LIVROS E OUTRAS LETRAS Terça-feira, 01 de Dezembro de 2020, 16:18 - A | A

Terça-feira, 01 de Dezembro de 2020, 16h:18 - A | A

A CORRENTE – ADRIAN MCKINTY

Limites são relativos

Letícia Franco Camacho

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arquiteta, urbanista e técnica em edificações. Amante da literatura, dos animais e da matemática. @lefcamacho

Quando se trata de quem a gente ama, qual o limite do que é certo e do que é errado? Qual seria esse limite quando se está totalmente desesperado? Dessa vez, a resenha é de um suspense que conta o que Rachel – mãe de Kylie – foi capaz de fazer por amor a filha.

Rachel Klein é uma mulher comum, com uma rotina comum, prestes a começar um novo emprego. Ela sobreviveu a um câncer, está divorciada há um ano e tem uma filha de 13 anos, a Kylie. Em mais um dia normal - como de costume - Rachel deixa Kylie no ponto de ônibus para ela ir à escola e segue sua rotina. Seu telefone toca, número desconhecido. Estranho? Sim, essa é a ligação que vai mudar a sua vida - Kylie foi sequestrada. A voz feminina, quase desesperada atrás da linha diz que não se trata apenas de dinheiro, para que nada de ruim aconteça com a menina e Rachel tenha sua filha de volta, ela vai precisar - além de não chamar a polícia em hipótese alguma - transferir uma quantia em ‘bitcoins’ para uma conta não-rastreável e, como se não bastasse, sequestrar outra criança, passando as mesmas instruções aos pais dela. A sequestradora de Kylie é mãe e seu filho também foi sequestrado, os pais da criança sequestrada por Rachel, terão de fazer o mesmo com o filho de alguém. Uma corrente de sequestros, assim como o nome do livro já diz.

Não é paranóia se realmente está acontecendo

Agora Rachel faz parte da Corrente, um sistema aterrorizante que os chefes criaram para ‘ganhar’ dinheiro sem sujar as próprias mãos, transformando os pais das vítimas em criminosos e fazendo com que eles se encarreguem de tudo, ao mesmo tempo em que alguém fica muito rico. A primeira reação de Rachel é a mais óbvia possível, ela vai se desesperar, vai pensar em chamar a polícia e pedir socorro, mas de alguma forma a corrente sabe de todas as coisas. Eles conseguem controlar e monitorar tudo a todo momento e ela fica impossibilitada de tomar atitudes contrárias. Começa então, o planejamento de um sequestro bem-sucedido, o sequestro de uma criança. Porém, Rachel é um pouco mais astuta, corajosa, inteligente e determinada do que aparentava e é justamente com isso que os líderes da corrente não contavam.

Nessa jornada de completo desespero, ela precisará agir logo, afinal o tempo está passando. Pessoas más estão pressionando pessoas boas a cometerem crimes pela sobrevivência de seus entes queridos. Será que ela vai conseguir quebrar a corrente ou vai ter que se submeter a fazer coisas que até então, abominava? Nessa história iremos sentir como seria ‘pegar no tranco’, principalmente se tem pessoas que a gente ama, envolvidas.

Nunca pare de acreditar

A escrita de Adrian é muito fácil e fluida, é impossível não entrar no ritmo da história e ganhar velocidade, se preparem para a ansiedade. O livro é dividido em duas partes e através de Rachel você irá sentir o chão ser tirado dos pés. Ainda que você imagine um enredo desesperador, não chegará ao sentimento de ler este livro, adorei o rumo para onde a trama foi levada. Além disso, o livro chama a atenção de como estamos expostos nas mídias sociais; endereços, número de telefone, profissão, relacionamento, filhos, hobbies. Aborda questões como a segurança das crianças e pequenos cuidados importantes no nosso próprio dia a dia, além é claro, de um dos pontos mais altos da narrativa; as protagonistas bem trabalhadas e exploradas, a força dessas mulheres. Tanto a mãe, quanto a filha são fortes, determinadas! Que convicção, que coragem! O livro é apoiado no amor entre as duas, o forte laço entre elas. É lindo ‘ver’ a preocupação de uma com a outra, como se completam e se fortalecem. O autor utiliza muito do amor fraternal como forma de solucionar todos os desafios encontrados pelas personagens, passando a mensagem de que o amor é capaz de superar qualquer coisa.

Ainda que alguns acontecimentos em livros do gênero acabem se tornando irreais, não é o caso de ‘A Corrente’; as práticas de Rachel não extrapolam o nosso cotidiano e isso é o mais desesperador de toda a história, pois tudo está bem próximo da nossa rotina simples e diária. Rachel é uma mulher simples como cada uma de nós.

Como deter um assassino se não acreditam na sua existência?

Uma das propostas mais originais e verossímeis que eu já li, ‘A Corrente’ vai além ao mostrar até que ponto podemos chegar para proteger aqueles a quem amamos. Quais atos bárbaros podemos cometer em nome dos nossos? E como se manter mentalmente são depois que tudo chega ao fim? Se é que existe mesmo um fim? O senso comum diz que não existe nada que uma mãe não seja capaz de fazer para proteger seus filhos, o instinto protetor materno é algo que extrapola limites. Simplesmente inexplicável. Uma obra que vai sugar você e que certamente vai provocar aquela reflexão: o que eu faria numa situação como essa?

Sua queda foi vertiginosa e rápida e vai piorar. Sempre piora. Primeiro vem o câncer, depois o divórcio, depois sua filha é sequestrada e então, você se transforma num monstro. A vida é uma cascata de ‘agoras’ caindo um por cima do outro sem nenhum significado nem propósito.



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