NOTICIÁRIO Sexta-feira, 11 de Julho de 2025, 09:27 - A | A

Sexta-feira, 11 de Julho de 2025, 09h:27 - A | A

ANÁLISE POLÍTICA E ECONÔMICA

Tensão geopolítica e impasses domésticos marcaram a semana

Da Redação

A semana que termina foi um turbilhão no cenário político-econômico brasileiro, com a imprensa nacional em peso debruçada sobre as recentes falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mais do que meras pautas informativas, as declarações, proferidas tanto em entrevistas a emissoras de grande porte como durante a Cúpula do BRICS no Rio de Janeiro (ocorrida entre 6 e 7 de julho de 2025), transformaram-se em um catalisador de intensos debates e análises multifacetadas. O noticiário foi dominado pela decodificação das mensagens presidenciais, que oscilaram entre a ambição por maior autonomia no palco global e a complexidade dos entraves internos, evidenciando a crescente polarização e a urgência de respostas em diversas frentes.

O principal epicentro dessa efervescência midiática foi a inesperada escalada de tensão com os Estados Unidos. Em um movimento sem precedentes, o ex-presidente Donald Trump anunciou a imposição de uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras para o mercado norte-americano, com vigência a partir de 1º de agosto de 2025. A justificativa de Trump, expressa em carta a Lula, citou o tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro no Brasil e alegadas "relações comerciais injustas" e "ataques insidiosos contra eleições livres". A medida, a mais alta entre as tarifas anunciadas por Trump naquela semana, foi prontamente interpretada como uma retaliação direta à postura altiva de Lula e ao avanço da agenda de desdolarização do bloco BRICS, uma bandeira defendida por Trump antes mesmo da cúpula.

No Congresso Nacional, a reação à tarifa foi imediata e revelou fissuras internas. Senadores da base governista condenaram veementemente a medida, classificando-a como um ataque direto à soberania nacional, enquanto parlamentares da oposição apressaram-se em atribuir a crise diplomática à política externa do governo, e até mesmo a decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). Em resposta, o próprio presidente Lula classificou as ameaças de Trump como "equivocadas" e "irresponsáveis", enfatizando que "o mundo mudou" e que não se pode "ameaçar o mundo através da internet".

Paralelamente à contenda diplomática, a agenda econômica interna também se manteve sob os holofotes. A insistência do governo em manter o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) — uma medida crucial para reforçar as receitas e alinhar-se às metas do arcabouço fiscal — gerou um ponto de atrito persistente com o Legislativo. Lula defendeu a manutenção do imposto para evitar cortes orçamentários, especialmente em emendas parlamentares, um tema sensível na relação entre Executivo e Legislativo. O impasse regulatório, com decretos presidenciais elevando as alíquotas e um decreto legislativo as derrubando, levou à intervenção do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que suspendeu ambos os atos na semana passada. As alíquotas do IOF permanecem, assim, nos patamares anteriores às propostas de aumento governamentais.

No front externo, Lula continuou a defender uma maior autonomia do Sul Global e a busca por alternativas ao dólar no comércio internacional. Embora a criação de uma "moeda comum" para o BRICS seja amplamente vista como inviável por especialistas e pelo próprio governo brasileiro, o foco recai sobre a modernização dos sistemas de pagamento e o fomento ao uso de moedas locais nas transações comerciais. O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), sob a presidência de Dilma Rousseff, já realiza a maior parte de suas operações em moedas locais, exemplificando essa tendência. Lula reitera que a "desdolarização" é um "caminho sem volta" e que o BRICS representa "um novo jeito de a gente fazer o multilateralismo sobreviver no mundo", buscando uma reestruturação internacional que lide com os desafios do século XXI.

O presidente criticou duramente a abordagem unilateral de Trump, reiterando que qualquer divergência deveria ser tratada em foros multilaterais como o G20, através de uma "discussão civilizada", em vez de ataques comerciais ou via redes sociais, como ocorreu. Lula expressou que não aceitará tal comportamento "desrespeitoso" e afirmou que, no momento, não pretende ligar para o ex-presidente americano, preferindo focar na defesa do setor produtivo brasileiro através da abertura de novos mercados.

Diante do complexo cenário, o ministro Alexandre de Moraes agendou uma audiência de conciliação entre o governo federal e o Congresso Nacional para 15 de julho de 2025, em Brasília, na tentativa de resolver o impasse em torno do IOF. A multiplicidade de temas abordados pelas recentes falas presidenciais – da soberania econômica à reconfiguração da ordem global, passando pela autonomia das instituições e a relação entre os poderes – demonstra que as palavras do chefe de Estado, mais do que nunca, são catalisadores de um debate público multifacetado e de consequências imprevisíveis para o futuro do Brasil.


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