Afinal, o que é machismo? E por que o machismo tem estreita ligação com a violência contra as mulheres? Em uma publicação de 2005, a pesquisadora Maria Cecília de Souza Minayo conta, ao estudar o impacto da violência sobre a saúde, que ficou intrigada com eventos em que os homens apareciam como maioria absoluta.
Minayo começou o seu relato mostrando um estudo de 1983 sobre meninos e meninas de rua, em que os meninos estavam sempre em evidência, mais “Expostos”. Depois, beneficiando-se de um estudo de Simone Gonçalves de Assis sobre “a dinâmica dos infratores”, mostrou que neste quesito os homens formavam a “maioria esmagadora”.
Quando se trata de mortalidade e morbidade decorrentes de acidentes, o estudo de Minayo e Souza de 2003 mostrou mais uma vez a liderança masculina. Quando estudou os óbitos por homicídios, os homens são as principais vítimas e os principais agressores. Estudo de 1998 mostrou também os homens eram os maiores consumidores de drogas. No caso de suicídios, os homens formavam a maioria dos que tiram a própria vida.
Apesar de mais forte, com mais musculatura, Minayo mostra um estudo de Laurenti de 1998 sobre problemas de saúde, circunstâncias que deixam os homens em desvantagem “em quase todas as causas específicas de mortalidade, quando comparada à situação feminina”.
Os homens também estão em desvantagem quando o assunto é a perspectiva de vida. Em 2001, conta Minayo, estudos de Mello Jorge, Gottieb e Laurenti mostram que no Brasil os homens vivem oito anos menos do que as mulheres. Isso se repetiu nos anos seguintes, segundo o IBGE.
Mas viver menos é um fenômeno mundial. No mundo todo as mulheres vivem mais. Então é o homem o sexo fraco, que precisa mostrar-se dono da situação? Dar as ordens? Dizer quem manda, com violência? Vale lembrar que a violência, além de física é também verbal e psicológica.
Entre as principais causas do menor tempo de vida dos homens está a ocupação profissional e o comportamento. Aqui entra o Machismo, um comportamento cultural e ideológico incrustado na estrutura da sociedade, manifestado no modo de ser, no modo machista de pensar e agir.
O modo machista de pensar considera o homem superior à mulher, é quem manda e deve ser obedecido, sem reclamação. Já o agir machista está no interior da sociedade, protegido por uma máscara que lhe garante invisibilidade até que denúncias de violência e preconceito expõem um quadro, infelizmente rotineiro no Brasil.
O agir machista é mais visível quando é denunciado nos serviços de segurança e registrado nas redes sociais. O machismo está também presente nas falas e atitudes de políticos, influencers ou de empresários e gestores. Mais uma vez: a violência não é apenas física, é psicológica, é também verbal, manifesta nas falas, é não verbal, manifesta em gestos e expressões faciais e corporais.
Mas é lá, no universo doméstico, que o machismo é mais perigoso e mais presente. Em 2024 Mato Grosso registrou quase 50 mil denúncias de violência contra as mulheres, na maioria das vezes praticadas por namorados, maridos e ex-companheiros.
Em síntese, o machismo está presente em falas e atitudes de quem recusa às mulheres os direitos que entendem ser exclusivos dos homens. Daí a opressão, coerção, submissão, chantagem, manipulação, agressões verbais, físicas e psicológicas e até assassinatos.