Hoje, muito se fala sobre os efeitos das mudanças climáticas em rios, florestas e cidades, mas pouco se comenta sobre algo que está sempre conosco: a nossa pele. Como dermatologista, vejo todos os dias como as mudanças no ambiente estão refletindo de forma clara e silenciosa em cada paciente que chega ao meu consultório.
O calor mais intenso não é só um número nas notícias. Ele significa queimaduras solares mais fortes, manchas que aparecem cada vez mais cedo e um aumento nos casos de câncer de pele. O sol, que sempre foi sinônimo de vida, tem se tornado também uma ameaça, e por isso precisamos repensar a forma como nos protegemos.
A poluição do ar é outro problema constante. As partículas que respiramos não afetam só nossos pulmões, elas também se acumulam na pele, causam inflamações, aceleram o envelhecimento e agravam doenças como a dermatite. Tenho observado pessoas jovens com rugas antes do tempo e pacientes que enfrentam crises alérgicas cada vez mais frequentes. Isso não é apenas sobre aparência, mas sobre cuidado com a saúde.
As chuvas fortes e as enchentes, que agora são mais comuns, trazem outro desafio: as infecções na pele. Fungos e bactérias se espalham facilmente nessas situações, atingindo principalmente quem vive em condições frágeis, sem saneamento básico adequado. É aí que a dermatologia se conecta com algo maior, porque falar da pele é também falar de dignidade e qualidade de vida.
O clima mudou, e nossa pele mudou junto. Ela é um reflexo do mundo em que vivemos. Cuidar da pele vai muito além de passar filtro solar ou usar cremes; é um compromisso de todos nós, pois a saúde depende não só do que fazemos em consultórios, mas das escolhas que fazemos para o meio ambiente.
A maior lição que a dermatologia me traz é que somos parte do ambiente que nos cerca. O que acontece fora está diretamente ligado ao que acontece dentro de nós. Talvez seja hora de começarmos a enxergar cada mancha, alergia ou ferida não só como um problema individual, mas como um alerta de que nosso planeta também precisa de cuidado.
