Desde pequena, meu sonho era virar “gente grande”. Assim, passei infância e adolescência inteiras em busca desse objetivo dourado, promessa de satisfação plena, quando seria finalmente dona e proprietária do meu próprio nariz, detentora de todo o esclarecimento do mundo adulto, resolvedora de todos os problemas.
Só décadas, um filho, infinitos erros e cabeçadas depois, pude entender o real sentido da expressão.
Ser gente grande não é atingir o tamanho nem o status de adulto. Não é ter todo o conhecimento do universo, o controle de sua jornada. É muito mais do que crescer e ganhar rumo na vida.
Ser gente grande é ser capaz de pensar, sentir, sonhar, trabalhar, lutar, conquistar, ... viver grande. É ter grandiosidade na essência, na alma, nas atitudes.
É despir-se de toda vaidade para aceitar o não saber. Abraçar imperfeições com a força de quem não resiste, transformando a queda em impulso para subir ainda mais. É saber transparecer. Adaptar-se de peito aberto às mudanças.
Gente grande enxerga longe, dá passos largos, abraça o mundo, ilumina o dia com um sorriso, torna sua presença forte aonde quer que vá.
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E gente pequena não é criança. Criança pode ser infinitamente maior do que a gente, na sua sabedoria profundamente simples de ser.
Gente pequena é aquela que cultiva a pequenez de alma, que precisa diminuir o outro para sentir-se um só tiquinho maior e menos miserável. É gente que vê o mundo de baixo para cima, que procura pedras, poeira e migalhas pelo chão.
Gente que não aprendeu a dividir nem agradecer. Que esquece que ninguém chega a lugar algum ou atinge um objetivo sozinho. Que não sabe, não quer e nem se esforça para amar.
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Gente que chuta, que passa rasteira, que ignora o que está fora do raio do seu próprio umbigo, que sobe na cadeira e faz discurso para que o mundo note sua presença minúscula, zero carisma.
Ensinem às crianças que mais importante do que crescer é tornar-se grande. É ser estimado, nobre, leal, capaz de grandes gestos, sem deixar nunca de encará-los como pequenas ações.
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Alguém que consegue compreender e não se deixar abater pela pequenez alheia. Que aprende a dar às pessoas pequenas a devida importância, adequada à sua dimensão: mínima.
É ser alguém imenso, descomunal, gigantesco, mas que não se permite ter o ego inflado a ponto de se tornar um balão de ar, que se estoura, murcha e fica, tal como sempre foi em verdade, pequeno. Vazio.
Alguém que se permita, e permita aos outros, as pequenas grandes alegrias da vida. As maiores recompensas por ser e estar aqui.
Kelly Taya 24/08/2020
Si, amei o texto, e me identifiquei muito. Eu nunca fui pequena, sempre sonhei e busco ser grande. E me esforço a ensinar minhas filhas a se tornar grande também. ^^
Simara 22/08/2020
Era criança querendo ser adulta... Hoje sou adulta e queria voltar a ser criança. Rsssss
No 22/08/2020
Muito bom Si! Que a pequenez possa sempre evoluir.
3 comentários