Em entrevista ao “Jornal da Cultura”, da rádio Cultura FM 90.7, na manhã desta quarta-feira (22), o presidente estadual do Partido Liberal (PL), Ananias Martins Filho, confirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro comunicou à direção nacional do partido seu apoio à pré-candidatura de Otaviano Piveta (Republicanos) ao governo de Mato Grosso. Apesar disso, Ananias garantiu que a pré-candidatura do senador Wellington Fagundes (PL) segue mantida e que o presidente nacional da sigla, Valdemar da Costa Neto, ainda o apoia para a disputa.
Confrontado pelos jornalistas Antero Paes de Barros e Michely Figueiredo sobre a notícia de que Wellington teria sido “defenestrado” pela cúpula do partido, Ananias negou o termo, mas confirmou a veracidade da informação central. Segundo ele, a reunião entre Bolsonaro e Valdemar, na qual o apoio a Piveta foi externado, de fato ocorreu. “Essa reunião houve. O presidente Valdemar se reuniu com o presidente Bolsonaro na segunda-feira”, admitiu Ananias, que revelou ter tomado conhecimento do fato pela imprensa ao desembarcar em Brasília. “Nós ficamos sabendo pela mídia”.
Ananias Martins Filho relatou que a informação foi confirmada em conversa posterior com o próprio Valdemar da Costa Neto. No entanto, ele fez questão de ressaltar que a palavra final sobre o destino do partido no estado não pertence a Bolsonaro. A prerrogativa, segundo ele, é exclusiva de Valdemar. “A candidatura de governo pertence ao presidente Valdemar da Costa Neto”, frisou, acrescentando que a orientação nacional prevalecerá. “Quem vai definir? Quem vai decidir? A direção nacional através do presidente Valdemar da Costa Neto. Cachoeira não corre ao contrário, ela sempre é de cima para baixo”.
A principal tese defendida por Ananias durante a entrevista é que, apesar da sinalização de Bolsonaro, a candidatura de Wellington não está descartada. Pelo contrário, ele afirmou que Valdemar da Costa Neto expressou, em conversa realizada no dia anterior, seu desejo de que o senador mato-grossense siga no projeto. “O presidente Valdemar externou que o Wellington é candidato do PL ao governo do estado de Mato Grosso. Que o partido está à disposição do Wellington”, declarou Ananias.
Essa posição cria um impasse claro, já que o maior líder do partido, Jair Bolsonaro, indicou preferência por um candidato de outra legenda, enquanto o dono da estrutura partidária, Valdemar, supostamente banca o nome local. Ananias evitou classificar a situação como um confronto direto. “Eu não vou falar que ele [Valdemar] contraria, eu não posso fazer isso”, disse, mas reforçou que “o presidente Valdemar é o dono da articulação principal de candidatura a governador”.
O presidente estadual do PL também abordou a crescente articulação de prefeitos eleitos pelo partido, como o da capital, Abílio Brunini, Cláudio Ferreira (Rondonópolis), Flávia Moretti (Várzea Grande) e outros, que se movimentam em favor de Otaviano Piveta. Ele admitiu que a participação dos gestores “tem um significado muito grande”, mas buscou minimizar o impacto da rebelião, afirmando que eles têm “lealdade ao Partido Liberal”.
Ele detalhou uma reunião entre ele, Wellington Fagundes e Abílio Brunini, na qual o prefeito de Cuiabá teria se comprometido a permanecer “no projeto do PL”, mas com a ressalva de que não subiria no palanque caso certas alianças fossem firmadas, numa referência à aproximação de Wellington com o MDB, partido da deputada estadual Janaína Riva, sua nora.
Ananias Martins reconheceu que essa articulação com o MDB foi usada como “narrativa” para desgastar a pré-candidatura de Wellington. Ele utilizou uma metáfora para descrever a situação. “Muitas vezes, quando um casal quer se separar, uma unha encravada é motivo. Aquilo lá é a gota d'água pra entornar o copo”, disse, admitindo que a aproximação foi um erro estratégico. “Eu acho que naquele momento, sim, não precisaria de ter extrapolado essa aliança, visualizado essa aliança tão claramente nesse momento. É uma aliança que poderia ser feita nos quarenta e cinco do segundo tempo”.
Apesar da forte oposição interna e do posicionamento de Bolsonaro, Ananias insistiu que Wellington Fagundes não pode recuar. “O senador tem que continuar com tesão de candidatura, não pode baixar a temperatura da sua organização”, afirmou. Ele também descartou a hipótese de o senador deixar o PL para viabilizar seu projeto em outra sigla. “Eu não acredito nessa hipótese. O senador Wellington está convicto em essa candidatura dele. O PL é uma grife”.
Ao final, Ananias reforçou que sua missão é lutar pela candidatura própria do PL, mas que irá cumprir a determinação final de Valdemar da Costa Neto, que, segundo ele, “irá se pronunciar em breve” sobre os rumos do partido em Mato Grosso. A situação deixa o futuro político do PL no estado em um cenário de completa indefinição, aguardando o arbítrio do presidente nacional para resolver o conflito entre seu principal líder e sua estrutura partidária local.






