NOTICIÁRIO Quinta-feira, 02 de Outubro de 2025, 06:12 - A | A

Quinta-feira, 02 de Outubro de 2025, 06h:12 - A | A

CRIME DE ÓDIO

Operação desarticula célula neonazista em Mato Grosso

Mauro Camargo com Assessoria

PC

Material nazista apreendido

 

Uma operação deflagrada na manhã desta quinta, 2, trouxe à tona a face sombria do extremismo digital em Mato Grosso. Denominada Encômio, a ação resultou de uma parceria estratégica entre a Polícia Civil de Mato Grosso e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), com o objetivo de reprimir crimes de apologia ao nazismo.

A investigação, conduzida pela Delegacia Especializada de Repressão a Crimes Informáticos (DRCI), com o suporte da Gerência de Inteligência Cibernética da Polícia Civil, identificou um residente de Várzea Grande como suspeito de integrar ativamente grupos extremistas de orientação neonazista em aplicativos de mensagens criptografadas e fóruns online.

O ponto de partida da investigação foi um alerta da Abin, que, por meio de seu monitoramento de fontes abertas (OSINT - Open Source Intelligence) e análise de dados de inteligência, detectou atividades criminosas digitais relacionadas à apologia ao nazismo, crime tipificado no artigo 20 da Lei nº 7.716/1989.

A partir daí, a DRCI empreendeu uma série de diligências técnicas e investigativas, incluindo rastreamento de IPs, análise de perfis em redes sociais e correlação de dados, que não apenas confirmaram a identidade e o endereço do suspeito, mas também revelaram sua conexão com redes de extremismo online, onde eram compartilhados materiais de propaganda e incitação ao ódio.

Com base nas evidências coletadas, a Justiça deferiu mandados de busca e apreensão, incluindo autorização para acessar dispositivos eletrônicos (smartphones, computadores) e dados armazenados em nuvem, buscando por registros de conversas, arquivos de mídia, manifestos e quaisquer outros elementos que comprovassem a prática criminosa e o envolvimento em redes extremistas.

Segundo Guilherme Berto Nascimento Fachinelli, delegado titular da DRCI, a operação evidencia a importância da colaboração interinstitucional e do compartilhamento de inteligência no combate aos crimes de ódio. “A atuação conjunta da DRCI, com o apoio da Diretoria de Inteligência e a parceria com a Abin, reforça o compromisso da Polícia Civil de Mato Grosso no enfrentamento a práticas criminosas que atentam contra a democracia, a ordem pública e os direitos humanos fundamentais”, ressaltou o delegado. Essa cooperação, segundo ele, demonstra a força da sinergia entre as agências de segurança e inteligência do Brasil, crucial para desmantelar redes que operam além das fronteiras físicas.

Felipe Midon, superintendente da Abin em Mato Grosso, complementa essa visão, alertando para os perigos da radicalização online. “Indivíduos radicalizados, além de recrutarem outros para agirem em nome da ideologia que defendem, nesse caso o neonazismo, passam por um processo de reconstrução de sua identidade social, onde o grupo online se torna a principal fonte de validação e pertencimento. Isso pode levá-los a demonstrar disposição para agir violentamente em nome dessa ideologia”, explicou Midon. Ele enfatizou que, na área de inteligência, o trabalho conjunto é fundamental para identificar padrões de comportamento, antecipar ameaças e mitigar riscos. “A Abin, a PJC/MT e outros órgãos parceiros atuam preventiva e conjuntamente, para impedir a mobilização para o ato violento, a propagação de discursos de ódio e a ameaça à sociedade como um todo”, concluiu.

 

A propagação do ódio na era digital: táticas e vulnerabilidades

 

O caso de Várzea Grande não é um fato isolado, mas sim um reflexo de um fenômeno global: o uso estratégico da internet para a disseminação de ideologias extremistas. Grupos neonazistas e de supremacia branca têm encontrado nas redes sociais, em aplicativos de mensagens criptografadas (como Telegram e Discord) e em fóruns online nichados um terreno fértil para recrutar novos membros, propagar discursos de ódio, desinformação e organizar ações coordenadas.

A anonimidade, a capacidade de alcance global e a facilidade de criação de comunidades virtuais facilitam a formação de “câmaras de eco” (echo chambers), onde ideias extremistas são validadas e amplificadas sem contraponto, criando um ambiente propício à doutrinação e à radicalização.

Estudos recentes indicam um crescimento alarmante de células neonazistas no Brasil, que se aproveitam de vulnerabilidades sociais e psicológicas. Esses grupos utilizam táticas sofisticadas de engenharia social para atrair jovens, como o uso de memes com mensagens subliminares ou "dog-whistling" (linguagem codificada), a gamificação do discurso de ódio (com pontuações e desafios para a disseminação de propaganda) e a criação de comunidades virtuais que oferecem um senso de pertencimento e identidade a indivíduos marginalizados ou em busca de propósito.

A pandemia de COVID-19, com o aumento do tempo online e o isolamento social, intensificou ainda mais esse processo de radicalização, expondo indivíduos a narrativas extremistas e teorias da conspiração.

 

A resposta das autoridades: legislação e cooperação

 

Em resposta a essa crescente ameaça, as forças de segurança em todo o país têm intensificado suas ações de inteligência e repressão. Operações como a Shofar, deflagrada pela Polícia Federal, e outras iniciativas estaduais demonstram um esforço coordenado para desmantelar essas redes, identificar seus líderes e integrantes, e levá-los à justiça.

A legislação brasileira, em especial a Lei nº 7.716/1989 (Lei do Crime Racial), é uma ferramenta essencial nesse combate, pois tipifica como crime a fabricação, comercialização, distribuição ou veiculação de símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada para fins de divulgação do nazismo.

A pena para esses crimes é de reclusão de dois a cinco anos e multa, podendo ser agravada se a conduta for praticada por meio de redes sociais, internet ou publicações de qualquer natureza. Além disso, outras leis, como o Marco Civil da Internet, permitem a requisição judicial de dados para auxiliar nas investigações.

Os desafios na aplicação da lei no ambiente digital são imensos, incluindo a transnacionalidade dos servidores, a criptografia de ponta a ponta e a dificuldade de identificar a autoria em plataformas anônimas. Contudo, a cooperação entre agências nacionais e internacionais, juntamente com o aprimoramento das técnicas de investigação digital forense, tem sido fundamental para superar esses obstáculos.

Entenda o nome da operação

O nome “Encômio”, que significa “discurso de elogio”, foi escolhido em alusão à conduta do investigado, que utilizava os meios digitais para enaltecer e promover ativamente a ideologia nazista.

A Operação Encômio serve como um alerta contundente sobre a necessidade de vigilância constante e de políticas públicas eficazes para combater a disseminação do discurso de ódio na internet. Isso inclui não apenas a repressão policial, mas também a promoção da literacia digital, o desenvolvimento de contra-narrativas e a exigência de maior responsabilidade das plataformas digitais na moderação de conteúdo e na cooperação com as autoridades.

A colaboração entre as agências de segurança, a conscientização da sociedade sobre os riscos da radicalização online e a responsabilidade coletiva são elementos fundamentais para preservar os valores democráticos e garantir um ambiente online seguro e livre de extremismo. A Polícia Civil reforça a importância de denúncias, que podem ser feitas anonimamente pelo 



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