CONTEMPORANEIDADES Sexta-feira, 04 de Setembro de 2020, 05:30 - A | A

Sexta-feira, 04 de Setembro de 2020, 05h:30 - A | A

SILENE FERREIRA

Sobre o tempo, que nunca se perde

Silene Ferreira

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Publicitária, taróloga, estudiosa de Mitologia, Oráculos e do Sagrado Feminino. Geminiana e gateira. Uma mente inquieta, que só sossega escrevendo. No Instagram: @Mythologika

A ternura, esse estado de encantamento instantâneo que nos acomete vez em quando, tem o poder de acordar os olhos para as sutilezas.

E foi assim que, em uma manhã qualquer, saindo da padaria, dei de cara com aquela mancha fofa, uma poodle encardida, que corria de um portão a outro da casa da esquina, latindo, ganindo, desesperada.

Caminhei em sua direção e duas jabuticabas pidonas me encaravam, como se pudessem dizer um “e aí, vai me ajudar ou não? ”.

Já estava atrasada para o trabalho, os pães esfriavam no saco de papel, mas como poderia prosseguir indiferente, com aquele quadro me assombrando, sem um desfecho que me tranquilizasse o coração?

Bati nos dois portões, toquei a campainha. Esperei, solidária, por alguém que pusesse fim à angústia daquela que conquistou minha simpatia por sua inteligência e atitude. Minha nova amiga.

Por fim, a vizinha atendeu, entre adormecida e surpresa. Deu um sorriso sem graça, típico das mães que se distraem em seus breves enlevos particulares, perdem os filhos no supermercado ou no shopping e os encontram, minutos depois, nas mãos de um estranho.

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A pequena entrou rapidamente em casa, abanando o rabinho de contentamento. Parece que deu uma olhadinha para trás, como se me agradecesse. Se foi impressão minha, não sei, mas sorri.

Sorri gostoso, leve. E segui meu dia, com uma sensação boa de presente recebido de surpresa, embrulhada num pacote feito de nuvens, de marshmallow e algodão doce, arrematado com uma fita furta-cor.

Leia mais: Ser gente grande é muito mais do que crescer

Nunca alguns minutos perdidos valeram tanto, ainda que o tempo não falte. Ainda que tudo aconteça no seu devido tempo.

Por isso existe o tempo que vivemos, com toda a rotina, os compromissos, as horas marcadas, a agenda, as mensagens para checar, ler e responder, a pressa e os atrasos.

E o tempo em que realmente existimos. O tempo da consciência, o tempo da delicadeza, o de fazer valer nossa viagem, tempo em que, desamparados como a cachorrinha, tudo o que queremos e precisamos dar e receber é afeto.



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Simara 07/09/2020

Histórias que fazem bem pro coração. ❤️

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1 comentários

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