Durante entrevista ao programa "Jornal da Cultura", da Rádio Cultura FM 90,7, o vereador Jeferson Siqueira (PSD) fez duras críticas à gestão do prefeito de Cuiabá, Abílio Brunini (PL), e à atual composição da Câmara Municipal. Na conversa com os jornalistas Antero Paes de Barros e Michely Figueiredo, Siqueira descreveu um cenário de falta de diálogo por parte do Executivo e de submissão do Legislativo.
Segundo o parlamentar, o prefeito demonstra recusa em estabelecer uma relação com os servidores públicos. "Nós temos um gestor que ele, definitivamente, já comprovou que não quer ter relacionamento com o servidor público", afirmou Siqueira, acrescentando que várias tentativas de diálogo por parte dos servidores foram ignoradas.
Os comentários ocorrem diante do anúncio feito pelo prefeito de mudança no cálculo do pagamento da insalubridade dos servidores da saúde de Cuiabá. Se antes o percentual era calculado sobre o salário bruto, agora a gestão fará o repasse em cima do salário-base. Essa teria sido uma notificação recomendatória feita pelo Ministério Público ainda na intervenção da saúde da capital.
O anúncio levou profissionais da saúde até a Câmara de Cuiabá nesta terça-feira. A categoria da enfermagem não descarta paralisação, visto que não consegue dialogar com o prefeito.
Siqueira caracterizou o estilo de gestão de Abílio como personalista e focado em autopromoção. "Eu tenho dito na Câmara que ele é o rei com 'r' minúsculo e que as vontades dele sejam feitas", declarou. O vereador criticou o que chamou de busca por "likes e visualizações" e atitudes irresponsáveis, como "subir em cima da mesa do sétimo andar, faz selfie", em detrimento das responsabilidades do cargo.
As críticas se estenderam de forma contundente à Câmara Municipal, que, na visão de Siqueira, tornou-se um apêndice do Executivo. "Nós temos uma Câmara subserviente à vontade do rei", disse ele. O vereador denunciou que os projetos de lei são enviados em regime de urgência, minutos antes das sessões, e aprovados sem qualquer tipo de discussão aprofundada.
Ele relatou que a oposição é constantemente cerceada pela presidência da Casa, comandada pela vereadora Paula Calil (PL). "A presidente não deixa discutir a matéria, porque se dentro da matéria nós falarmos algo criticando a gestão, já está fora do objeto da discussão", explicou. Para Siqueira, essa conduta transforma o parlamento na "casa dos horrores", marcada por tumultos.
Um exemplo citado foi a recente aprovação da fusão das Secretarias de Assuntos Estratégicos e de Planejamento e Orçamento, com a criação da Secretaria do Trabalho e Emprego. Siqueira questionou a falta de estudos de impacto. "Cadê o princípio de economicidade? Não tem. Quais são os impactos financeiros? Não tem", pontuou, classificando a mudança como um "cabide de emprego". O vereador se refere a criação da pasta do Trabalho, que tem como secretário William Leite, que foi exonerado do cargo de chefe de gabinete do prefeito Abílio e voltou à prefeitura como secretário nesta nova estrutura.
Apesar da ausência de dados e da falta de debate, o projeto foi aprovado. "A maciça base do prefeito Abílio votou, aprovou e patrolou tudo", lamentou o vereador.
Essa sessão foi palco de uma grande confusão, que culminou em uma declaração polêmica da vereadora Baixinha Giraldelli (Solidariedade). Segundo Siqueira, a discussão foi inflamada por um discurso do vereador Tenente-Coronel Dias (Cidadania), que confrontou parlamentares da antiga base do ex-prefeito Emanuel Pinheiro que hoje apoiam Abílio.
Em meio ao bate-boca, a vereadora Baixinha declarou que o local "virou uma putaria". Sobre o episódio, Siqueira foi taxativo: "Nós somos responsáveis e responsabilizados pelo que nós falamos". Ele reconheceu o erro da colega, mas informou que a Mesa Diretora já a advertiu, descartando a possibilidade de a parlamentar ser acionada na Comissão de Ética da Casa por quebra de decoro parlamentar.
Contudo, ele deixou um aviso. "Entendo que a Baixinha errou, realmente, mas a Mesa Diretora já conversou com ela, e acredito que não vai acontecer novamente. Se acontecer, eu acredito que deve ser, sim, aplicada uma pena para que isso não possa ser algo recorrente na Câmara", ponderou.
O parlamentar também abordou a situação dos profissionais da saúde, que relataram "medo" por não serem ouvidos pelo prefeito e cogitam uma greve. Siqueira destacou que a falta de diálogo é o principal entrave para a resolução dos problemas da categoria.
Questionado sobre a possibilidade de usar a falta de respostas do prefeito aos requerimentos dos vereadores — o que configura crime de responsabilidade — como base para um processo de impeachment, Siqueira afirmou que a oposição é silenciada, tornando a ação difícil. "Toda vez que a oposição tem direito de fala, e se a fala é direcionada a uma crítica ao Executivo, vira quebra-pau, desliga o microfone", relatou.
Por fim, Jeferson Siqueira afirmou que a oposição real na Câmara hoje se resume a poucos nomes. "Vai ter sempre dois da oposição votando contra. O Jefferson e o Dídimo Vovô", disse, criticando colegas que se posicionam como independentes na imprensa, mas votam com o governo. "Falam muito bem, mas continuam tendo atitudes híbridas naquela casa".