Um dos efeitos mais nefastos da pandemia da Covid-19 será percebido nos próximos meses: o aumento no número de mortes de pacientes por doenças crônicas que não buscaram diagnóstico e tratamento no tempo adequado. Estimativas apontam que desde o início da pandemia aproximadamente 60 mil casos de câncer deixaram de ser diagnosticados.
Por isso, os médicos apontam que é de fundamental importância que a população retome sua rotina de cuidados médicos imediatamente, uma vez que o risco das doenças crônicas é maior hoje que o de complicações causadas por uma eventual infecção pelo novo coronavírus. Além disso, os hospitais seguem cumprindo todos os protocolos de biossegurança, definidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e estão prontos para atender aos pacientes de forma segura.
O alto número de pacientes de câncer que deixaram de ser diagnosticados, segundo levantamento das Sociedades Brasileiras de Patologia e de Cirurgia Oncológica, é motivo de preocupação para o Cirurgião Oncológico do Hospital São Mateus, Rogério Leite. Sobretudo porque no caso do câncer, o diagnóstico precoce é fundamental para a remissão da doença.
“Em condições normais, mais da metade dos casos de câncer é descoberta em fase avançada. Com a pandemia, o que vimos, foi um abandono, por parte das pessoas, do tratamento e sobretudo do diagnóstico. Isso significa que daqui a algum tempo teremos um número enorme de casos descobertos em fase avançada, justamente pela falta dos exames e do acompanhamento médico”, pontua Leite.
Números levantados pela Sociedade Brasileira de Patologia com alguns serviços de referência do País mostram a queda expressiva no número de biópsias realizadas. Desde meados de março até hoje, foram 5.940 exames do tipo realizados na rede pública de São Paulo, ante 22.680 biópsias no mesmo período do ano passado. Neste sentido, o oncologista aconselha os pacientes a iniciarem ou retomarem os tratamentos. “Os hospitais e laboratórios já estão preparados com todos os cuidados necessários, não estão lotados e estão aptos e prontos a atender a todos”.
Além do câncer, outras doenças crônicas precisam ser cuidadas, como as ligadas ao coração. Segundo dados do perfil epidemiológico dos hospitais Anahp, doenças crônicas e doenças do aparelho circulatório e nervoso tiveram queda significativa – 23,2%, 20,9% e 26,6%, respectivamente – quando comparados os meses de janeiro a abril de 2019 com o mesmo período em 2020. Nesse grupo estão classificadas doenças de tratamento contínuo, como canceres, infarto, acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca.
Médico cardiologista do Hospital São Mateus, Sandro Andrey Nogueira Franco ressalta que é necessário o retorno dos pacientes, sobretudo porque a fase mais aguda da pandemia já passou. “Não dá mais para ficar escondido, não vale mais a pena. As consultas devem ser retomadas, os exames também. Há segurança suficiente para isso”.
Fluxo
Para assegurar o melhor atendimento aos pacientes eletivos, o Hospital São Mateus tem trabalhado desde o início da pandemia, explica o médico e coordenador de Qualidade da unidade, Jonathan Feroldi. “Inicialmente instituímos um comitê para o enfrentamento da doença, com os outros hospitais da Rede Meridional e esta troca de experiências foi muito importante para termos alcançado excelentes indicadores”.
Entre as medidas adotadas no fluxo assistencial, destacam-se a exclusividade de unidades, como de Terapia Intensiva (UTI) para pacientes com sintomas ou casos confirmados da Covid-19. “Uma das nossas UTIs ficou exclusiva para estes pacientes e quando o número de casos aumentou, fizemos uma terceira unidade, justamente para separar os pacientes”, ressalta Feroldi.
Além das unidades e de um andar exclusivo para os pacientes com a Covid-19, o hospital manteve separados os profissionais em cada setor, ou seja, médicos, enfermeiros e técnicos que atendiam em um setor com pacientes portadores da doença não atuavam em setores com pessoas com outras doenças, pontua o profissional. “E isso valeu também para os equipamentos, tudo para criarmos ambientes livres do vírus. Este foi um grande desafio e hoje podemos afirmar que passar por consultas, exames e procedimentos no hospital é seguro”.