Pesquisa realizada em 3.313 municípios de todos os estados do país revela que 49,9% deles ainda enviam resíduos para depósitos irregulares, os famosos lixões. O levantamento, chamado Índice de Sustentabilidade da Limpeza Urbana (Islu), foi elaborado pela consultoria e auditoria PwC Brasil em parceria com o Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana (Selurb) e mostra também que 17,8 milhões de brasileiros sequer têm coleta de lixo em suas residências. Apenas 3,8% dos resíduos são reciclados.
Com a recente sanção do novo Marco Legal do Saneamento Básico o tema volta à tona, bem como a necessidade de resolver o problema de 3 milhões de lixões existentes em território nacional que seguem poluindo o ar, o lençol freático e o solo. A nova lei prevê o fim dos lixões e a destinação inteligente dos resíduos. Pelas novas regras os municípios têm prazo até o último dia deste ano para apresentar um plano de erradicação destes depósitos.
Enquanto os governantes permanecem “sentados” sobre o problema, muita gente tem procurado fazer a sua parte, seja em ações individuais ou coletivas. Uma dessas iniciativas se chama Revolução dos Baldinhos, premiado projeto de gestão comunitária de resíduos orgânicos surgido em Florianópolis (SC) em 2008 para resolver a infestação de ratos e o surgimento de doenças pelo manejo incorreto do lixo na comunidade Chico Mendes.
O método reaproveita resíduos orgânicos da comunidade para fazer a compostagem usada na agricultura urbana. Os resíduos produzidos pelas famílias são depositados em baldes cedidos pelos idealizadores do projeto e depois recolhidos. Com esse material é feita a compostagem e o adubo e é entregue aos moradores para que utilizem nas hortas e pequenas plantações. Com a separação dos resíduos, o lixo seco segue para a coleta pública.
A empresária Adriana Lopes Sampaio Santos é uma entusiasta dessa iniciativa que levou para a sua escola de educação infantil. “Há algum tempo já separamos o lixo orgânico do reciclável. O primeiro é levado para a composteira e o outro usamos em sala de aula como latas e papel”, diz.
Segundo Adriana, as crianças acompanham todo o trabalho com o lixo orgânico para que aprendam o ciclo de vida e aproveitamento dos resíduos, além da importância dos mesmos para a natureza. “Elas sabem que o lixo vai virar um composto que servirá de alimento para as plantas”.
Com a pandemia esse trabalho foi suspenso na escola, mas não na casa dos alunos. Por meio da parceria com uma empresa de compostagem a empresária encontrou uma maneira de dar continuidade à prática de compostagem com a participação das crianças.
“Continuamos esse trabalho em casa, de forma prazerosa, para que as crianças não percam o hábito”, conta.
Cada aluno tem um baldinho personalizado onde faz a compostagem em casa com a orientação da empresa parceira que entrega e coleta o balde na casa das famílias. No final de um mês as crianças recebem o fertilizante orgânico para usar nas plantas.
“É uma oportunidade de ensinar consciência ambiental para os pequenos e mudar a nossa história aos poucos”, conclui a empresária.
A escola de Adriana é uma das parceiras da Verde Belo Compostagem. Segundo o proprietário Vitor Pegorini Batista, ao receber o relatório mensal da compostagem do seu lixo orgânico o cliente consegue ter uma ideia melhor dos benefícios que a ação dele está gerando para o planeta.
“Cada coleta semanal é pesada e incluída em uma planilha. Ao final de um mês é possível ter uma dimensão da importância dessa ação ecológica”, observa.
Adepta da separação do lixo em casa e preocupada com a destinação do material orgânico que não era enviado para reciclagem, a empresária Yasmin Rojas Fonseca viu na compostagem um nicho de mercado e, assim como Vitor, realiza esse trabalho em Cuiabá atendendo a clientes também em Várzea Grande.
“Com a pandemia as pessoas passaram a ficar mais em casa e, com isso, tiveram uma noção da quantidade de lixo que produzem. Com isso houve um despertar para a necessidade de dar um destino correto aos resíduos”, observa.
Separar o lixo e fazer a compostagem dos resíduos orgânicos é importante quando se sabe que Cuiabá possui apenas um aterro sanitário que recebe de 400 a 700 toneladas diárias de lixo. A coleta seletiva é feita por catadores que recolhem o material reciclável. O orgânico é depositado no aterro. Não há política pública que incentive a comunidade a separar o lixo.