Imagine a cena: Zambelli, hacker condenada a 10 anos por invadir o CNJ, exerce seu mandato de uma cela italiana, graças a 227 votos salvadores – insuficientes para cassação, mas suficientes para desafiar o bom senso. Motta, com seu sorriso de "equilíbrio institucional", ignorou a incompatibilidade gritante: como debater leis de trás das grades? A votação, pautada na calada da noite, foi um deboche à Constituição, que exige perda automática de mandato em condenações criminais. Moraes, do STF, interveio com cassação imediata e posse do suplente em 48 horas, expondo o vexame de uma Câmara que brinca de soberania contra o Judiciário.
E Braga? Sem gravidade para cassação, a punição veio rápida, sem debate: seis meses de silenciamento para quem ousa criticar o Centrão. Motta, temeroso de uma votação perdida contra a esquerda, optou pela meia-medida, revelando o cálculo cínico: punir vozes incômodas sem arriscar a base extremista. É o paradoxo democrático: palavras custam caro à oposição, mas crimes graves passam batido para os "patriotas".
O ápice do cinismo foi o PL da Dosimetria, aprovado por 320 a 120 em regime de urgência, sem pudor. Sob o manto de "justiça penal equilibrada", o texto reduz penas para crimes contra a democracia, considerando "contexto político" como atenuante – uma piscadela para os 1.390 condenados do 8 de janeiro, cujas sentenças de até 17 anos viram progressão de regime em meses. Motta, maestro dessa farsa, atropelou obstruções da oposição, transformando o Parlamento em laboratório de anistia disfarçada. Primeiro passo para uma irrestrita? Claro: legitimar o golpe como "protesto", enquanto o povo engole a narrativa de "vítimas políticas".
Essa seletividade não é acidente; é essência de um Congresso capturado por teses antidemocráticas. Motta e o Centrão – PP, Republicanos, União Brasil – usam emendas parlamentares como chantagem explícita: R$ 40 bilhões anuais, desviados do Executivo, viram moedas para aprovar retrocessos. Superfaturamentos e desvios, investigados pela PF, beneficiam bolsos e carreiras, usurpando a discricionariedade pública. Ironia suprema: parlamentares que gritam contra "corrupção petista" constroem impérios com verbas secretas, envergonhando a ética republicana.
Falsas narrativas de "harmonia entre poderes" mascaram o autoritarismo: punir Braga por ousadia verbal e seu temperamento explosivo, mas blindar Zambelli como "mártir". Motta, com sua presidência "moderada", na verdade acelera a degeneração, onde a honestidade intelectual é luxo para tolos. Princípios democráticos – igualdade legal, accountability, separação de poderes – viram retórica vazia, enquanto o povo reflete: quem representa quem nesse circo?
Essa Câmara despreparada clama por escrutínio: tolerar impunidade para delinquentes de direita, enquanto sufoca a esquerda, é conivência com o retrocesso. O Brasil, berço de esperanças constitucionais, não merece esse vexame. Acorde: a democracia não se regenera sozinha; exige indignação coletiva para restaurar a decência perdida.






