NOTICIÁRIO Sexta-feira, 27 de Junho de 2025, 13:20 - A | A

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PORTÃO DO INFERNO

Geólogo contradiz governo, afirma que falhas em obra eram previstas e diz que opção é viaduto

Da Redação

A recente declaração do governador Mauro Mendes sobre ter encontrado uma "surpresa" com inconsistências no projeto de retaludamento do Portão do Inferno foi diretamente contestada pelo presidente da Federação Brasileira de Geólogos (Febrageo), Caiubi Kuhn. Em entrevista, o especialista afirmou que os problemas na obra de R$ 37,5 milhões, que visa liberar o tráfego na MT-251, já eram apontados em estudos técnicos ignorados pelo governo. A rodovia, vital para a economia e o turismo de Chapada dos Guimarães, enfrenta restrições há quase dois anos, gerando graves prejuízos sociais e econômicos.

Em uma análise contundente concedida nesta sexta-feira, 27 de junho, aos jornalistas Michely Figueiredo e Antero Paes de Barros no programa Jornal da Cultura (Cultura FM 90.7), o geólogo e professor doutor foi categórico ao desmentir a narrativa do governo estadual.

"Não, não foi a famosa surpresinha geológica. Isso já era previsto, já tinha estudos que indicavam isso", afirmou, referindo-se a um relatório coordenado por ele na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) que já alertava para as falhas no projeto escolhido pela Secretaria de Estado de Infraestrutura (Sinfra).

Projeto falho, custos elevados e obra que "não andou"

O especialista detalhou que a escolha pelo retaludamento (desmonte do paredão rochoso) foi justificada pelo menor custo (R$ 29,5 milhões) e menor prazo (120 dias). No entanto, ambas as premissas se provaram irreais.

"A obra estava comprometida desde o início. O prazo não era real, o custo da obra não era real e a escolha foi ruim", declarou. Quase um ano depois, o projeto já acumula mais de R$ 9 milhões em aditivos, elevando o custo para quase R$ 38 milhões, sem que o trabalho principal tenha começado. "Não subiu um carrinho de mão lá em cima do morro até agora. O retaludamento propriamente dito não começou", enfatizou o geólogo.

Ele explicou que, segundo o próprio site da Sinfra, não há registro de dias de paralisação, o que evidencia que o problema não é burocrático, mas de concepção. "A obra não andou porque o projeto não estava adequado. E pronto."

Inconsistências técnicas ignoradas

Caiubi Kuhn, que é chapadense e tem mestrado e doutorado focados na geologia da região, explicou os erros técnicos primários do projeto, que foram alertados ao governo.

Análise de Rocha Inadequada: O projeto usou dados de sondagem da rocha da base do morro (Formação Furnas, de origem marinha) para analisar a parte superior (Formação Botucatu, de origem eólica). "São rochas com idades diferentes, com características diferentes. Não dá para utilizar a sondagem de uma como referência para a outra. Isso coloca em xeque todo o projeto", explicou. Sem conhecer a rocha a ser desmontada, torna-se impossível calcular com precisão o volume, a dureza e a necessidade de explosivos ou maquinário.
Falta de Acesso ao Topo: Os estudos prévios já apontavam que não havia uma via de acesso viável ao topo do morro, local onde o desmonte deveria começar.
Interdição Total: A execução do retaludamento exigiria a interdição completa da rodovia, isolando Chapada dos Guimarães e agravando a crise social.

"Tudo isso indicava que a obra tinha problemas do ponto de vista geológico, geotécnico, em relação ao prazo e ao custo", resumiu, lamentando que o governo tenha optado por não considerar os pareceres técnicos. "Isso não é uma opinião política ou de boteco. É uma posição técnica”, asseverou.

Impacto econômico e social

O impasse na MT-251 tem gerado consequências severas para a população e os empresários de Chapada. "A população continua pagando mais caro no arroz, no pão, no material de construção. Muita gente desempregada, empresário quebrando", relatou o professor.

Viaduto: a melhor solução desde 2013

O presidente da Febrageo revelou que estudos técnicos desde 2013 já apontavam a solução definitiva para o Portão do Inferno: a construção de um viaduto.

"Você afasta a estrada do paredão. Se tiver uma queda de bloco, não atinge a pista. Resolve o problema para sempre", defendeu. Ele comparou a solução a obras existentes em outras serras do Brasil e afirmou que, embora mais cara inicialmente, seria a mais segura e duradoura.

O túnel seria uma opção melhor que o retaludamento, mas ainda manteria a pista próxima à área de risco. O retaludamento, segundo ele, sempre foi a pior alternativa.

"Talvez hoje a gente já pudesse estar caminhando para a inauguração de um viaduto. Em vez disso, voltamos para a estaca zero", lamentou, alertando para o risco de a obra se tornar "um novo VLT".

Ao final, ele deixou uma sugestão ao governo: "Se quer deixar um legado, um portal de entrada para Chapada... quem sabe futuramente chame Viaduto Mauro Mendes. Seria um atrativo para o turismo, inclusive".



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