Os Estados Unidos iniciaram uma investigação interna sobre práticas comerciais brasileiras que consideram "desleais", conforme informações divulgadas pelo jornalista Rafael Cardoso, publicadas pela Agência Brasil. Entre as questões consideradas, estaria o sistema de pagamento Pix. As críticas ao sistema brasileiro são contextualizadas pela possível concorrência com plataformas como o WhatsApp Pay e bandeiras de cartão de crédito norte-americanas, além do papel do Pix como alternativa ao dólar em certas transações internacionais.
A medida foi anunciada pelo representante de Comércio dos Estados Unidos, Jamieson Greer, por meio de um documento intitulado "Investigação da Seção 301 sobre Práticas Comerciais Desleais no Brasil". Embora o Pix não seja mencionado diretamente, o texto faz referência aos "serviços de pagamento eletrônico do governo". O documento especifica que "o Brasil também parece se envolver em uma série de práticas desleais com relação a serviços de pagamento eletrônico, incluindo, entre outras, a vantagem de seus serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo".
Um dos pontos levantados nas análises é a suspeita de que o Banco Central (BC) teria favorecido o Pix em detrimento do WhatsApp Pay em 2020. Em junho daquele ano, o WhatsApp havia anunciado que o Brasil seria o primeiro país a receber uma nova funcionalidade de envio e recebimento de dinheiro via aplicativo. No entanto, uma semana depois, o BC e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) suspenderam a funcionalidade, justificando a necessidade de avaliar riscos e garantir o adequado funcionamento do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), além de potenciais riscos à concorrência.
A economista Cristina Helena Mello, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), avalia que a medida tomada pelo BC à época foi condizente com a regulamentação vigente. Segundo a economista, "o WhatsApp criou uma forma de transferência de dinheiro de pessoas para pessoas, mas estava fazendo isso fora do sistema financeiro legal. Não estava fazendo com integração com o nosso sistema financeiro. Portanto, escapava da regulação do Banco Central, o que fere regras brasileiras de acompanhamento de transações monetárias".
A economista da PUC-SP também observa que a aceitação do Pix em transações internacionais em alguns países, como Paraguai e Panamá, onde comerciantes passaram a aceitar pagamentos diretos de brasileiros, pode impactar o uso do dólar. Além disso, ela aponta que operadoras de cartão de crédito norte-americanas podem considerar o Pix Parcelado, com previsão de início em setembro de 2025, como um fator de preocupação, dado que permite parcelamento para o usuário enquanto o recebedor recebe o valor total instantaneamente.
Independentemente das considerações e motivações apresentadas pelos Estados Unidos, o Pix é descrito como um sistema de pagamento com funcionalidades eficazes. Dados do Banco Central indicam que o Pix movimentou R$ 26,4 trilhões em 2024. A economista Cristina Helena Mello afirma que o sistema promoveu a bancarização e a inclusão financeira de parte da população de menor renda e de pequenos negócios, oferecendo agilidade e constituindo um produto competitivo no mercado.






