NOTICIÁRIO Sexta-feira, 19 de Dezembro de 2025, 12:27 - A | A

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NA MIRA DA PF

Operação Galho Fraco expõe as entranhas do uso de verbas na Câmara

Da Redação com ABr

PF

Dinheiro apreendido na casa de Sóstenes Cavalcanti

 

De acordo com informações detalhadas pelo jornalista Felipe Pontes, da Agência Estado, a política brasileira foi sacudida nesta sexta-feira (19) por uma ofensiva que atinge o coração da liderança da oposição na Câmara dos Deputados. A Operação Galho Fraco, deflagrada pela Polícia Federal (PF), coloca sob suspeita um montante astronômico de R$ 28,638 milhões em movimentações financeiras atípicas. O foco recai sobre as figuras de Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), atual líder do PL na Casa, e Carlos Jordy (PL-RJ), ex-líder da oposição, além de uma rede de assessores e funcionários partidários que operariam um esquema de desvio de dinheiro público.

O levantamento do sigilo pelo ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), permitiu que o país conhecesse os detalhes de um relatório parcial que aponta para uma sistemática fraude na utilização da cota parlamentar. Segundo as investigações, o grupo utilizava locadoras de veículos de fachada para justificar gastos que, na prática, retornariam para o controle dos parlamentares ou de seus aliados próximos. A imagem mais emblemática da operação foi a apreensão de cerca de R$ 400 mil em dinheiro vivo em um dos endereços vinculados a Sóstenes Cavalcante, um dado que, por si só, altera o patamar da gravidade das acusações.

No centro da engrenagem financeira, a PF identificou a prática do smurfing — uma técnica de lavagem de dinheiro onde grandes quantias são fracionadas em depósitos ou saques de valores baixos (neste caso, nunca superiores a R$ 9.999,00) para evitar o radar automático do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF). Dois personagens ganham destaque no relatório: Adailton Oliveira dos Santos, assessor do PL, que movimentou R$ 11,4 milhões em dois anos, e Itamar de Souza Santana, secretário de Jordy, responsável por movimentar R$ 5,9 milhões. Para os investigadores, esses valores são absolutamente incompatíveis com a remuneração declarada pelos servidores públicos.

O labirinto jurídico e a tutela do Supremo

Sob a ótica do Direito, a Operação Galho Fraco caminha por um terreno fértil em indícios de crimes contra a administração pública e lavagem de capitais. A autorização concedida pelo ministro Flávio Dino, com o aval da Procuradoria-Geral da República (PGR), sinaliza que o STF enxergou a necessidade de medidas invasivas — como a quebra de sigilo bancário de 12 pessoas físicas e uma jurídica — para preservar provas que poderiam ser dissipadas. O compartilhamento das informações com a Receita Federal sugere que a investigação não se limitará à esfera penal, mas avançará sobre o patrimônio e a sonegação fiscal.

A fundamentação jurídica baseia-se na suspeita de utilização irregular da Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar (CEAP). Do ponto de vista técnico, o uso de empresas de fachada para simular a locação de frotas configura peculato e falsidade ideológica, crimes que, somados à lavagem de dinheiro, podem resultar em penas severas. O rito processual agora aguarda a análise do material apreendido (celulares, documentos e mídias digitais) para que a PGR decida pela oferta de denúncia formal, o que poderia levar Jordy e Sóstenes ao banco dos réus em pleno exercício de suas lideranças.

Repercussão: O grito de perseguição e o silêncio estratégico

Nas redes sociais e nos corredores do Congresso, a reação foi instantânea. Carlos Jordy, em tom inflamado, utilizou a data do aniversário de sua filha como um elemento emocional para denunciar o que chama de "perseguição implacável" de Flávio Dino. A narrativa de "perseguição política" é o pilar central da defesa do PL, que busca mobilizar sua base digital sob o argumento de que as instituições estão sendo aparelhadas para neutralizar a oposição. Enquanto isso, Sóstenes Cavalcante adotou uma postura mais reservada inicialmente, enquanto sua defesa técnica avalia o impacto dos R$ 400 mil em espécie encontrados.

Em Mato Grosso, a operação reverberou com força nas bases da direita. Parlamentares como o deputado federal José Medeiros (PL-MT) e a Coronel Fernanda (PL-MT) tendem a fechar fileiras com Jordy e Sóstenes, ecoando a crítica ao ativismo judicial do STF. Para a militância conservadora de Cuiabá e do agronegócio, a Galho Fraco é lida como uma tentativa de asfixiar o principal partido de oposição. Entretanto, para os analistas políticos regionais e formadores de opinião, os dados sobre as movimentações milionárias de assessores são "veneno de rato" para a narrativa ética que o partido tenta sustentar, criando um desconforto visível entre aliados que dependem de uma imagem de integridade para a próxima temporada eleitoral.

A crise de credibilidade das cotas parlamentares

O escândalo trazido à tona por Felipe Pontes atinge um ponto nevrálgico: a transparência dos gastos internos da Câmara. As conversas obtidas pela PF no WhatsApp sugerem pagamentos "por fora", o que desmentiria a tese de gastos meramente administrativos. O uso de "testas de ferro" e empresas que só existem no papel para drenar a verba de gabinete é uma ferida aberta no Parlamento. Se as acusações forem provadas, a "bancada da ética" terá que explicar como milhões de reais públicos foram parar em contas particulares de assessores sem qualquer justificativa plausível.

O desdobramento da Operação Galho Fraco promete ser um teste de estresse para a liderança de Hugo Motta e para a autonomia do Legislativo. Se, por um lado, o PL tenta politizar a investigação, por outro, os fatos narrados pela Polícia Federal possuem uma materialidade que desafia justificativas retóricas. No fim das contas, a operação não é apenas sobre o "galho fraco" da estrutura parlamentar, mas sobre a solidez das instituições brasileiras em fiscalizar quem, em nome do povo, gere o dinheiro do contribuinte.



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