O governador Mauro Mendes (União) se posicionou diante do anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar um tarifaço de 50% contra o Brasil, a partir de 1º de agosto. Para o chefe do Executivo Estadual, é preciso deixar o “debate ideológico de lado”, “ter juízo e sensatez” para superar o ocorrido.
“Recebi com muita surpresa e com uma certa preocupação esse anúncio do Trump. Existe muito radicalismo, posições desarrazoadas, talvez de ambos os lados. Nós temos que focar naquilo que produz resultado para o nosso país. Eu não quero entrar num debate ideológico nesse momento, se Lula está certo, se o Bolsonaro está certo. Mas eu acho que o Lula tem que focar no nosso país, nos nossos problemas assim como o Trump”, ponderou.
Mendes lembrou que situações semelhantes já foram presenciadas com países como a China. Nesta passagem, os Estados Unidos chegaram a impor uma tarifa de 145% à China, que reagiu adotando a lei da reciprocidade. Depois de longas tratativas, o índice tarifário caiu para 30%.
“Esses conflitos aí nós já vimos o que aconteceu. Em relação ao tarifaço com a China, não adianta dobrar aposta, porque ele dobra do outro lado e ele é muito grande. Ele consegue fazer isso. Nós temos uma interdependência do comércio Internacional, tanto na via da importação quanto da exportação. O Brasil é um país que precisa dessa boa relação para continuar garantindo o saldo da balança comercial. As contas do governo federal não andam bem. Imagina num cenário de redução de exportação, no cenário onde nós temos desequilíbrios mercadológicos causados por essas interferências. Está na hora de ter juízo, de ter sensatez, colocar o Brasil em primeiro lugar, deixar esse viés ideológico de lado. De fazer aquilo que é bom para o país”, preconizou Mendes.
Assim como o governador Mauro Mendes, a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) também se mostrou preocupada com o anúncio do tarifaço. Hoje o estado envia carne bovina ao país.
“A promessa de taxação em cerca de 50% da carne bovina enviada para os EUA, tarifa essa que retira o nosso produto da concorrência para esse mercado tão importante para o nosso setor. A nova taxação colocaria o preço da tonelada da nossa carne em cerca de 8.600 dólares, inviabilizando qualquer comercialização para o mercado americano”, diz trecho da nota emitida pela entidade.
A Acrimat faz um apelo para que o governo federal use de todos os recursos disponíveis para resolver o problema. “Acreditamos na soberania nacional, mas acreditamos principalmente no bom senso e na pacífica negociação antes de se tomarem medidas intempestivas que podem levar a resultados desastrosos para nossa economia”, diz nota assinada pelo presidente da Acrimat, Oswaldo Pereira Ribeiro Junior.
Os Estados Unidos é o segundo maior comprador da carne produzida no Brasil, ficando atrás apenas da China.
A Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) destacou que o estado, como maior produtor de carne bovina do país, com rebanho superior a 30 milhões de cabeças, pode ser diretamente afetado pela medida. De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), somente em 2024, Mato Grosso exportou 39.039 toneladas de carne bovina para os Estados Unidos, de um total de 303.149 toneladas embarcadas pelo Brasil. Até junho de 2025, as exportações mato-grossenses já somam 26,55 mil toneladas.
“Diante desses números, a Famato alerta que a aplicação dessa tarifa impactaria de forma significativa as exportações do estado, com possíveis reflexos sobre toda a cadeia produtiva. A entidade defende que o Brasil adote uma postura firme e diplomática para preservar a competitividade do agronegócio e garantir segurança jurídica nas relações comerciais”.
A Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja MT) também manifestou preocupação com o anúncio do presidente dos Estados Unidos.
“Os EUA são um parceiro estratégico do Brasil, principalmente no setor agropecuário. Exportamos carnes, café, suco de laranja, etanol de milho e aeronaves da Embraer, que dependem de peças americanas. O aumento nas exportações de carnes influencia diretamente o consumo de soja e milho, já que a a engorda de aves e suplementação nutricional com rações , e o confinamento bovino e são cada vez mais utilizados no Brasil”.
A Aprosoja lembra que óleo diesel, gasolina e nafta são importados dos Estados Unidos, produtos considerados essenciais para a produção e o transporte de alimentos. Máquinas agrícolas de alta tecnologia também compõem esse rol, assim como chips, processadores e sistemas avançados. “Um encarecimento desses insumos elevará os custos de produção e poderá impactar os preços dos alimentos, agravando a inflação”, ponderou.
“O agronegócio representa cerca de 25% do PIB e é o setor que mais cresce na geração de empregos no país. Prejudicá-lo é penalizar diretamente o interior do Brasil, que depende da força do campo para manter sua economia girando. A Aprosoja Mato Grosso, como entidade político-classista, defende seus produtores e alerta que os efeitos dessa guerra comercial podem recair sobre toda a sociedade: com alimentos mais caros, transporte pressionado, inflação elevada e perda de competitividade do setor produtivo. Conflitos que não são nossos não podem gerar prejuízo aos brasileiros. É hora de buscar, com urgência, o caminho do diálogo diplomático”, defendeu.
O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, afirmou que o governo já está agindo de forma proativa, para minimizar impactos econômicos, diante do que qualificou como "ação indecente do governo norte-americano, em taxar em 50% as exportações brasileiras".
"Telefonei para as principais entidades representativas dos setores mais afetados, o setor de suco de laranja, o setor de carne bovina e o setor de café, para que possamos, juntos, ampliar as ações que já estamos realizando nos dois anos e meio do governo do presidente Lula: em ampliar mercados, reduzir barreiras comerciais e dar oportunidade de crescimento para a agropecuária brasileira".
Fávaro destacou que vai reforçar as negociações com os mercados mais importantes do sul da Ásia, do Oriente Médio e do Sul Global, porque são regiões que têm grande potencial consumidor e podem ser uma alternativa para as exportações brasileiras.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira (10), em entrevista à Record TV, que o governo federal vai abrir uma reclamação oficial à Organização Mundial do Comércio (OMC), para tentar reverter as tarifas de 50% sobre exportações de produtos comerciais aos Estados Unidos. Caso não haja sucesso, no entanto, o país adotará retaliações proporcionais, garantiu o presidente brasileiro.
"Não tenha dúvida que, primeiro, nós vamos tentar negociar. Mas, se não tiver negociação, a Lei da Reciprocidade será colocada em prática. Se ele vai cobrar 50% de nós, nós vamos cobrar 50% dele", reforçou o presidente.
A ideia de Lula é que o recurso à OMC seja articulado com outros países que também estão sendo taxados pelos Estados Unidos.