Curiosamente, fecho o ano no texto do Arcano que conduziu 2020. É fato: acasos não existem.
É exatamente isso que o ano (e o Arcano) nos deixa de lição.
Há que se acreditar em algo, seja o destino, intervenção divina ou um plano maior, que foge à nossa limitada compreensão terrena, para justificar as experiências que adquirimos, tudo o que vivemos em meros 365 dias.
O ano que nunca vai terminar.
Que nos provocou a mudar, a sair da zona de conforto sem sequer tirarmos o pijama, nem a bunda do sofá.
O ano que nos obrigou a olhar pra dentro dos lares e de nós mesmos, a organizar as gavetas e prateleiras, consertar coisas, desapegar daquilo que já não nos servia e insistíamos em conservar.
Também desfazer e refazer tantas vezes os planos que pretensiosamente traçamos. Ressignificar a vida, as prioridades, os afetos, as presenças, o mundo.
O ano que nos forçou a enfrentar tudo o que adiamos, empurramos com a barriga, procrastinando - até então - indefinidamente.
Ação. Decisão. Trocar o pneu com o carro em movimento. Sentir o peso dos dias, a falta que o que é aparentemente banal nos faz, a responsabilidade contida nos nossos atos.
Refletir sobre a forma com que estamos todos conectados. Encarar a intensidade do mal que fazemos ao planeta.
Não é agradável, não é fácil. É urgente, é importante, é necessário.
Limitado nosso domínio, nosso espaço, ironicamente expandimos nossos horizontes, nossa consciência.
E ela há de nunca mais retornar ao que um dia chamamos normal.
Mas perdemos apenas a inocência, não as forças.
Nunca mais você, eu, nós seremos os mesmos.
E que isso possa trazer mais conforto, alegria, coragem, fé e entusiasmo ao seu coração.
Que venha 2021. Com ele, novas histórias por contar em novos textos, outros Arcanos e influências.
E novas lições.