O réu Gilberto Rodrigues dos Anjos, 34 anos, foi condenado a 225 anos de prisão pelos crimes de homicídio qualificado, feminicídio, estupro e estupro de vulnerável contra Cleci Calvi Cardoso, 46 anos, e suas três filhas, Miliane, 19, Manuela, 12, e Melissa, 10. O julgamento foi realizado no Tribunal do Júri da cidade e conduzido pelo juiz Rafael Deprá Panichella, da 1ª Vara Criminal.
O crime, que ficou conhecido como a “chacina de Sorriso”, ocorreu antes da aprovação do Pacote Antifeminicídio, sancionado em 2024, que prevê penas mais severas para casos de feminicídio e homicídios correlatos. Por isso, a sentença foi definida com base na legislação vigente à época do crime.
A condenação encerra um dos casos de maior repercussão criminal de Mato Grosso nos últimos anos.
Gilberto participou por videoconferência e não prestou depoimento em plenário.
O caso foi investigado pela Polícia Civil e apontou que o réu monitorava a rotina das vítimas a partir da obra onde trabalhava, vizinha à residência, antes de cometer os crimes. Segundo os depoimentos colhidos, o acesso à casa ocorreu por uma janela do lavabo, após o réu caminhar sobre o muro.
Testemunhas relataram no plenário detalhes da descoberta dos crimes e da prisão em flagrante do réu. O viúvo e pai das vítimas, Regivaldo Batista Cardoso, descreveu a tentativa frustrada de contato com a família no dia dos fatos e a comunicação à Polícia Militar, que constatou ausência das vítimas na escola e na residência.
Policiais e peritos confirmaram a presença de pegadas e marcas compatíveis com o chinelo de Gilberto na cena do crime, além de roupas e objetos recolhidos na obra onde ele dormia, entre eles uma peça íntima feminina.
O delegado Bruno França relatou que Gilberto confessou o crime na delegacia, afirmando ter agido sob efeito de drogas. Laudos apontaram conjunção carnal com três vítimas e abuso contra a quarta, além de qualificadoras como motivo torpe, meio cruel, impossibilidade de defesa das vítimas e feminicídio contra menores.
Durante a fase de debates, o Ministério Público sustentou a premeditação, destacando que o réu estudou a rotina da família e aguardou o momento em que todas estivessem em casa.
O promotor de justiça Luiz Fernando Rossi Pipino afirmou que havia um “monstro” em Sorriso, que executou um “plano diabólico” e que o julgamento representava “uma guerra do bem contra o mal”.
“O réu monitorou a rotina da família (mulheres, horários, etc), estudou a residência (rota de entrada, desvio dos cães bravos, etc) e executou o plano diabólico com frieza e precisão”, manifestou na apresentação em power point. Verbalmente, ele reforçou essa tese, dizendo que o réu esperou até mesmo as luzes da casa se apagarem para cometer os crimes “com requintes de perversidade e crueldade”.
A defesa técnica reconheceu a autoria e materialidade dos homicídios, mas questionou a configuração dos estupros, defendendo a tese de vilipêndio de cadáver para parte dos casos.
O Conselho de Sentença reconheceu a responsabilidade do réu por todos os crimes imputados na denúncia. A pena fixada será cumprida em regime fechado.
A senadora Margareth Buzetti (PSD) acompanhou presencialmente o julgamento. Foi em razão deste caso que ela propôs qa criação do Cadastro Nacional de Pedófilos e Estupradores. Isso porque ao pesquisar o nome de Gilberto, Margareth não encontrou nada, mesmo ele já sendo condenado em crimes anteriores, cometidos em Mineiros (GO), e Lucas do Rio Verde (MT), como homicídio e estupro e tentativa de feminicídio, em razão do segredo de justiça que envolvia crimes sexuais.
O juiz do caso considerou que o julgamento ocorreu de forma célere, apesar da complexidade do caso, e ponderou estar satisfeito com o trabalho realizado pelo Judiciário.
Relembre o crime
O crime aconteceu na madrugada de sexta (24) para sábado (25) de novembro de 2023, quando Gilberto Rodrigues dos Anjos, conforme já confessado, invadiu a casa das vítimas e cometeu os crimes. Os corpos foram encontrados somente na manhã do dia 27 de novembro de 2023, com diversos ferimentos no corpo e sinais de violência sexual, com exceção da menor de 10 anos.
Na época dos fatos, o réu trabalhava e morava em uma obra ao lado da residência das vítimas. O esposo e pai das vítimas viajava a trabalho, naquela ocasião.
Gilberto Rodrigues dos Anjos foi preso pela Polícia Civil de Sorriso logo após os corpos terem sido descobertos, tendo confessado os crimes em depoimento.