De acordo com informações detalhadas pelo jornalista Felipe Pontes, da Agência Estado, a política brasileira foi sacudida nesta sexta-feira (19) por uma ofensiva que atinge o coração da liderança da oposição na Câmara dos Deputados. A Operação Galho Fraco, deflagrada pela Polícia Federal (PF), coloca sob suspeita um montante astronômico de R$ 28,638 milhões em movimentações financeiras atípicas. O foco recai sobre as figuras de Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), atual líder do PL na Casa, e Carlos Jordy (PL-RJ), ex-líder da oposição, além de uma rede de assessores e funcionários partidários que operariam um esquema de desvio de dinheiro público.
O levantamento do sigilo pelo ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), permitiu que o país conhecesse os detalhes de um relatório parcial que aponta para uma sistemática fraude na utilização da cota parlamentar. Segundo as investigações, o grupo utilizava locadoras de veículos de fachada para justificar gastos que, na prática, retornariam para o controle dos parlamentares ou de seus aliados próximos. A imagem mais emblemática da operação foi a apreensão de cerca de R$ 400 mil em dinheiro vivo em um dos endereços vinculados a Sóstenes Cavalcante, um dado que, por si só, altera o patamar da gravidade das acusações.
No centro da engrenagem financeira, a PF identificou a prática do smurfing — uma técnica de lavagem de dinheiro onde grandes quantias são fracionadas em depósitos ou saques de valores baixos (neste caso, nunca superiores a R$ 9.999,00) para evitar o radar automático do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF). Dois personagens ganham destaque no relatório: Adailton Oliveira dos Santos, assessor do PL, que movimentou R$ 11,4 milhões em dois anos, e Itamar de Souza Santana, secretário de Jordy, responsável por movimentar R$ 5,9 milhões. Para os investigadores, esses valores são absolutamente incompatíveis com a remuneração declarada pelos servidores públicos.
O labirinto jurídico e a tutela do Supremo
Sob a ótica do Direito, a Operação Galho Fraco caminha por um terreno fértil em indícios de crimes contra a administração pública e lavagem de capitais. A autorização concedida pelo ministro Flávio Dino, com o aval da Procuradoria-Geral da República (PGR), sinaliza que o STF enxergou a necessidade de medidas invasivas — como a quebra de sigilo bancário de 12 pessoas físicas e uma jurídica — para preservar provas que poderiam ser dissipadas. O compartilhamento das informações com a Receita Federal sugere que a investigação não se limitará à esfera penal, mas avançará sobre o patrimônio e a sonegação fiscal.
A fundamentação jurídica baseia-se na suspeita de utilização irregular da Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar (CEAP). Do ponto de vista técnico, o uso de empresas de fachada para simular a locação de frotas configura peculato e falsidade ideológica, crimes que, somados à lavagem de dinheiro, podem resultar em penas severas. O rito processual agora aguarda a análise do material apreendido (celulares, documentos e mídias digitais) para que a PGR decida pela oferta de denúncia formal, o que poderia levar Jordy e Sóstenes ao banco dos réus em pleno exercício de suas lideranças.
Repercussão: O grito de perseguição e o silêncio estratégico
Nas redes sociais e nos corredores do Congresso, a reação foi instantânea. Carlos Jordy, em tom inflamado, utilizou a data do aniversário de sua filha como um elemento emocional para denunciar o que chama de "perseguição implacável" de Flávio Dino. A narrativa de "perseguição política" é o pilar central da defesa do PL, que busca mobilizar sua base digital sob o argumento de que as instituições estão sendo aparelhadas para neutralizar a oposição. Enquanto isso, Sóstenes Cavalcante adotou uma postura mais reservada inicialmente, enquanto sua defesa técnica avalia o impacto dos R$ 400 mil em espécie encontrados.
Em Mato Grosso, a operação reverberou com força nas bases da direita. Parlamentares como o deputado federal José Medeiros (PL-MT) e a Coronel Fernanda (PL-MT) tendem a fechar fileiras com Jordy e Sóstenes, ecoando a crítica ao ativismo judicial do STF. Para a militância conservadora de Cuiabá e do agronegócio, a Galho Fraco é lida como uma tentativa de asfixiar o principal partido de oposição. Entretanto, para os analistas políticos regionais e formadores de opinião, os dados sobre as movimentações milionárias de assessores são "veneno de rato" para a narrativa ética que o partido tenta sustentar, criando um desconforto visível entre aliados que dependem de uma imagem de integridade para a próxima temporada eleitoral.
A crise de credibilidade das cotas parlamentares
O escândalo trazido à tona por Felipe Pontes atinge um ponto nevrálgico: a transparência dos gastos internos da Câmara. As conversas obtidas pela PF no WhatsApp sugerem pagamentos "por fora", o que desmentiria a tese de gastos meramente administrativos. O uso de "testas de ferro" e empresas que só existem no papel para drenar a verba de gabinete é uma ferida aberta no Parlamento. Se as acusações forem provadas, a "bancada da ética" terá que explicar como milhões de reais públicos foram parar em contas particulares de assessores sem qualquer justificativa plausível.
O desdobramento da Operação Galho Fraco promete ser um teste de estresse para a liderança de Hugo Motta e para a autonomia do Legislativo. Se, por um lado, o PL tenta politizar a investigação, por outro, os fatos narrados pela Polícia Federal possuem uma materialidade que desafia justificativas retóricas. No fim das contas, a operação não é apenas sobre o "galho fraco" da estrutura parlamentar, mas sobre a solidez das instituições brasileiras em fiscalizar quem, em nome do povo, gere o dinheiro do contribuinte.






