Estudo realizado pela Associação das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) quer desmistificar a ideia de que os ônibus são um local de contágio maior do novo coronavírus que outros ambientes.
O levantamento, intitulado Análise da Evolução das Viagens de Passageiros por ônibus e dos Casos Confirmados da Covid-19 conclui que não há indicação de que o aumento do número de passageiros transportados esteja relacionado ao crescimento do número de casos da doença.
O estudo foi feito a partir da análise de dados do número de passageiros em 15 sistemas de transportes públicos urbanos por ônibus no Brasil, que correspondem a 171 municípios, e a ocorrência de casos da Covid-19 confirmados nas cidades.
"O setor de transporte público sofre muito devido à falta de informações corretas. Ele ficou sendo visto como um local de alto risco, por isso fizemos a pesquisa. Ela mostra que o sistema possui segurança. As empresas atuam com protocolo de segurança e saúde, como a higienização dos ônibus, o uso de máscara, janelas abertas e a informação certa de como se transmite a doença”, diz o presidente da NTU, Otávio Cunha.
Ele esclarece, ainda, que o estudo foi submetido a três profissionais da área da medicina que atestaram a veracidade dos dados. Segundo Cunha, outros estudos estão em desenvolvimento. "Continuamos fazendo pesquisas nos mesmos sistemas, para vermos a evolução e para termos mais segurança e tranquilidade. Ultrapassamos a fase mais crítica e estamos iniciando a retomada das atividades. Vamos informar os usuários corretamente. Para isso, precisamos da ajuda de todos, da imprensa ao poder público."
Foram considerados 255 registros de informações dos sistemas de transporte público coletivo. A análise foi feita comparando-se os registros confirmados da covid-19 nas cidades, observados sete dias após a demanda transportada - em caso de contaminação do passageiro durante a viagem. Esse seria o prazo médio entre a eventual infecção e a detecção da contaminação por testes.
"O risco que se mostra dentro do transporte público é o mesmo que em outros ambientes onde está mais de uma pessoa em um espaço", diz o diretor técnico da NTU, André Dantas.
Sobre as dificuldades em cidades onde os coletivos andam com superlotação, que dificulta o distanciamento, André Dantas cita que as "evidências científicas mostram que o uso de máscaras por todos, mesmo onde exista uma superlotação, além dos cuidados das empresas, pode diminuir drasticamente o contágio".
Na opinião de um conceituado médico pneumologista que prefere não se identificar, as informações fornecidas por essa pesquisa são contrárias ao que se conhece até agora de estudos científicos.
“O estudo foi feito por uma entidade que não é científica, é do setor de transportes. O fato de ter sido avalizado por três médicos não significa nada já que não se sabe quem são os médicos, que qualificação eles têm, que interesse eles têm e se há alguma ligação com a empresa”, observa.
Além disso, o especialista apontou a falta de informações sobre a metodologia utilizada no levantamento, bem como os critérios para inclusão e exclusão de pessoas.
“Não há nada de científico nesse estudo que possa assegurar essa informação de que o risco de transmissão seja pequeno nos veículos de transporte coletivo”, ressalta. “É melhor se basear em estudos científicos e nas publicações de revistas especializadas, ou nas orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e Secretarias de Saúde que são mais consistentes cientificamente”, finaliza.