NOTICIÁRIO Quarta-feira, 13 de Agosto de 2025, 12:50 - A | A

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BRASIL SOBERANO

Lula anuncia pacote de R$ 30 bilhões e rejeita críticas dos EUA em meio a crise tarifária

Mauro Camargo
Da Editoria

Reprodução Canal GOV

Lula

 

Em um pronunciamento firme e estratégico nesta terça-feira (12), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou um pacote de contingenciamento no valor de R$ 30 bilhões para apoiar os setores da economia brasileira afetados pela recente imposição de tarifas por parte dos Estados Unidos. A medida, articulada pelos ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, visa não apenas mitigar os impactos financeiros imediatos sobre os exportadores, mas também sinalizar uma nova fase na política externa do país, focada na diversificação de parceiros comerciais e na defesa intransigente da soberania nacional.

Durante o evento, que contou com a presença de ministros, parlamentares e lideranças empresariais, o presidente Lula refutou veementemente as justificativas apresentadas pelo governo norte-americano para as sanções. Ele desqualificou os argumentos econômicos e rechaçou o que classificou como uma tentativa de ingerência nos assuntos internos do Brasil, especialmente no que tange ao andamento de processos judiciais na Suprema Corte. A estratégia do governo brasileiro se desdobrará em duas frentes principais: oferecer suporte financeiro para que as empresas nacionais mantenham sua competitividade e, simultaneamente, acelerar uma ofensiva diplomática e comercial para abrir e consolidar novos mercados em todo o mundo. "A crise existe para que possamos criar novas soluções", declarou o presidente, estabelecendo o tom de uma resposta que busca transformar um desafio imposto em uma oportunidade para o fortalecimento econômico e geopolítico do país.

Desconstruindo a narrativa econômica

O corpo central do discurso presidencial foi dedicado a desmontar a principal alegação econômica utilizada para justificar as tarifas: um suposto desequilíbrio comercial desfavorável aos Estados Unidos. Com dados em mãos, Lula apresentou uma perspectiva oposta, argumentando que a relação comercial tem sido, na verdade, amplamente benéfica para a economia norte-americana.

"É inadmissível alguém afirmar que há déficit com o Brasil quando, nos últimos quinze anos, os superávits [dos EUA] alcançaram quatrocentos e dez bilhões de dólares, considerando bens e serviços", afirmou o presidente. "Não é pouca coisa."

Essa declaração busca reposicionar o Brasil no debate, não como um agressor comercial, mas como um parceiro histórico cuja relação bilateral tem gerado vantagens significativas para o outro lado. Ao trazer à tona um número tão expressivo, o governo brasileiro visa expor uma contradição fundamental na argumentação de Washington, sugerindo que as motivações por trás das tarifas podem ser mais de natureza política do que estritamente comercial. A estratégia é clara: transferir o ônus da prova e questionar a legitimidade da medida protecionista.

A defesa da soberania e da autonomia do Judiciário

O presidente Lula dedicou uma parte significativa de seu pronunciamento para abordar o que considera ser a justificativa política velada por trás das sanções: o andamento de processos judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados por atos antidemocráticos. Ele rechaçou qualquer acusação de desrespeito aos direitos humanos ou de falta de lisura no processo, defendendo a autonomia e a integridade do Poder Judiciário brasileiro.

"Nossos amigos americanos, sempre que brigam com alguém, tentam criar uma imagem demoníaca das pessoas com quem estão em conflito", observou Lula, contextualizando a tática como um padrão da política externa dos EUA. "O Brasil, de fato, não tinha razões para ser taxado, e tampouco aceitaremos qualquer acusação de que não respeitamos os direitos humanos ou que nossos julgamentos são arbitrários."

Ele enfatizou que os processos em curso na Suprema Corte são resultado de investigações baseadas em provas e depoimentos de indivíduos que participaram diretamente dos eventos, e não de perseguição política. "O que estamos fazendo é o que é comum em países democráticos: julgando alguém com base em provas coletadas e testemunhas, garantindo o direito à presunção de inocência", disse ele. Para reforçar seu ponto, Lula traçou um paralelo com os Estados Unidos: "Eu disse ao presidente Trump que, se tivesse acontecido no Brasil o que ocorreu no Capitólio, aquela situação estaria sendo julgada aqui também."

