OPINIÃO Terça-feira, 20 de Setembro de 2022, 09:22 - A | A

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GIOVANA FORTUNATO

Gravidez tardia, o assunto do momento

Giovana Fortunato

Ginecologista e obstetra, especialista em endometriose e infertilidade, é professora no HUJM e integra a equipe da Clínica Eladium

 

Os novos hábitos e estilos de vida têm influenciado também na formação do modo que as famílias têm se criado. É cada vez mais comum ver casais adiando o sonho de ter filhos em prol de outros projetos pessoais, já que as prioridades de hoje são outras. Consequentemente, a idade para engravidar tem aumentado cada vez mais, assunto mais comentado na internet por conta do anúncio da gravidez da atriz Cláudia Raia, aos 55 anos.

Segundo médicos da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), os principais motivos para o adiamento da gestação apontados pelas mulheres que chegam em seus consultórios são a escolha do parceiro certo para constituir uma família, busca por estabilidade financeira e maturidade para conceber um filho, além de novos relacionamentos. 

Felizmente, a medicina reprodutiva está avançando para ajudar nessas situações. Atualmente, por exemplo, existem métodos de congelamento de gametas e os tratamentos em reprodução assistida, que favorecem, especialmente, casais com idade acima da indicada para uma gestação. 

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) mostram que, entre 2010 e 2020, a quantidade de  mulheres que deram à luz após os 50 anos cresceu 55%. O adiamento da maternidade é uma tendência incontestável. Muitas mulheres com esse desejo planejam engravidar por volta dos 40 anos de idade — prova disso é o aumento no número de partos nesta faixa etária, que cresceu 33% em uma década (entre 2009 e 2019). 

Outras adiam ainda mais esse sonho. No entanto, mesmo que, com o suporte oferecido pela medicina reprodutiva, a possibilidade de engravidar após os 50 anos seja real, as chances são pequenas e os riscos bem maiores do que para as grávidas mais jovens.

Após os 50 anos, as chances de ocorrer uma gravidez espontânea são raríssimas. Em alguns casos, porém, a medicina reprodutiva pode ajudar — mas ainda assim, as taxas de sucesso são baixas.

Para fazer um processo de reprodução assistida nessa idade, a mulher precisa ter o aval de seus médicos. Eles têm que atestar que ela possui uma saúde perfeita, principalmente, em relação a parte obstétrica. 

Caso consiga fazer o tratamento e engravidar, a paciente deve ser encaminhada para um pré-natal de alto risco. “Isso é essencial para que ela possa ter uma gravidez saudável e para que seu filho também nasça com saúde”

Existem inúmeros riscos associados à gravidez acima dos 50 anos. Os principais são: hipertensão arterial; diabetes mellitus; parto prematuro; abortamento; cromossomopatias, anormalidades da placenta, gestação ectópica (fora do útero) e pré-eclâmpsia.

Quando se deseja engravidar naturalmente, a idade ideal é de 20 a 29 anos.  Porém, até os 35 anos a maioria das mulheres consegue engravidar sem problemas.

A partir daí, a capacidade reprodutiva feminina diminui gradativamente, com o declínio acentuado da reserva ovariana. 

Na faixa dos 50 anos, a probabilidade de existirem óvulos capazes de serem fecundados naturalmente é quase nula.

Com o avanço nos estudos, diversos tratamentos foram desenvolvidos e já é possível conseguir uma gestação saudável e sem riscos até os 50 anos. A fertilização in vitro, a inseminação artificial e o tratamento hormonal são alguns deles. 

Uma boa técnica, também, é optar pelo congelamento de óvulos e espermatozóides, no período fértil masculino e feminino para engravidar posteriormente. Dessa maneira, eles permanecerão saudáveis por muito mais tempo, aumentando o sucesso da gravidez acontecer. 

De acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM), as técnicas de reprodução assistida podem ser realizadas, somente, até os 50 anos. Isso, contanto que exista real possibilidade de sucesso e baixa probabilidade de riscos graves, tanto para a candidata ao procedimento como para seu(s) futuro(s) bebê(s).

Exceções, por sua vez, precisam ser baseadas em critérios técnicos e científicos, fundamentados pela equipe responsável. Se consideradas plausíveis e se houver consentimento do paciente para com todos os riscos envolvidos, pode-se indicar o tratamento acima desse limite. Assim, esta resolução traz de volta o equilíbrio e o bom senso de que cada pessoa é um ser ímpar e os tratamentos devem ser individualizados e customizados, e não generalizados.

A boa notícia é que, com os avanços na área da medicina reprodutiva, pode-se viabilizar uma gestação saudável até essa idade. Isso, no caso das mulheres que fizeram o congelamento de óvulos. 

Assim, é possível engravidar após os 50 anos — no entanto, não se trata de algo simples, garantido ou, muito menos, acessível à maioria das pacientes. A gravidez nessa faixa etária é, sim, uma realidade. Mas ainda que ela faça parte da modernidade da mulher, é preciso analisar cada caso individualmente.



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