.

“Os incêndios de causa natural ocorrem próximos às estações chuvosas, decorrentes de raios, mas na sequência as próprias chuvas os controlam. Esse fenômeno acaba sendo inexpressivo frente aos grandes incêndios que têm origem pela ação direta do homem. O que está acontecendo esse ano no Pantanal não se tinha registro até então”, ressalta Vinícius Silgueiro, coordenador do Núcleo de Inteligência Territorial do ICV.

Os focos de incêndio no Pantanal, cerrado e região amazônica que ocorrem anualmente no período da seca são, de fato, um comportamento natural de renovação da vida nestes biomas, segundo explica o biólogo Romildo Gonçalves. No entanto, o que ocorre este ano, com um número muito grande de incêndios florestais, é o acúmulo de biomassa no ecossistema, muito por conta da falta de manejo.

“Todo ano ocorre fogo na região do Pantanal e 90% dos focos são causados pela ação humana, sendo apenas 5% de causas naturais. Em dez anos não há fogo nessa magnitude, o que faz com que a biomassa acumulada queimasse de alguma forma, seja pela ação do homem ou de causas naturais”, afirma.

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Gonçalves ressalta que, por ter sido 2019 um ano extremamente quente, as atuais condições climáticas (temperaturas altas e clima muito seco) eram previsíveis em 2020. “Foi um alerta para que os gestores públicos fizessem a prevenção o que, infelizmente, não aconteceu”.

Para Vinícius Silgueiro, houve uma correta antecipação do período proibitivo às queimadas, “mas o enfraquecimento dos órgãos ambientais, especialmente na esfera federal, cobra um preço alto em termos de planejamento e tempo de resposta a situações como a que vemos no Pantanal”. Outro aspecto a considerar, segundo ele, é que o discurso oficial, que acena com uma ampla flexibilização das leis ambientais vigentes, ajuda a tornar o cenário ainda mais propício às infrações e crimes ambientais. “Isso estimula aqueles que apostam na impunidade”.

Silgueiro explica que a prevenção pode ser realizada em três grandes frentes: práticas de uso do solo, ou aceiros, sensibilização e campanhas educativas e, principalmente, a fiscalização e responsabilização pelos incêndios detectados nos anos anteriores, que também não deixa de ser uma medida educativa.

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“Essa última frente de ação é fundamental para aumentar a sensação de punição por esse tipo de crime ambiental e prevenirá que cenários como o que estamos vendo nesse ano voltem a ocorrer”, observa.

Romildo Gonçalves ressalta ainda o fato de o país ter as melhores legislações ambientais do mundo, que são instrumentos necessários para fazer a prevenção, controle, fiscalização e educação ambiental.

“É necessária uma fiscalização ordeira, com fiscais de verdade. Já a educação ambiental é informar o produtor rural, orientar o homem do campo e a sociedade e formar brigadas de prevenção e combate aos incêndios florestais. Os governos, seja em que esfera for, têm as ferramentas necessárias para fazer um trabalho que não fazem”.

As consequências para a biodiversidade do Pantanal, considerada reserva da biosfera mundial segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), são enormes, frisa Silgueiro. Análises do ICV apontam que 95% dos focos de calor esse ano no bioma estão incidindo em áreas de vegetação nativa.

“São habitats de dezenas de espécies de animais e vegetais que dependem uma da outra, que são impactadas todas de uma vez. Um verdadeiro colapso ambiental. Do ponto de vista econômico, compromete diretamente o turismo, que depende dessa exuberância natural do bioma para se viabilizar”, acrescenta.

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O aquecimento global e a pressão do homem sobre os ecossistemas é um fato, segundo Romildo. É preciso aprender com os ensinamentos da natureza, entender, se interessar e se desenvolver para que haja mais respeito pelo meio ambiente.

“Não adianta, nesse período, gastar enorme quantidade de dinheiro combatendo fogo no Pantanal. É um dinheiro gasto de forma errônea”, frisa apontando o manejo correto como a principal forma de prevenção.



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