Em uma rara menção a um capítulo sensível da história, o presidente relembrou a participação dos EUA no golpe de 1964, afirmando que, embora o país não tenha esquecido, optou por seguir em frente em nome de relações pacíficas. Contudo, a menção serve como um lembrete de que a soberania é um valor inegociável. "A única exigência que precisamos fazer é que a nossa soberania é intocável", concluiu.

A estratégia da diversificação: um mundo além dos EUA

Longe de adotar uma postura de lamentação, o governo apresentou um plano de ação pragmático e otimista para o futuro do comércio exterior brasileiro. A palavra de ordem é diversificação. O presidente Lula deixou claro que o Brasil não ficará refém de um único parceiro comercial e que já está em movimento para expandir suas fronteiras econômicas.

Como prova da viabilidade dessa estratégia, ele anunciou em primeira mão um acordo recém-fechado com as Filipinas. "Acabo de ser informado pelo [ministro Carlos] Fávaro que, nesse momento em que chego à tribuna, estamos fazendo quatrocentos acordos de venda de carne bovina e miúdos para os filipinos. E vamos continuar", comemorou.

O plano é ambicioso e global. O presidente mencionou contatos diretos e planos de viagens para fortalecer laços com gigantes asiáticos e parceiros estratégicos. "Esta semana, liguei para o Xi Jinping e falei sobre a carne de frango, especificamente dos pés de galinha", relatou, ilustrando a disposição para negociar produtos de todos os tipos. Em outubro, a agenda é na Ásia; em janeiro, uma missão com "pelo menos quinhentos empresários brasileiros" desembarcará na Índia, um país visto como um parceiro estratégico em áreas como inteligência artificial, defesa e farmacêutica.

A mensagem para o empresariado brasileiro foi direta: "Precisamos parar de chorar pelo que perdemos e buscar o que podemos ganhar em outros lugares. O mundo é grande e está ansioso para negociar com o Brasil."

Essa ofensiva diplomática inclui também o fortalecimento de blocos como o BRICS. Lula anunciou a intenção de realizar uma teleconferência com os líderes do grupo para discutir formas de aprofundar as relações comerciais entre os países membros, muitos dos quais também enfrentam pressões protecionistas. "É relevante lembrar que o Brasil tem uma balança comercial de cento e sessenta bilhões de dólares [com a China], o dobro da que temos com os Estados Unidos", pontuou, evidenciando a crescente importância de outros eixos econômicos.

O mercado interno como último recurso

Como uma rede de segurança final, o presidente também acenou para a força do mercado doméstico. Caso a busca por novos parceiros externos não compense totalmente as perdas, o governo aposta na capacidade de consumo da população brasileira para absorver parte da produção.

"Se os outros também não quiserem, nosso poderoso mercado interno está à disposição. Precisamos explorar nosso potencial", disse ele. Em tom mais descontraído, ilustrou a resiliência do produtor brasileiro: "Imagino que, das frutas que exportamos para os Estados Unidos, o mercado carioca, mineiro, gaúcho e paulista está pronto para comprar."

Essa menção ao mercado interno cumpre um duplo papel: tranquiliza os produtores nacionais, mostrando que há alternativas viáveis, e envia um recado sutil aos parceiros internacionais de que o Brasil possui uma economia robusta e menos dependente do que se pode supor.

Um apelo ao Congresso e a mensagem final

Ao final de seu discurso, o presidente transferiu a responsabilidade da implementação das medidas para o Legislativo. O pacote de R$ 30 bilhões depende de aprovação do Congresso Nacional, e Lula fez um apelo direto aos parlamentares presentes.

"O time do governo está passando a bola para o time da Câmara e do Senado. A bola está com vocês", disse, utilizando uma metáfora futebolística para urgir celeridade na votação. "Quanto mais rápido votarem... daremos ao mundo uma saída, pois muitos países estão enfrentando dificuldades semelhantes às do Brasil. Mostrando assim: é assim que se faz."

A mensagem final foi de união e resiliência, reafirmando o compromisso do governo com os trabalhadores e empresários. "Aprendemos neste país que ninguém larga a mão de ninguém", concluiu, encerrando o pronunciamento com um misto de pragmatismo econômico, defesa da soberania e um chamado à ação conjunta para superar a crise.



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