#PAPO COM ELA Quarta-feira, 21 de Outubro de 2020, 23:40 - A | A

Quarta-feira, 21 de Outubro de 2020, 23h:40 - A | A

OUTUBRO ROSA

“Em um câncer, tempo é vida", alerta oncologista

Estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca) aponta o surgimento de 66 mil novos casos de câncer de mama no Brasil entre os anos de 2020 e 2022. É a segunda doença mais incidente na população atrás apenas do câncer de pele não melanoma (177 mil casos novos nesse período) segundo a publicação Estimativa de Incidência de Câncer no Brasil. Outubro é o mês de conscientização sobre a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer de mama mas, segundo o mastologista Luciano Florisbelo, este tema deveria ser abordado ao longo do ano todo.

“Quando se fala em câncer de mama é importante frisar que, quanto mais precoce o diagnóstico, melhor será o resultado do tratamento”, diz.

O câncer de mama é o crescimento desordenado de células em uma determinada região (neste caso, as mamas) que, se não tratado, pode migrar para outros órgãos como fígado, coluna, pulmão, dificultando o tratamento.

“Em um câncer, tempo é vida. Quanto mais a gente demora, mais a doença cresce, tanto no local onde ela surge quanto nos locais para onde ela migra. A metástase é o que leva as mulheres a óbito”, enfatiza Willian Ricardo Camarço da Silva, médico especialista em cirurgia oncológica e pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

Segundo ele, a partir dos 50 anos espera-se encontrar câncer de mama em uma a cada 8 mulheres, mas vem sendo notada uma mudança no padrão de incidência da doença.

“Há dez anos as pacientes com câncer de mama com menos de 35 anos representavam de 1% a 2% do total de casos. Atualmente estão na faixa dos 4% a 5%, o que ainda é uma proporção considerada baixa”, frisa.

Por isso o Inca orienta o rastreamento a partir dos 50 anos enquanto entidades como a Sociedade Brasileira de Mastologia e a de Cirurgia Oncológica recomendam que o rastreamento tenha início a partir dos 45 anos.

“Mulheres com histórico de câncer de mama na família devem fazer o rastreamento mais cedo já que a carga genética é importante nestes casos”, ressalta Florisbelo.

Por rastreamento entende-se a realização da mamografia que demonstrou ser o exame mais efetivo na redução da mortalidade por câncer de mama por causa do diagnóstico precoce. Há ainda o ultrassom e a ressonância magnética como ferramentas para a detecção da doença.

Um dos aliados na detecção precoce do câncer de mama é o autoexame. Nele é possível detectar nódulos acima de 2cm, ou seja, em fase inicial. Nódulos menores são localizados por meio de exames como ultrassom e mamografia.

Os principais sinais e sintomas suspeitos de câncer de mama são nódulo (caroço) fixo e, geralmente, indolor; mudança na posição ou formato do mamilo; vermelhidão, retração ou aparência de casca de laranja na pele do seio; saída espontânea de líquido pelo mamilo e caroços no pescoço ou axilas. 

“O acompanhamento do tumor em fase inicial acontece com mais frequência no consultório privado onde as pacientes fazem um acompanhamento anual”, destaca Luciano Florisbelo que aponta as “várias realidades do país”. “Há as pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) que não têm acesso ao profissional e não fazem o autoexame, há as que identificam o tumor e procuram um médico e as que não conseguem assistência no SUS porque o exame solicitado demora seis meses para ser feito”, diz.

Estudo de 2018 da Sociedade Brasileira de Mastologia em parceria com a Rede Brasileira de Pesquisa em Mastologia revela que o percentual da cobertura mamográfica de 2017 nas mulheres na faixa etária entre 50 e 69 anos atendidas pelo SUS é o menor dos últimos cinco anos.

Enquanto eram esperadas 11,5 milhões de mamografias, foram realizadas apenas 2,7 milhões, uma cobertura de 24,1%, bem abaixo dos 70% recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

“Quando a gente pensa em saúde suplementar o acesso é mais rápido. Há muitas mulheres com a doença e poucos centros que fazem o tratamento adequado ao câncer de mama”, observa Willian Camarço.

Apesar de não haver dados oficiais sobre o impacto da pandemia na detecção e tratamento do câncer de mama, os especialistas revelam que houve, em muitos casos, o agravamento da doença.

“A maioria dos serviços oncológicos não parou, mas criou-se um temor na população que se isolou em casa. Com isso os exames de rastreamento foram deixados de lado e, consequentemente, a doença cresceu nesse período”, observa o cirurgião oncológico.

Além da quimioterapia, a cirurgia é um dos tratamentos disponíveis. Vale ressaltar que mulheres que passaram pela mastectomia (retirada total das mamas) têm a reconstrução mamária amparada pela lei nº 13.770 que garante a cirurgia plástica reconstrutiva de forma imediata ou, quando isso não for possível, após a mulher alcançar as condições clínicas exigidas.

A boa notícia é que as chances de cura do câncer de mama chegam a 95% se ele for detectado precocemente, o que pode ser feito por meio do autoexame e também da consulta frequente ao médico.

Segundo Willian Camarço, pacientes que não apresentam sintomas devem fazer uma consulta anual. “A partir do momento em que há alguma alteração benigna o acompanhamento deve ser a cada seis meses. Quem teve a doença passa por tratamento ao longo de um ano com acompanhamento mensal e, após esse período, é feita uma avaliação a cada seis meses ao longo de cinco anos. Fala-se em cura após cinco anos de controle”, explica.

Quanto aos fatores de risco, além da hereditariedade há a ingestão de alimentos ricos em gordura ou industrializados, ingestão de bebida alcóolica, sobrepeso, tabagismo e sedentarismo.

Segundo o pesquisador da UFMT, não existe qualquer relação do uso de anticoncepcional com o câncer de mama, mas a literatura especializada já traz uma relação da terapia hormonal para mulheres que estão na menopausa e fazem uso de hormônio por mais de dez anos. Neste grupo há uma incidência um pouco maior da doença.

Entre os fatores de proteção para o câncer de mama estão a amamentação (quanto mais a mulher produz leite, mais as células mamárias são renovadas e mais protegida ela está), alimentação saudável, prática de atividades físicas, evitar bebidas alcóolicas e manter o peso adequado. Essas ações são capazes de evitar 28% de todos os casos da doença.



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