Usar a arte como forma de terapia e tratamento para a saúde mental. Esse é um dos princípios e objetivos da arteterapia, que tem sua base nos conhecimentos sobre as artes e a psicologia. A técnica não é nova e tem respaldo em costumes bastante antigos que, ao longo do tempo, foram sendo estudados e embasaram conhecimentos científicos que permitiram levar esta terapia para dentro dos centros de tratamento.
“Nossos avós tinham uma sabedoria muito grande. Se dedicavam por horas a fio às artes manuais para se distrair, esquecer os problemas, pensar em soluções. Tudo isso é promoção à saúde”, observa Emiliane Silva Santiago, enfermeira e professora adjunta da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus de Sinop. Ela integra um projeto de extensão da universidade em atendimento a pessoas com transtornos mentais.
“Quando a gente tem uma atividade, um hobby que pode ser uma leitura, atividade física, cozinhar, algo que nos traz prazer, esse hábito pode nos ajudar a desfocar do problema e isso é muito importante, especialmente em tempos como esses de pandemia em que ficamos mais isolados. Pode ser também uma forma de aliviar o estresse”, informa.
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A arteterapia como tratamento a transtornos mentais, segundo Emiliane, permite que o paciente, de maneira lúdica e leve, acesse lembranças, memórias, conteúdos que, ao serem identificados pelo profissional, serão trabalhados de maneira mais focada. Por isso precisa estar associada a outros tratamentos – terapia, uso de medicação etc. - para que traga resultados mais satisfatórios.
“Muitas vezes o indivíduo se expressa verbalmente, mas não consegue se fazer entendido, seja por algum bloqueio emocional ou físico. A arteterapia não visa o desenho, a ilustração, a obra feita, mas o que o paciente está tentando expor por meio daquilo”, salienta Adélia Pires de Camargo, psicóloga clínica pós-graduada em terapia cognitiva comportamental.
O isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19 impactou na estabilidade emocional de muita gente e também nesta hora a arte pode ser uma ferramenta importante para trazer um pouco de leveza ao dia a dia.
“Somos seres sociáveis, fomos feitos para viver em sociedade. Contatos são muito importantes, mas foram drasticamente reduzidos no isolamento. A arteterapia pode ajudar a esquecer os problemas, pensar em outras coisas, trazer boas lembranças mesmo estando sozinho em casa. Estratégias para se manter bem podem incluir ainda cozinhar e brincar com os animais de estimação. Mas não adianta fazer por obrigação. Cada pessoa tem que descobrir o que gosta de fazer e se dedicar a essa atividade”, observa Emiliane.
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Adélia ressalta que, normalmente, costuma haver uma resistência inicial que pode ser vencida com persistência, paciência. Aos poucos, segundo ela, a pessoa começa a notar os benefícios como a possibilidade de se libertar de sentimentos como medos e traumas, o que a motiva a continuar o tratamento.
“Percebemos mudanças de comportamento como o resgate da autoestima, confiança e da coragem para se conhecer e se expressar”, diz Adélia.
“Sabemos que está dando certo quando a pessoa vai para a sessão de arteterapia e sai melhor do que entrou”, acrescenta Emiliane.
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Vale ressaltar que a arteterapia não se resume à pintura e desenho. Inclui ainda dança, música, escrita, escultura e todas as demais formas de arte e expressão. O importante, no entanto, é optar por um profissional devidamente qualificado com formação na área como psicólogo, especialista em saúde mental, psiquiatra e terapeuta ocupacional.