“Desde criança sempre admirei a profissão do operador do Direito. Era um sonho poder defender e atuar nos tribunais e hoje esse sonho está ganhando forma. Minha maior dificuldade sempre foi conseguir me manter financeiramente na faculdade. Já os olhos dos conservadores e preconceituosos, esses não me assustam. Os cães latem, mas a caravana passa”. A afirmação é de Daniella Veyga, a primeira transexual a obter o registro profissional na Ordem dos Advogados do Brasil – seccional Mato Grosso (OAB-MT).
Chegar à OAB não foi um caminho fácil, mas certamente não faltou coragem. A advogada conta que ouviu muita gente dizer que ela não era capaz e que universidade não era lugar de travesti.
“A dificuldade em obter o registro foi a mesma de outras pessoas, mas o significado de ser o primeiro registro de uma pessoa trans, isso sim é simbólico. É mostrar que a cada dia vencemos uma barreira e ocupamos espaços que são nossos por direito”, afirma.
Daniella conta que começou o processo transexualizador na adolescência, aos 16 anos, quando passou a enxergar o mundo e a si própria de maneira diferente. “Eu me enxergava feminina, mulher. Tinha aversão às roupas que usava, então comecei a ver que havia algo diferente. E comecei a observar as pessoas”.
Aos poucos ela foi substituindo peças masculinas pelas femininas como blusas, sapatos e acessórios, o que não foi bem aceito na escola onde estudava. Apesar do preconceito enfrentado na instituição de ensino, Daniella contou com o apoio da mãe e diz que a força da figura materna a inspirou a enfrentar as adversidades de cabeça erguida e a concluir os estudos.
“A força de vontade foi importante, poder dizer que somos capazes de estar em qualquer lugar, ocupar qualquer espaço, mas a base familiar foi essencial, bem como o apoio de amigas que me fez progredir”, revela.
Hoje a advogada atua na área de defesa do consumidor, além dos direitos humanos, incluindo as pessoas LGBT. “Esse é por instinto, está no sangue, não tem como negar”, diz.
Além do sucesso profissional, a advogada inclui a igualdade de direitos e a liberdade em sua lista de desejos.
“Sonho em poder viver em um país sem medo de morrer e tendo acesso a todos os direitos”, conclui.