O secretário estadual de Infraestrutura e Logística, Marcelo Oliveira, e o governador Mauro Mendes (União) externaram, na última semana, falta de sintonia sobre a solução para o Portão do Inferno, depois que o retaludamento no local foi descartado pela inviabilidade do projeto. Após anunciar que o túnel seria a intervenção escolhida, o secretário Marcelo Oliveira negou que a decisão já tenha sido tomada e viu sua declaração ser contestada pelo governador Mauro Mendes.
Em coletiva de imprensa na última sexta (18), Marcelo Oliveira negou que tenha anunciado a escolha pelo túnel, embora a assessoria de imprensa da Sinfra tenha publicado no portal, no dia 27 de junho, matéria que confirma a decisão tomada.
“Quem que falou em túnel? Eu não falei. Não sei ainda. Esperar um pouquinho. Talvez dentro de uns quinze, vinte dias, a gente tenha a resposta. Eu, como secretário da Sinfra, estou esperando umas definições. Eu acredito que em quinze, vinte dias, a gente vai ter a definição”, reforçou Marcelo Oliveira.
No entanto, ao ser questionado sobre a postura de Oliveira, o governador Mauro Mendes afirmou que o túnel já foi escolhido.
“Se ele falou isso, é diferente do que ele falou para mim na última reunião. Ele apresentou oficialmente esta solução e eu dei o ok para prosseguir com o projeto. Na última reunião, foi apresentado isso. Eu não converso atravessado. Se eu falei isso publicamente, é porque eu recebi tecnicamente na minha sala, os técnicos junto com o secretário, e me foi apresentado isso. Depois disso, eu nunca mais falei com ele. Se mudou algo, não me foi comunicado ainda. Ele tem que explicar isso. Não sou eu. Eu falei o que ouvi e a minha conversa é papo reto. Eu não tenho medo. Então pode tranquilamente dizer que o governador ouviu da boca dele que a solução é um túnel e que estava aprovado”, disparou Mauro Mendes.
O governador ainda pontuou que o túnel é uma solução um pouco mais cara que o retaludamento, mas não revelou os valores. Quando anunciou a escolha pelo retaludamento, em março do ano passado, o governo estimava um gasto de R$ 29,5 milhões. Contudo, o projeto sofreu aditivo de valor e chegou a R$ 37,5 milhões. Depois de um ano e meio da ordem de serviço, o governo de Mato Grosso anunciou a falta de viabilidade para prosseguir com a intervenção no morro.
Ocorre que especialistas já haviam alertado que o retaludamento não era a melhor escolha para o local. Inclusive, estudos contratados pelo governo de Mato Grosso ainda em 2013 já mostraram que a melhor opção para o Portão do Inferno seria o viaduto. Mesmo assim, no dia 27 de junho foi anunciado o túnel como a solução escolhida.
O presidente da Federação Brasileira dos Geólogos (Febrageo) e professor da UFMT, doutor em geologia Caiubi Kuhn, alerta que o túnel pode não solucionar o problema de deslocamento de blocos, que foi o que levou o governo de Mato Grosso a determinar o decreto de emergência e mudar todo o tráfego na MT-251.
Caiubi destaca que a entrada e a saída do túnel ainda poderão ficar suscetíveis aos deslocamentos e que a obra que colocaria um fim nesse risco seria o viaduto, por passar longe da escarpa do morro.
“Nós tínhamos ali um estudo de engenharia de valor, era uma estimativa ainda muito superficial, mas ele é um pouco mais caro do que a atual solução, mas muito mais barata do que outras alternativas”, disse Mauro Mendes sobre o túnel.
O governador ainda lembrou que o contrato com a Lotufo Engenharia, contratada com dispensa de licitação para fazer o retaludamento será rescindido e que uma licitação será realizada para escolher quem ficará responsável pela nova intervenção a ser feita no Portão do Inferno.
Anúncio do túnel
No dia 27 de junho de 2025, a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Infraestrutura e Logística (Sinfra) publicou no site oficial a seguinte matéria:
“O Governo de Mato Grosso decidiu implantar um túnel na região do Portão do Inferno, localizado na rodovia MT-251, entre Cuiabá e Chapada dos Guimarães. A decisão foi tomada com base em estudos mais aprofundados, viabilizados somente após o início das obras no local.
Atualmente, a Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística (Sinfra-MT) trabalha na elaboração do anteprojeto de engenharia, para realizar a licitação para contratação integrada de uma empresa. A expectativa é que o edital seja publicado em agosto deste ano.
A Sinfra-MT ressalta, que todas as intervenções já realizadas seriam necessárias independentemente da solução final adotada. As ações executadas foram fundamentais para estabilizar o talude e eliminar blocos rochosos que representavam alto risco aos usuários da rodovia.
A escolha pelo túnel representa uma solução com menor impacto social, paisagístico e operacional, além de preservar o entorno da rodovia e permitir a continuidade do tráfego durante a execução das obras.
A mudança no projeto original foi definida após a realização de sondagens geotécnicas, só possíveis com o avanço das obras. Os estudos incluíram levantamentos topográficos com tecnologia de detecção remota e ensaios geofísicos, possibilitando uma caracterização mais precisa da rocha no local.
A reavaliação da alternativa de engenharia também foi recomendada em pareceres técnicos emitidos pelo ICMBio e pelo Ibama.
Desde os desprendimentos rochosos e quedas de blocos ocorridas em dezembro de 2023, a Secretaria de Infraestrutura direcionou seus técnicos e consultorias para uma solução rápida em um momento de crise, para atendimento do risco iminente à vida e a infraestrutura local.
O Governo de Mato Grosso adotou medidas mitigadoras permanentes para garantir a segurança na região. Entre elas, destacam-se a instalação de barreiras dinâmicas e a remoção de grandes blocos de rocha instáveis, que reduziram significativamente o risco de acidentes.
A restrição à passagem de veículos pesados também contribuiu para o aumento da segurança na via, permitindo a adoção de uma solução mais duradoura, como o túnel, mesmo com um tempo de execução mais longo. Inicialmente, a opção pelo retaludamento foi considerada por permitir uma resposta mais rápida à população e à necessidade de restabelecer a normalidade no tráfego”.