A primeira história policial que eu li. Uma ilha misteriosa, 10 soldadinhos de porcelana, um poema infantil e muito suspense. ‘E não sobrou nenhum’ é meu livro favorito da Agatha Christie.
Publicado inicialmente como ‘O caso dos dez negrinhos’ - ‘E não sobrou nenhum’ já tem aproximadamente 81 anos de lançamento e é a história de suspense mais famosa do mundo! Isso sem contar que foi eleito o melhor romance policial de todos os tempos. Sim! De TODOS os tempos e é muito bom mesmo, eu posso te provar!
Neste famoso thriller, dez pessoas sem nenhuma ligação aparente são convidadas a passar alguns dias na costa Inglesa de Devon, numa suntuosa mansão localizada na Ilha do Soldado - uma propriedade que pertence ao Mr. Owen, um homem desconhecido, porém muito rico. Cada uma delas têm um motivo inicial para estar ali, algumas a trabalho, outras a passeio e assim por diante.
Após a chegada de todos, as coisas passam a se apresentar de forma esquisita, eles acabam sem saber exatamente o que estão fazendo ali e logo na primeira noite - após o jantar de boas-vindas - uma gravação ressoa no gramofone deixando todos os hóspedes assustados. Segredos de seus respectivos passados são revelados em alto e bom som e é aí que o leitor vai começar a ‘comer’ as páginas para tentar desvendar esse mistério. Acusações são disparadas, seriam criminosos do mais alto requinte de crueldade? Seriam psicopatas com elevado teor de periculosidade? Isso tudo é real? Afinal, o que eles estão fazendo lá?
No momento das revelações, o clima agradável desaparece, dando espaço ao medo e então, a autora começa a apresentar mais a fundo cada um dos personagens e suas respectivas histórias de vida, nos contando sobre os tais crimes cometidos anteriormente. Indivíduos comuns que acidentalmente ou deliberadamente causaram a morte de outras pessoas. O que acontece é que existe uma linha tênue entre homicídio culposo e homicídio doloso.
Como se não bastasse a voz que os acusa, humilha e envergonha, mortes inesperadas também começam a acontecer. Os convidados - que foram até lá para passar um período sabático - começam a morrer. Um por um eles vão sendo eliminados de formas estranhas e as vezes improváveis. Sem ter como se comunicar com o externo devido a uma forte tempestade, o que era para ser um repouso se torna um baita pesadelo.
Não é paranóia se realmente está acontecendo
Por algum motivo, os dez personagens aceitaram o convite para estarem ali e o que eles encontram em seus quartos é o que sustenta e desenvolve a história. Um poema infantil narra como 10 pessoas foram morrendo, uma a uma nas mais diversas condições. Coincidência ou não, na sala de estar da casa há também um tabuleiro com dez soldadinhos de porcelana. Embora publicada em 1939, essa história ainda tira o fôlego e conquista leitores no mundo todo e apesar de antiga, a escrita é fluída, clara e objetiva. Sem contar na ambientação: uma ilha isolada e a chegada de uma tempestade. Completamente sem contato externo e com pouca comida, eles vão começar a duvidar de si mesmos.
Agatha Christie é uma escritora incrível! Conhecida como a rainha do crime, ela escreve de maneira que, ao terminar a leitura, você simplesmente não consegue acreditar em como estava óbvio, mas não conseguiu prever. Um plot twist surpreendente que vai te deixar com cara de bobo.
Desespero e pânico. Todos sabem que não vão sair vivos dali, mas quem será o próximo a morrer e quem está por trás desse plano é uma incógnita. Uma trama bem amarrada, uma história que prende. O livro traz muitos personagens e situações, é necessário atenção para entender todas as nuances do que está acontecendo. Talvez por isso o desfecho não seja esperado. São tantas informações que as pistas passam despercebidas.
Agatha Christie nos traz algumas lições com essa história. É interessante perceber como cada personagem pode ser interpretado como a personificação das fraquezas humanas: imprudência, ambição, vícios, orgulho, religiosidade extrema e mentira. Alguns denotam sentimento de culpa; outros são insensíveis. Além disso, alguns são pessoas da mais alta camada social Inglesa; médico, juiz, general. Ou seja, figuras as quais ninguém imaginaria que poderiam ter sua moral questionada. A autora apresenta também, como o medo e a culpa podem influenciar no comportamento humano; os hóspedes – conforme sofrem o confronto psicológico – vão apresentando mais egoísmo e individualidade, virando-se uns contra os outros sem ao menos perceber que esse comportamento só facilita o trabalho do assassino e coloca a vida deles ainda mais em perigo. Acusações, angústia e confinamento! Este é considerado o maior romance policial de todos os tempos e posso dizer, é merecedor. Simplesmente genial, um verdadeiro clássico de respeito. Descubra por si só porque ‘E não sobrou nenhum’ foi eleito o melhor romance policial da vida!
Como deter um assassino se não acreditam na sua existência?
Havia qualquer coisa de mágico numa ilha, a simples palavra sugeria fantasia. Perdia-se o contato com o mundo. Uma ilha era um mundo próprio, um mundo à parte. Um mundo, talvez, do qual nunca poderemos regressar.
Dois soldadinhos brincando ao sol, sem medo algum, um deles se queimou e então ficou só um. Um soldadinho aqui está a sós, apenas um. Ele então se enforcou e não sobrou nenhum.