Líder do governo na Câmara, o deputado Ricardo Barros (PP-PR) afirmou neste domingo (30) que as manifestações contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) antecipam a corrida eleitoral ao Palácio do Planalto.
Segundo Barros, os protestos deste sábado (29) abrem a disputa de 2022 entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O petista não participou dos atos, mas líderes da legenda foram às ruas.
"A polarização está consolidada. A terceira via vai se dividir em muitas candidaturas. Como se diluem as candidaturas, a tendência é Lula e Bolsonaro no segundo turno", disse Barros à Folha de S.Paulo.
Houve protestos contra Bolsonaro com milhares de manifestantes em várias cidades do país. Os atos foram realizados em todas as capitais brasileiras, com grandes concentrações em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Barros disse que os protestos foram "dentro da normalidade" e não geraram preocupação no governo. "Não conversei com o presidente [sobre os atos]. Eu mesmo não achei que foi grande coisa", afirmou.
O deputado afirmou que, após os protestos deste sábado, grupos de esquerda perderam os argumentos para criticar aglomerações promovidas por Bolsonaro durante a pandemia. O presidente costuma ir a atos de apoiadores.
"Foi muito útil que tenham feito isso. Criticam de forma tão convicta as mobilizações do presidente e de repente fazem a mesma coisa. Pelo menos este assunto fica superado", disse o deputado.
Para o líder do governo, os protestos ainda esvaziam críticas da CPI da Covid no Senado Federal sobre aglomerações promovidas por Bolsonaro.
Aliados do presidente repetiram argumentos de Barros de que a esquerda não pode mais criticar aglomerações de Bolsonaro. Também minimizaram o tamanho dos protestos de sábado.
"Ontem mais uma máscara caiu", escreveu o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) nas redes sociais. Segundo o filho 02 do opresidente, a oposição só criticava "aqueles que vão para as ruas" por não conseguir mobilizar atos volumosos.
O ministro das Comunicações, Fábio Faria, chamou os atos da esquerda de "propaganda gratuita" a Bolsonaro.
"O brasileiro precisa rememorar essa turma que estava escondida dentro de casa e só destilando ódio pelas redes sociais", afirmou o ministro no Twitter. "O fato é que o discurso de ser contra ir às ruas é fake", disse, em outra publicação.
O deputado Marco Feliciano (Republicanos-SP) disse à Folha que as manifestações foram "pífias e vergonhosas". "A oposição fez realmente o isolamento. Marcou a passeata e ninguém foi", afirmou.
Para o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), uma das lideranças do centrão, ainda falta o "polo moderado" ir para as ruas. Segundo ele, essa fatia da população "é o maior e se decepcionou com os extremos".
"Ainda não está mobilizado e não sei se estará por falta de uma plataforma e de um líder", disse Ramos à Folha.
Já a deputada bolsonarista Alê Silva (PSL-MG) afirmou que a busca pela "terceira via" fortalece a candidatura de Lula.
"Observando as cenas das manifestações da esquerda, nunca estive tão convicta de que estou do lado certo. A quem procura uma terceira via, com isso fortalecendo o lulismo, é isso mesmo que vocês querem para o Brasil?", escreveu a deputada nas redes sociais.
Liderados por centrais sindicais, movimentos sociais e partidos de esquerda, as manifestações foram alvo de críticas por acontecerem presencialmente em meio à pandemia da Covid-19. O país ultrapassa 450 mil mortes pela doença -com cerca de 2.000 em 24 horas.
Pelo menos nove capitais, além do Distrito Federal, têm ocupação acima de 90% dos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
A recomendação para o uso de máscaras teve ampla adesão. Porém, houve aglomerações em descumprimento a regras de distanciamento social sugeridas por especialistas para conter a disseminação da Covid-19.
Mais cedo, em entrevista à Rádio Jovem Pan, Barros minimizou aglomerações em atos políticos durante a pandemia.
"As pessoas têm usado máscaras. Aliás, não existe nenhum estudo científico que prove que máscara diminui a contaminação", disse Barros. Autoridades sanitárias, contudo, recomendam o uso de máscaras.
Segundo o líder do governo, os protestos da esquerda, neste sábado, foram uma reação a manifestações pró-Bolsonaro. Ele citou como exemplo o ato no Rio de Janeiro, no dia 23, que reuniu o presidente e motociclistas.
"Eles estão tentando usar a mesma linguagem", afirmou Barros à Folha.
Segundo o deputado, Bolsonaro demonstrou mais força política do que a esquerda nestes atos.
"O apoio é ao Bolsonaro [nos atos pró-governo] e a sua reeleição. A mobilização das esquerdas é contra o presidente, mas os grupos de oposição não estarão no mesmo palanque em 2022", disse o deputado.
No ato de domingo passado, Bolsonaro estava acompanhado do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. General da ativa, ele está na mira da CPI da Covid no Senado.
Na segunda-feira (24), após a ida de Pazuello ao palanque político ao lado do presidente, o Exército abriu um procedimento disciplinar contra o general da ativa.
Integrantes da cúpula da Força pressionam para que seja cumprido o regulamento da instituição. Bolsonaro, Pazuello e militares do governo dizem que o ato com os motociclistas no Rio de Janeiro não foi político.